Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Carol Neves
Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 08:01
A direção do Cefet do Rio de Janeiro já identificava que João Antônio Miranda Tello Ramos, pedagogo que matou a diretora Allane de Souza Pedrotti Matos, 41, e a psicóloga Layse Costa Pinheiro, 40, antes de tirar a própria vida, tinha dificuldade de aceitar chefia feminina. Por isso, meses antes do ataque, a instituição decidiu colocá-lo sob supervisão de um homem e realocá-lo para um setor sem presença de mulheres em cargos de comando. >
“A gente fez questão de colocar um homem para chefiá-lo, porque entendi que poderia ter essa questão de misoginia”, afirmou o diretor-geral do Cefet, Maurício Motta, em entrevista ao jornal O Globo.>
Atirador matou duas mulheres e se matou no Cefet
Segundo Motta, todos os episódios envolvendo o servidor tinham mulheres como alvo. Ele confirma que havia relatos de que o atirador intimidava chefes e colegas do sexo feminino. “Se a gente for ver, todas as situações que ocorreram se deram sempre com mulheres. (...) Infelizmente, eu diria que o problema era o João”, disse.>
Em maio, diante do histórico de conflitos, ele foi transferido para a Coordenação de Cursos Subsequentes, onde lidaria apenas com alunos adultos e seria supervisionado por um homem. A mudança também visava afastá-lo das duas servidoras que acabariam mortas na sexta-feira.>
Denúncias internas e investigação>
Questionado sobre possíveis queixas formais feitas por Allane ou outras funcionárias, o diretor afirma que não recebeu denúncias dela diretamente. Contudo, a Divisão Pedagógica - setor onde o servidor e a psicóloga trabalhavam - entregou à corregedoria um documento coletivo relatando problemas. Isso abriu uma apuração interna.>
Segundo Motta, mesmo sem denúncia formal de Allane, a direção já monitorava o caso e buscava proteger a equipe. “Eu já sabia do conflito, por isso acionamos todos elementos que tínhamos para, independentemente da denúncia dela, preservá-la.”>
Ataque teve alvos específicos>
O diretor diz não ter dúvidas de que o atirador planejou o ataque. João Antônio teria ido primeiro à sala da diretora. No local estava também uma aluna estagiária, poupada por ele: “Ele falou claramente que não tinha qualquer ‘diferença’ com a menina”. Ela conseguiu fugir antes dos disparos.>
Em seguida, o atirador caminhou até outra sala e matou a psicóloga Layse. Uma terceira servidora, que costumava acompanhar a psicóloga, só escapou porque tinha saído instantes antes.>
Afastamentos, perícia psiquiátrica e limites da instituição>
Entre 2021 e 2024, o servidor teve diversos afastamentos por questões de saúde mental. No segundo semestre de 2024, chegou a ser suspenso cautelarmente por dois períodos de 60 dias. Ao retornar, apresentou laudo médico particular declarando aptidão para trabalhar - documento confirmado por uma junta psiquiátrica da rede federal.>
“O entendimento é de que tudo que podia ser feito na esfera da instituição foi feito”, disse Motta. Ele lembra que escolas públicas não realizam revista e que o Cefet não tinha qualquer informação de que João Antônio possuía arma.>
A descoberta de que o servidor era CAC e tinha registro regular surpreendeu a direção. “Ficamos nos questionando como uma pessoa com histórico de afastamentos consegue comprar uma arma, ter certificado e fazer curso de tiro”, afirmou.>
Retomada das atividades>
A tragédia abalou profundamente a comunidade escolar. Tanto Allane quanto Layse eram funcionárias antigas, com mais de dez anos de atuação. O Cefet decretou luto institucional até sexta-feira e discute um retorno gradual das aulas a partir da próxima semana.>
“Foi devastador para todos: docentes, técnicos e alunos”, disse o diretor.>