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Carol Neves
Publicado em 26 de dezembro de 2025 às 06:01
A Bahia fechou o ano convivendo com um dos cenários de violência mais graves do país. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, que traz números referentes à violência letal de 2024, a Bahia registrou a 2ª maior taxa de Mortes Violentas Intencionais (MVI) do Brasil, com 40,6 mortes por 100 mil habitantes, ficando atrás apenas do Amapá no ranking nacional. Os dados mostram também que cinco cidades baianas estão entre as 10 mais violentas do país, com Jequié, Juazeiro, Camaçari, Simões Filho e Feira de Santana figurando nas piores posições, conforme o mesmo anuário.>
Outro ponto alarmante revelado pelo levantamento foi a alta letalidade policial no estado: a Bahia liderou o Brasil no número de homicídios causados por agentes de segurança em 2024, com 1.556 mortes por intervenção policial, apesar de uma redução percentual em relação ao ano anterior. Levantamento do Fogo Cruzado contabilizou até novembro 500 mortos em ações e operações policias em 2025 em Salvador e na Região Metropolitana. >
Relembre alguns dos crimes mais impactantes que aconteceram no estado este ano: >
Corpo de Terezinha Pires dos Santos tinha bilhete ao lado
Terezinha Pires dos Santos, de 43 anos, foi assassinada com um tiro no pescoço dentro de sua casa em Santa Maria da Vitória, no Oeste da Bahia, no dia 4 de fevereiro, em um crime que chocou a comunidade local. O corpo da vítima foi encontrado seminu e com uma marca de disparo fatal, e ao lado dele foi deixado um bilhete com uma mensagem ameaçadora atribuída ao principal suspeito, seu companheiro, no qual ele dizia “vai trair o capeta, o satanás e o demônio, sua desgraçada”. >
A Polícia Civil da Bahia tratou o caso como feminicídio, com a investigação apontando o companheiro de Terezinha como o principal autor do crime. Ele foi identificado como Cláudio Pereira dos Anjos, de 47 anos. Além do bilhete, foram apreendidos a motocicleta do suspeito e dois celulares com informações potencialmente relevantes para as apurações. >
Dias depois, em 10 de fevereiro, o corpo de Cláudio foi encontrado em estado de decomposição na região da Ponte do Domingão, em Santa Maria da Vitória, com indícios de que ele tirou a própria vida após o crime, conforme sugerido nas mensagens deixadas ao lado da vítima. A morte foi registrada como "a esclarecer". >
Uma das operações policiais de maior repercussão em 2025 ocorreu em 4 de março, quando uma ação da Polícia Militar da Bahia no bairro de Fazenda Coutos, no Subúrbio de Salvador, resultou na morte de 12 suspeitos de integrar uma facção criminosa após intensos confrontos com agentes de segurança. A ação foi desencadeada após relatos de invasão e disputa entre grupos armados na região, palco de escalada de violência no início do ano. >
As vítimas, em sua maioria homens jovens entre 17 e 27 anos, foram identificadas pela perícia do Departamento de Polícia Técnica, que também confirmou a apreensão de armas e drogas durante a operação. Os mortos foram identificados como Davi Costa dos Anjos, 17 anos; Paulo Ricardo Santos Pereira, 17 anos; João Cledison Santos Souza, 18 anos; Paulo Phelipe Rodrigues dos Santos, 18 anos; Félix de Oliveira Rodrigues, 19 anos; Uendel Vitor Rodrigues dos Reis, 20 anos; Jackson Vitor Araújo dos Santos, 20 anos; Wendel Henrique Nunes dos Santos, 20 anos; Samuel da Luz Nascimento de Sousa, 24 anos; Francisco Ariel Freire Santos, 27 anos; Douglas Campos da Silva Batista, 27 anos; e Leidson Maxwel da Costa Silva, 27 anos.>
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP‑BA) defendeu a ação como resposta necessária a agressões e presença de criminosos fortemente armados que, segundo autoridades, mantinham moradores sob ameaça e em cárcere privado em algumas áreas de Fazenda Coutos. O episódio gerou forte reação pública e políticas: o governador Jerônimo Rodrigues solicitou investigação da Polícia Civil para apurar um “possível exagero” no uso de força pela PM; o Ministério Público do Estado também passou a acompanhar o caso e órgãos de direitos humanos destacaram a necessidade de repensar a política de segurança diante da letalidade policial no estado, que representa uma das mais altas do país.>
Sequestro do presidente do PV na Bahia
