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Estadão
Publicado em 10 de junho de 2025 às 11:48
O ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier, negou nesta terça-feira, 10, ter colocado as tropas à disposição o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o golpe. "Eu nunca usei essa expressão (colocar as tropas à disposição)", declarou. "Eu nunca disponibilizei tropas para ações dessa natureza." >
É a primeira vez que Garnier presta depoimento sobre a trama golpista. Na fase de inquérito, ele fez uso do direito ao silêncio e não respondeu às perguntas da Polícia Federal.>
Ao ser questionado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz o interrogatório, o ex-comandante da Marinha chamou a versão de "ilação".>
"O presidente não abriu a palavra a nós. Ele fez as considerações dele, expressou o que pareciam para mim mais preocupações e análise de possibilidades do que propriamente uma intenção de conduzir alguma coisa em uma certa direção", disse Garnier.>
Os ex-comandantes do Exército Marco Antônio Freire Gomes e da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Júnior afirmaram em seus depoimentos que Garnier apoiou as intenções golpistas de Bolsonaro.>
O assunto teria sido tratado em uma reunião no Palácio do Alvorada no dia 7 de dezembro de 2022. Estavam presentes os chefes das Forças Armadas e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, além de Bolsonaro.>
Garnier confirmou o encontro e afirmou que os principais temas tratados foram os acampamentos de bolsonaristas próximo a instalações das Forças Armadas e "considerações acerca do processo eleitoral". O almirante negou que a prisão de autoridades tenha sido abordada na reunião.>
"Houve uma apresentação de alguns tópicos de considerações que poderiam levar, talvez, não foi decidido isso naquele dia, à decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ou de necessidades adicionais, principalmente visando a segurança pública", afirmou.>
O almirante negou que Bolsonaro tenha apresentado uma minuta de decreto com medidas golpistas.>
"Eu não vi minuta, eu vi uma apresentação na tela de um computador. Havia uma telão onde algumas informações eram apresentadas na tela. Quando o senhor fala minuta eu penso em papel, eu não recebi esse tipo de documento.">
Em seu interrogatório, Garnier afirmou que segue "à risca" a hierarquia e que, como subordinado de Bolsonaro, só poderia questionar uma ordem "flagrantemente ilegal", o que segundo ele não ocorreu.>
"Até que isso aconteça, para mim ilações, discussões... Eu era comandante da Marinha. Não era assessor político do presidente. Eu me ative ao meu papel institucional", defendeu.>
"O estatuto dos militares não faculta ao militar ficar inventando, tendo ilações, ou criticando coisas que estão na cabeça de outrem, principalmente se esse outrem for o seu chefe", acrescentou.>
Em 14 de dezembro de 2022 houve uma nova reunião entre os comandantes das Forças Armadas e Paulo Sérgio no Ministério da Defesa. Neste encontro, o ministro da defesa teria apresentado uma minuta golpista, segundo Freire Gomes e Baptista Júnior.>
Almir Garnier alegou que estava atrasado e, quando chegou ao encontro, a reunião tinha acabado.>
"Quando entrei já percebi que tinha havido algum tipo de desentendimento, alguma discussão anterior tinha acontecido. E a reunião foi encerrada. O ministro não abriu nenhuma pauta adicional, parecia estar chateado com o desenrolar da conversa, e a reunião foi encerrada.">
O ex-chefe da Marinha afirmou também que Bolsonaro colocava os comandantes das Forças Armadas "a par das questões legais" sobre a condução da Justiça Eleitoral, inclusive as ações em conjunto com o PL. O partido do ex-presidente foi multado em R$ 22,9 milhões por questionar de má-fé o resultado das eleições e pedir a anulação de parte dos votos do segundo turno.>
Questionado sobre o desfile de carros blindados da Marinha nas imediações do Palácio do Planalto, em agosto de 2021, durante a análise da PEC do voto impresso, Garnier afirmou que o evento já estava previsto antes de a Câmara dos Deputados marcar a votação e que foi uma "coincidência".>
Em 2023, após as eleições presidenciais, Garnier rompeu uma tradição e se recusou a participar da cerimônia de passagem do comando para o sucessor, Márcio Sampaio Olsen. Em seu interrogatório, ele justificou que, em razão do clima de polarização, havia se comprometido a transferir o comando ainda no governo Bolsonaro. Como a cerimônia foi marcada para depois do final do mandato, ele preferiu não participar. O almirante defendeu, no entanto, que fez "toda a passagem de comando institucional".>