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Fernanda Varela
Publicado em 14 de maio de 2025 às 08:11
As perdas gestacionais de Micheli Machado, 44 anos, e Tati Machado, 33, trouxeram atenção para um tema delicado: o óbito fetal intrauterino, mesmo em gestações aparentemente saudáveis. Ambas relataram que deixaram de sentir os movimentos dos bebês e procuraram atendimento médico, onde foi constatada a ausência dos batimentos cardíacos.>
Embora raro, esse tipo de ocorrência pode acontecer, especialmente nas últimas semanas da gestação. De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), o risco de óbito fetal em gestações a termo varia entre 1,1 e 3,2 casos a cada mil. Esse risco aumenta após as 42 semanas.>
Entre os fatores que podem contribuir estão diabetes gestacional não controlada, hipertensão, restrição de crescimento fetal, gestação por fertilização in vitro e algumas trombofilias. A idade materna isolada, segundo a FEBRASGO, não é considerada um fator de risco relevante.>
A médica Paula Fettback, ginecologista e obstetra com especialização em reprodução humana, explica que as principais causas identificadas para mortes fetais no final da gestação incluem pré-eclâmpsia, insuficiência placentária, infecções, descolamento prematuro da placenta e malformações do feto.>
Nos casos em que a gravidez segue sem intercorrências aparentes, eventos como o nó verdadeiro do cordão umbilical ou a presença de mecônio (fezes no líquido amniótico) podem estar envolvidos. Mesmo assim, muitas vezes o motivo permanece desconhecido.>
Quando há suspeita de complicações, exames como o ultrassom obstétrico com Doppler e o perfil biofísico fetal podem ser utilizados para avaliar sinais de sofrimento do bebê. Esses exames consideram o volume do líquido amniótico, a movimentação fetal e os batimentos cardíacos.>
O Ministério da Saúde reforça que o pré-natal bem acompanhado é a principal estratégia para reduzir os riscos. Em seu Manual de Vigilância do Óbito Infantil e Fetal, a pasta orienta que todos os casos de óbito fetal sejam investigados de forma criteriosa para identificar possíveis falhas assistenciais e evitar repetições. O documento também recomenda a indução do parto a partir de 41 semanas, já que o risco aumenta após esse período.>
A ginecologista Paula Fettback lembra ainda que, apesar do acompanhamento adequado, há casos em que o parto pode não acontecer no momento oportuno. Em situações de perda, destaca a importância do acolhimento emocional à gestante e à família, com tempo e espaço para lidar com o luto.>
É fundamental reforçar que perguntas sobre o que aconteceu, curiosidades sobre o parto, questionamentos sobre filhos futuros e comentários sobre um possível culpado para a situação não devem ser feitos sob hipótese alguma. Se a mãe desejar, ela mesma abordará qualquer tema em relação ao seu luto. Caso isso não ocorra, respeite.>