Em 14 de março de 2025, Ivanilson Gomes, presidente estadual do Partido Verde (PV), foi sequestrado no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Homens armados invadiram a sede do partido em busca de R$ 500 mil em espécie, e o mantiveram em cativeiro, exigindo resgate. A esposa recebeu mensagens e imagens que mostravam o dirigente sob poder dos sequestradores, aumentando a tensão em torno do caso.>
As investigações revelaram que o secretário estadual da Juventude do PV, Gabriel Luis, aliado de Ivanilson, participou do crime, supostamente “sob pressão” de traficantes ligados ao Comando Vermelho (CV) no bairro do Nordeste de Amaralina.>
Ivanilson foi libertado após um dia em poder dos sequestradores. Três suspeitos foram presos, um na Ilha de Itaparica e dois no bairro da Ribeira, em Salvador. Em setembro, outro suspeito de participar do crime foi preso em Alagoinhas pela Delegacia Antissequestro.>
Dentista morreu em tiroteio na Avenida Paralela
Outro caso que gerou comoção na Bahia ocorreu em 25 de março, quando a cirurgiã-dentista Larissa Azevedo Pinheiro, de 28 anos, foi atingida por uma bala perdida durante uma troca de tiros entre policiais militares e criminosos na Avenida Paralela, uma das vias mais movimentadas de Salvador. >
Segundo a Polícia Militar, o confronto começou após os agentes identificarem um veículo com placa clonada e iniciarem perseguição. Durante a ação, um dos suspeitos foi baleado. Larissa estava na garupa de um mototaxista a caminho do trabalho quando foi atingida por um disparo que perfurou seu pulmão, sendo socorrida em estado grave ao Hospital Geral Roberto Santos, onde passou por cirurgia de emergência e ficou internada na UTI. Após uma semana, ela não resistiu aos ferimentos e morrue.>
Dias depois, a polícia prendeu Emerson Conceição dos Santos, apontado como o terceiro envolvido no confronto, no município de Buerarema, no sul da Bahia. Outros dois homens que estavam com ele também foram detidos, e foram apreendidos arma de fogo e celulares. Um quarto suspeito conseguiu fugir.>
Ana Luíza Silva dos Santos foi morta perto de casa
A morte da jovem Ana Luíza Silva dos Santos, de 19 anos, no bairro da Engomadeira, em Salvador, provocou revolta popular e protestos. Ela foi baleada na tarde de 13 de abril de 2025 durante uma operação da 23ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) e levada ao Hospital Geral Roberto Santos, mas não resistiu aos ferimentos. A jovem esta perto de casa quando foi atingida. >
Segundo as polícias Civil e Militar, os agentes realizavam rondas na Rua Nanan quando teriam sido recebidos a tiros por homens armados. Durante a perseguição, os suspeitos fugiram por becos, e Ana Luíza foi encontrada caída e ferida. O caso gerou bloqueios de vias, suspensão da circulação de ônibus e uso de gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes na região.>
Investigações do Ministério Público da Bahia (MP-BA) indicaram que a jovem foi atingida por um tiro nas costas enquanto policiais atiravam contra um homem desarmado. Três agentes do Pelotão de Emprego Tático Operacional (PETO) da 23ª CIPM foram denunciados por homicídio qualificado, crime que, segundo o MP, ocorreu por motivo torpe, com recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O órgão solicitou a prisão preventiva dos acusados em outubro.>
Apóstola Carine Carvalho
A apóstola Carine Carvalho, de 47 anos, foi baleada na cabeça durante um ataque armado no bairro da Engomadeira, em Salvador, enquanto estava dentro de um carro com o marido e os filhos após participar de um evento gospel. O crime aconteceu em 5 de julho e o disparo atingiu a nuca e saiu pela testa, deixando‑a em estado gravíssimo e mobilizando familiares, fiéis e a comunidade religiosa em pedidos de oração pela sua recuperação. >
O veículo foi alvejado por homens armados na Rua Direta da Engomadeira, apesar de o pastor Manoel Carvalho - marido de Carine e fundador da Igreja Batista Casa de Oração - ter mostrado uma Bíblia aos criminosos ao entrarem no bairro. O ataque ocorreu em meio a uma situação de tensão entre facções criminosas na região, o que motivou reforço de policiamento pela Polícia Militar, mas nenhum suspeito foi preso imediatamente. >
Carine Carvalho passou quase cinco meses internada em Salvador, submetida a cirurgia e cuidados intensivos, e recebeu alta hospitalar em 1º de dezembro, ainda sob tratamento domiciliar e com a família pedindo apoio para sua recuperação. >
