Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

'Vivi o que foi possível com minha filha', diz mãe que perdeu bebê aos oito meses de gestação

Flávia Carvalho se tornou ativista e idealizadora da “Semana Helena” na Bahia; maio é o mês da sensibilização da perda gestacional

  • Foto do(a) author(a) Esther Morais
  • Esther Morais

Publicado em 19 de maio de 2025 às 06:00

Mãe relembra desafios durante gestacional Crédito: Acervo pessoal

Quando chegou ao consultório para a última consulta antes do parto, Flávia Carvalho já tinha tudo pronto para a chegada da filha: o parto natural agendado, o plano de nascimento cuidadosamente construído, os registros preparados com carinho. Mas o que ouviu da médica naquele dia transformou tudo em luto — o coração de Helena, sua primeira bebê, já não batia mais. Flávia estava com 37 semanas de gestação, equivalente a cerca de oito meses.

“Vivi tudo que foi possível com minha filha. Tinha um plano de parto. O plano A era que seria tudo perfeito, o B teria algumas dificuldades e o C seria ela não resistir e falecer durante o parto ou gestação. Em 7 de janeiro de 2021, ela chegou ao mundo sem vida, mas com muito amor, em meio a muita oração e muita fé”, relembra.

A dor da perda gestacional, embora silenciosa para muitos, transformou a vida de Flávia. “É um puerpério de colo vazio. Você sente os efeitos no corpo, o leite desce, o útero contrai, mas não há um bebê nos braços. E, ainda assim, você precisa se levantar”, relata.

Para Flávia, o medo de perder a filha já era uma presença constante durante a gestação. Helena foi diagnosticada com síndrome de Edwards — uma condição genética rara e grave — ainda no primeiro trimestre, após uma série de exames que revelaram cardiopatia e outras complicações. “Desde a 12ª semana sabíamos que nossa filha enfrentaria muitas limitações. E, apesar de tudo, decidimos viver cada momento com ela.”

É por isso que maio — mês dedicado à conscientização sobre a perda gestacional, neonatal e infantil — se tornou um marco importante em sua trajetória. Na esteira disso, a ativista idealizou a "Semana Helena", uma iniciativa que deu visibilidade ao tema na Bahia e culminou na criação de uma lei estadual que institui oficialmente o dia 15 de outubro como data de sensibilização.

Desde o diagnóstico, Flávia buscou apoio psicológico especializado em luto perinatal. “A terapia foi essencial para que eu conseguisse criar vínculo com minha filha. Mesmo com o medo e a dor, aprendi a amá-la no tempo que tivemos”, afirma. As sessões ajudaram a preparar emocionalmente o casal para o parto e para a despedida, além de fortalecerem Flávia na reconstrução de sua identidade como mãe.

Luta pela licença maternidade

Apesar de ter passado por um parto completo, Flávia não teve o direito à licença maternidade reconhecido. Servidora pública, recebeu apenas 30 dias de afastamento. “Foi como se dissessem que eu não era mãe. Além da dor, enfrentei uma negação institucional do meu luto. Isso também me motivou a lutar por mudanças", reclama. 

Tempos depois, Flávia voltou a engravidar. Maria Flor, sua “bebê arco-íris”, trouxe esperança e renovou sonhos. A gestação evoluía bem, mas, com 20 semanas, ela sofreu um sangramento e também perdeu a filha. “O chão se abriu novamente. Mesmo tendo vivido isso antes, a dor não foi menor. Cada filho é único, cada perda é única”.

Mias uma vez, Flávia pôde contar com uma rede de apoio sólida: amigos, familiares e colegas que se mobilizaram para acolher, ouvir e estar presentes. “Foi isso que me sustentou. Recebi presentes, orações, mensagens de pessoas que nem conhecia. O amor que me cercou me ajudou a seguir", avalia. 

Hoje, a professora e ativista segue mobilizando esforços para que outras mães sejam ouvidas e acolhidas.

Eu sou mãe. E ninguém pode tirar isso de mim

Flávia Carvalho

Ativista 
Flávia fez tatuagem em homenagem as duas filhas, Helena e Maria Flor Crédito: Acervo pessoal