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Carol Neves
Publicado em 1 de julho de 2025 às 09:33
A mãe de Juliana Marins, Estela, mostrou uma das últimas mensagens que recebeu da filha, logo depois dela embarcar para um mochilão na Ásia. Juliana morreu depois de cair de um penhasco durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, na semana passada. >
Em viagem pelo Sudeste Asiático desde fevereiro, Juliana já havia passado por Filipinas, Vietnã e Tailândia. Durante reportagem do Fantástico, a mãe da jovem compartilhou uma mensagem que a filha havia enviado logo no início da jornada, demonstrando o quanto a família era importante para ela.>
“Mami, eu te amo tanto. Fiquei com coração partido quando a gente se despediu. Na verdade, essa é a única coisa que me preocupa: deixar você, papi ou minha irmã desapontados. De resto, não tenho medo de muita coisa, muito menos de perrengue”, escreveu Juliana.>
Na mensagem, a jovem também fala sobre como a mãe foi sua grande inspiração e referência de coragem. Disse que não temia as dificuldades da vida justamente por ter sido criada com exemplo de força e determinação. “Fui criada por uma mulher que consegue resolver qualquer problema e que não tem medo de se jogar e ir atrás do que sonha. Sou assim também. Tenho vontades e sonhos diferentes. Amo muito vocês! E serei sempre grata por todo apoio, cuidado e carinho. Isso que faz eu não ter medo.”>
Juliana Marins
A viagem, que era um sonho pessoal, foi interrompida de forma trágica durante uma das trilhas mais conhecidas da Indonésia. O Monte Rinjani, onde o acidente ocorreu, é destino frequente de mochileiros e aventureiros que visitam o país. O laudo oficial apontou que a causa da morte foi um trauma contundente, que comprometeu órgãos internos e provocou hemorragia, mas informações contraditórias sobre o horário da morte e outras dúvidas levaram a família a pedir que uma nova autópsia seja realizada no Brasil. >
Guia se afastou para fumar>
Na mesma reportagem, o pai de Juliana, Manuel, falou sobre o que a família sabe do acidente. O guia da excursão relatou que a filha havia dito estar cansada durante a trilha. “Juliana falou para o guia que estava cansada e o guia falou: ‘senta aqui, fica sentada’. E o guia nos disse que ele se afastou por 5 a 10 minutos para fumar. Para fumar! Quando voltou, não avistou mais Juliana. Isso foi por volta de 4h. Ele só a avistou novamente às 6h08min, quando gravou o vídeo e o enviou ao chefe dele”, contou o pai. Ao todo, considerando a caminhada e o tempo fumando, o guia ficou de 40 a 50 minutos longe da jovem.>
Nesse vídeo gravado pelo guia, é possível ver uma luz que era da lanterna no capacete usado por Juliana. Foi nesse momento que o guia a localizou e acionou a chefia para que o socorro fosse enviado ao local.>
Segundo Manoel, em um primeiro momento não foi acionada a Defesa Civil, e sim uma equipe de primeiros socorros do parque onde fica o vulcão. O pai de Juliana disse que eles tinham apenas uma corda, sem outros materiais necessários para a descida. “No desespero, o guia amarrou a corda na cintura e tentou descer sem ancoragem”, relatou. Nesse primeiro momento, Juliana estava a cerca de 200 metros da ilha - o local exato foi confirmado por imagens de drone feitas por turistas.>
A resposta das autoridades locais, segundo a família, também foi lenta. O parque acionou a equipe de primeiros socorros apenas às 8h30, que só chegou ao ponto onde Juliana caiu às 14h. Já a Defesa Civil da Indonésia, segundo os familiares, foi acionada posteriormente e teria alcançado o local somente às 19h. É uma caminhada de pelo menos 6 horas até o ponto do acidente. Condições de tempo ruim complicaram o trabalho do resgate. >
Juliana Marins caiu de trilha na Indonésia
Para o pai da jovem, houve falhas graves em vários níveis. “Os culpados, no meu entendimento, é o guia, que deixou Juliana sozinha para fumar, 40 ou 50 minutos, tirou os olhos dela. A empresa que vende os passeios, porque esses passeios são vendidos em banquinha como sendo trilhas fáceis de fazer. Mas o primeiro culpado, que eu considero o culpado maior, é o coordenador do parque. Ele demorou a acionar a Defesa Civil”, afirmou.>
No final, o corpo de Juliana foi resgatado por uma equipe repleta de voluntários, que chegaram a dormir pendurados no penhasco para conseguir alcançar a jovem - ela já estava a cerca de 600 metros da trilha. Segundo o pai, quando foi registrada novamente por drones, na segunda (23), dessa vez "aparentemente imóvel", Juliana já estava morta.>