Gilson Jardas de Jesus Santos, de 18 anos, e Luan Henrique Rocha de Souza, de 20, foram mortos a tiros durante uma ação policial em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, no dia 8 de julho. A Polícia Militar da Bahia afirmou que os dois teriam reagido a uma abordagem e atirado contra os agentes, que teriam revidado em troca de tiros, resultando nas mortes. A ocorrência foi registrada pela Polícia Civil como morte por intervenção de agente de segurança pública. >
Familiares e moradores, contudo, contestaram a versão oficial da PM, alegando que os jovens, que eram amigos de infância e trabalhadores, estavam sentados em frente à casa de Gilson quando a viatura passou, fez o retorno e os abordou, e que em seguida foram ouvidos dois disparos - sem evidências claras de confronto. Testemunhas relataram que os corpos foram colocados no porta‑malas da viatura pelos policiais, e parentes negaram que os jovens estivessem armados no momento da abordagem. >
O caso gerou forte comoção e questionamentos sobre a atuação policial em Camaçari, com o Ministério Público do Estado da Bahia solicitando novas diligências e a Corregedoria analisando a conduta dos agentes envolvidos, que chegaram a ser afastados das ruas. Os dois amigos foram sepultados em 9 de julho de 2025, e familiares continuam cobrando respostas sobre as circunstâncias das mortes.>
Mulheres assassinadas em praia de ilhéus
Um dos crimes mais chocantes de 2025 ocorreu em Ilhéus, no sul do estado, em agosto, quando Alexandra Oliveira Suzart, de 45 anos, Maria Helena do Nascimento Bastos, de 41, e Mariana Bastos da Silva, de 20, foram encontradas mortas em uma área de mata na Praia dos Milionários. Inicialmente tratadas como desaparecidas, as vítimas - duas professoras e a filha de uma delas - haviam saído juntas para passear no dia 15 de agosto.>
Os corpos foram localizados um dia depois em uma área deserta de praia próximo ao local do desaparecimento. Em 24 de agosto, Thierry Lima da Silva, de 23 anos, foi preso no bairro do Pontal, acusado de tráfico de drogas. Durante depoimento, ele confessou participação em quatro homicídios, incluindo o triplo assassinato.>
Segundo o investigado, ele atacou as vítimas com uma faca e enterrou a arma próxima ao local dos crimes. No entanto, peritos não encontraram material genético dele nas vítimas, e o depoimento ele apresentou contradições. A Polícia Civil da Bahia solicitou, então, nova prorrogação na investigação para tentar esclarecer melhor o crime.>
Mulher foi morta com golpes de marreta
Em 19 de agosto, Laina Santana Costa Guedes, de 37 anos, foi brutalmente assassinada a golpes de marreta pelo companheiro em um apartamento no bairro do Caji, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. O crime aconteceu na presença das duas filhas dela, de 5 e 12 anos, que presenciaram a violência na varanda do imóvel. >
Segundo testemunhas e imagens registradas por vizinhos, o suspeito golpeou Laina repetidas vezes, mesmo após ela se arrastar até a varanda pedindo por socorro, com moradores relatando o horror da cena. “Ele pegou o martelo para matar mesmo”, disse um vizinho que filmou parte do ataque. A filha mais velha foi agredida pelo pai ao tentar intervir e precisou de atendimento médico.>
Ramon tentou fugir pulando pela janela, sofreu ferimentos e foi contido por vizinhos até a chegada da Polícia Militar, que o autuou em flagrante por feminicídio. O caso chocou a sociedade baiana e reforçou o debate sobre violência doméstica extrema e feminicídio no estado.>
As amigas Tamara Trindade da Silva, de 28 anos, e Mayane Coelho Brandão, de 20, desapareceram em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador, depois de saírem juntas para beber em um bar no bairro Cia II, em 25 de setembro. As amigas, que eram próximas há anos, foram vistas pela última vez por volta da meia‑noite, em uma motocicleta, antes de sumirem sem deixar pistas. >
Seis dias depois, na manhã de 2 de outubro, os corpos das duas foram encontrados por bombeiros voluntários em uma área de mata na região de Fazenda Nova, após o principal suspeito se apresentar à polícia e indicar o local onde havia deixado os cadáveres. A investigação apontou que elas foram mortas a golpes de faca e machado, e que Tamara teria sido atraída sob pretexto de um encontro para cobrar uma suposta dívida, enquanto Mayane foi morta por tentar impedir que o crime fosse denunciado. >
O principal autor do crime, Jonas Souza Santos, de 20 anos, confessou os homicídios e está preso, e um segundo suspeito, de 21 anos, foi capturado posteriormente por sua participação na execução e ocultação dos corpos. >
