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Carol Neves
Publicado em 28 de abril de 2025 às 08:41
A advogada Tônia Galleti, ex-representante do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnap) no Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), relatou ter alertado pessoalmente o ministro da Previdência, Carlos Lupi, sobre descontos indevidos em benefícios de aposentados logo após a posse dele, em janeiro de 2023. Segundo Galleti, na reunião, que contou com a presença de assessores, Lupi prometeu apurar a situação, mas nenhuma providência foi tomada. A denúncia foi feita em entrevista ao jornal O Globo.>
Em junho daquele ano, após a falta de ações concretas, Galleti enviou formalmente ao ministério um pedido para que o tema fosse incluído na pauta da próxima reunião do CNPS, mas a solicitação foi rejeitada sob a justificativa de que a agenda já estava fechada. Durante o encontro, no dia 12, ela pediu que seu alerta fosse registrado em ata. No documento, Lupi reconhece a relevância do tema, mas afirma que seria necessária uma ampla investigação sobre possíveis irregularidades nos convênios firmados entre associações e o INSS. Ele ainda disse que a questão seria debatida em uma próxima reunião do conselho, o que acabou não acontecendo.>
Galleti critica a postura do ministério, afirmando que "não levaram para o conselho, não debateram o tema, não criaram, por exemplo, um grupo de trabalho com mais pessoas envolvidas", descrevendo a situação como "bastante constrangedora porque parece que ninguém sabia e não é verdade. Todo mundo estava vendo o problema". Ela reforça que, embora normalmente os pedidos de pauta dos conselheiros sejam considerados, "não foi, mesmo eu conversando internamente depois, eu não consegui pautar no conselho".>
Em sua defesa, Carlos Lupi afirmou que não ignorou o problema, e que além de ser avisado por outros integrantes do conselho, precisava de "fatos concretos para serem investigados". O ministro também ressaltou que a conselheira não voltou a apresentar o assunto nas reuniões seguintes, argumento que Galleti contesta, assegurando que ficou "evidente" a falta de interesse em discutir a questão no CNPS.>
A ex-conselheira afirma que sua mobilização surgiu diante de denúncias sobre o crescimento expressivo de descontos não autorizados em benefícios de aposentados para entidades sindicais. A gravidade do problema foi confirmada com a operação "Sem Desconto", deflagrada recentemente, que investiga irregularidades em convênios com o INSS e apura desvios que podem ultrapassar R$ 6 bilhões.>
Lupi defende que tomou medidas para enfrentar o problema, como a edição de uma Instrução Normativa em março de 2024, que alterou as regras de convênios com entidades, e a exoneração do então diretor de Benefícios, André Fidelis. Para Galleti, entretanto, essas ações foram "insuficientes" e só ocorreram devido à pressão causada pela investigação em curso no Tribunal de Contas da União (TCU).>