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Yan Inácio
Publicado em 8 de outubro de 2025 às 05:00
Em dois anos, a Bahia ganhou oito novas universidades autorizadas a oferecer cursos de medicina, somando 568 vagas em graduações recém-criadas e já existentes. As informações são de um levantamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com base em dados do Ministério da Educação (MEC). >
No Nordeste, o estado lidera a abertura de cursos na área entre 2024 e 2025, empatado com o Pará e à frente de Maranhão e Ceará, que tiveram sete autorizações cada. No Brasil, a Bahia aparece em segundo lugar na criação de vagas, com total inferior apenas ao Ceará, que registrou 636 ao todo no mesmo período.>
Entre as unidades autorizadas mais recentemente, no Centro Universitário de Ciências e Empreendedorismo (Unifacemp), em Santo Antônio de Jesus, a mensalidade do curso de medicina é de R$ 10.450. Já o Centro Universitário de Excelência de Vitória da Conquista (Unex) cobra R$ 11.655 por mês. Novas graduações também foram abertas em Luís Eduardo Magalhães, Camaçari, Feira de Santana e Jequié. A reportagem não conseguiu contato com as instituições para confirmar os valores cobrados.>
Em Salvador, nas faculdades já estabelecidas, os valores variam em relação aos cursos mais novos. Na Unifacs, o custo mensal chega a R$ 12.914, enquanto na Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), no campus de Feira de Santana, a mensalidade é de R$ 12.801,79. A Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) oferece mensalidades a R$ 7.660, e a Unime, R$ 9.899 já com desconto de pontualidade.>
Para Carlos Joel, presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras dos Estabelecimentos de Ensino Superior da Bahia (Semesb), a maior oferta de vagas ajuda a preencher a lacuna de profissionais no interior do estado. “Hoje, nós temos concentração nos grandes centros, principalmente nas capitais, e o médico que faz a formação na capital, raramente volta para o interior”, explica.>
Segundo ele, é necessária uma “interiorização” do ensino de medicina no estado, pois em algumas regiões “ainda há uma lacuna muito grande de profissionais”, especialmente de médicos de família voltados a todas as faixas etárias. “Nosso entendimento como sindicato, como instituição de ensino é que ainda é necessário que novas vagas aconteçam e que novos cursos sejam autorizados”, diz.>
De acordo com Otávio Marambaia, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), há uma “falácia” de que os médicos não querem trabalhar no interior. Segundo o presidente do Cremeb, cerca de 50% dos médicos da Bahia exercem a função em regiões interioranas. “Isso não se deve à abertura de escolas, mas, sim, a que algumas regiões e cidades estão oferecendo condições adequadas de trabalho. Os médicos vão para onde existem condições adequadas de trabalho”, conta.>
Marambaia vê com preocupação a autorização de novas graduações na área no interior. “São cursos ofertados com estrutura pífia, déficit de professores e sem nenhuma condição de campos de estágio. Estão fadados a produzir médicos com insuficiência técnica, ética e pedagógica, com insuficiente treinamento, pois não terão acesso adequado aos pacientes durante a sua formação”, defende.>
Já para o presidente do Semesb, “os mesmos professores que vão estar na instituição estatal são os mesmos que vão estar na privada, com mestre, doutor, e isso precisa ser requisito legal para o curso ser autorizado, funcionar e ser reconhecido”, diz. Sobre defasagem da infraestrutura hospitalar para a prática de novos médicos em municípios do interior, Joel argumenta que há uma carência na integração do sistema de educação e saúde.>
“O Estado, como propulsor e controlador desse processo, precisa criar mecanismos que possibilitem a toda instituição de saúde estar integrada ao sistema de ensino, buscando o benefício de formação, de educação, que é o que a gente precisa para o país. É preciso democratizar esses ambientes e tornar os hospitais que já existem, tanto privados como estatais, como ambientes de formação [para novos médicos]”, argumenta.>