Tâmara Ferreira foi encontrada nesta sexta (7)
Em 6 de novembro, a nutricionista Tâmara Ferreira, de 42 anos, desapareceu em Salvador após sair para um evento, sendo vista pela última vez ao deixar o edifício Mundo Plaza, no bairro Caminho das Árvores. O sequestro gerou grande repercussão na cidade e mobilizou equipes da Polícia Civil.>
Tâmara foi localizada viva na manhã seguinte, 7 de novembro, apresentando hematomas e lesões decorrentes das agressões sofridas durante o período em que permaneceu em cativeiro. Em depoimento, ela relatou ter sido abordada ao sair do carro na Praça Ana Lúcia Magalhães, levada a um veículo e conduzida a diferentes locais, incluindo a parte de trás do Shopping Itaigara e uma área de mata, onde passou a noite sob ameaças constantes e sofreu agressões físicas e psicológicas.>
A Polícia Civil iniciou uma operação que resultou na prisão inicial de dois homens, de 21 e 33 anos, e na captura de outros quatro suspeitos posteriormente, totalizando seis detidos. Durante as buscas, houve confrontos em Salvador com integrantes da quadrilha, resultando na morte de quatro suspeitos e ferimentos em outros três. Foram apreendidas motocicletas usadas no crime.>
Rhianna Alves foi morta por motorista de aplicativo
Em 6 de dezembro, Rhianna Alves, uma jovem trans de 18 anos, foi morta por estrangulamento com um golpe conhecido como “mata‑leão” pelo motorista de um aplicativo em Luís Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia, durante uma corrida. O suspeito levou o corpo até a delegacia local, confessou o homicídio e, inicialmente, foi liberado pela polícia, fato que gerou ampla indignação pública e debate sobre a condução do caso. >
A Polícia Civil da Bahia passou a investigar o crime como feminicídio, e nos dias seguintes o principal suspeito teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, após denúncia do Ministério Público do Estado. Identificado como Sérgio Henrique Lima dos Santos, de 19 anos, ele alegou que agiu para se defender. O suspeito afirmou que havia contratado Rhianna para um encontro sexual durante a corrida, e que, no trajeto de volta para deixá‑la em casa, os dois se desentenderam após ela supostamente ameaçar expor o encontro e denunciá‑lo por estupro. O motorista disse que, em determinado momento durante a discussão, Rhianna teria feito um movimento indicando que pegaria algo dentro da bolsa, e por isso ele reagiu aplicando um golpe “mata‑leão” que a matou. >
A repercussão do caso ultrapassou o ambiente local, chamando atenção para a violência e a vulnerabilidade enfrentadas por pessoas trans no país. A deputada federal Érika Hilton (PSOL) criticou publicamente a liberação inicial do suspeito e denunciou ao Ministério Público da Bahia (MP‑BA) tanto o autor do crime quanto o delegado que autorizou a soltura, classificando a situação como possível transfobia institucionalizada e pedindo explicações à Polícia Civil e à Secretaria de Segurança Pública do estado.>
Ordem para matar técnicos de internet veio da cadeia
Em 16 de dezembro, três técnicos de internet - Ricardo Antônio da Silva Souza, 44 anos, Jackson Santos Macedo, 41, e Patrick Vinícius dos Santos Horta, 28 - foram assassinados após tortura no bairro do Alto do Cabrito, em Salvador, causando comoção na população.>
A suspeita inicial foi de que os trabalhadores foram mortos devido à cobrança não paga de um "pedágio" para atuar em área de uma facção, mas a polícia concluiu que na verdade integrantes do Bonde do Maluco (BDM) desconfiaram que o trio estava instalando videomonitoramento para bandidos rivais. Os três foram sequestrados, torturados e mortos e a ordem teria partido de dentro da cadeia. >
A polícia acredita que 11 suspeitos participaram do crime, entre mandantes, olheiros e executores. Entre os líderes apontados estão George Ferreira Santos (“Capanga”), Antônio Dias de Jesus (“Colorido”) e Venício Bacelar Costa (“Fofão”), que estão presos no Complexo da Mata Escura, enquanto Édson Silva de Santana (“Jegue”) está foragido; entre os executores e auxiliares, Jonatas Amorim Nascimento (“Jhnon”), Kauan Pires da Silva (“Cabeça de TV”), Alexandre Souza Barbosa (“Esquilo”) e Joeferson Gomes dos Santos (“Geu Banguela”) estão presos, Adriel Santos da Silva (“Nego D’Água”) e Igor Tarso Canuto da Silva (“Piloto”) seguem foragidos, e Jeferson Caíque Nunes dos Santos (“Badalo”) morreu após confronto com a polícia.
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