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Giuliana Mancini
Publicado em 16 de agosto de 2025 às 18:04
Restaurantes e quiosques de Belém não vão poder vender açaí durante a 30ª edição da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 30), que ocorrerá na cidade em novembro. A proibição está no edital da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), que é a responsável por fazer as contratações para o evento.>
De acordo com o documento, divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o açaí tem “risco de contaminação por Trypanosoma cruzi [causador da doença de Chagas], se não for pasteurizado”. Porém, todos os tipos estão proibidos na conferência. Mas afinal, o açaí transmite a doença de Chagas?>
A doença de Chagas é causada por um protozoário chamado Trypanosoma cruzi e pode ser disseminada para humanos principalmente por meio do contato com fezes de triatomíneos - insetos conhecidos como barbeiro - infectados, ou pela ingestão de alimentos contaminados.>
A ingestão de sangue pelo barbeiro ao picar um humano estimula a defecação do inseto - por isso costuma-se dizer que a picada causa a doença. Mas, de acordo com uma pesquisa do professor da Universidade Federal do Acre (Ufac) Odilson Silvestre, essa via tem deixado de ser a principal forma de transmissão no Brasil.>
O pesquisador publicou um estudo sobre o tema em 2020. Junto com um grupo de cientistas de 11 instituições, entre universidades brasileiras e secretarias de Saúde, revisou 41 trabalhos conduzidos sobre o tema entre 1968 e 2018, que englobaram 2.470 casos de doença de Chagas e 97 óbitos. >
A conclusão, publicada na revista científica Clinical Infectious Diseases, ligada à Universidade de Oxford, apontou que a maioria dos casos da doença de Chagas ocorrem na Amazônia, em especial no Pará, e que, de fato, o açaí era a principal causa dessa transmissão.>
“No passado era mais a picada do mosquito, agora é mais por ingestão de alimento contaminado, em especial, o açaí. Mas também, cana de açúcar, sucos e outros alimentos”, afirmou Silvestre em comunicado divulgado à época.>
“Atualmente ainda temos isso (disseminação) presente, inclusive no Acre; mas o principal estado com a doença é o Pará. É importante que as pessoas entendam que o açaí pode conter sim o ‘Trypanosoma cruzi’, o protozoário que causa a doença. Há uma necessidade de o governo atuar nisso, treinando os vendedores de açaí para que eles façam o processamento adequado com um branqueamento”, defendeu o professor, também na ocasião.>
No processo de branqueamento, os frutos do açaí são submetidos a uma temperatura de 80°C por cerca de 10 segundos e, em seguida, rapidamente resfriados antes de seguir para as etapas seguintes do processamento. "Além de passar por outros produtos de higienização. Isso tira toda a contaminação e mata o ‘Trypanosoma cruzi’, tornando o açaí seguro para consumo", explicou.>
Sobre a letalidade dos casos analisados, o grupo de pesquisadores estimou que a taxa é de 1,0%, sendo que ela diminuiu ao longo dos anos.>