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Flavia Azevedo
Publicado em 28 de maio de 2025 às 19:44
Por @flaviaazevedoalmeida>
Como você sabe, nesta semana, uma mulher identificada como Kristy Crampton foi presa sob acusação de abuso infantil, por esmurrar uma criança durante um voo nos Estados Unidos. De acordo com o relatório da polícia do aeroporto, ela começou a agredir o menino logo antes da decolagem, depois que ele a chamou de "gorda" e "Miss Piggy", personagem suíno do The Muppets. Testemunhas relataram que o garoto disse que Crampton era "gorda demais para caber no assento", ao que a mulher reagiu com violência. Desequilibrada e criminosa, claro. Mas, justiça se amplie: ela não foi a única a abusar do menino naquele avião.>
Há pelo menos um adulto diretamente incumbido de orientar aquela criança. Mais do que isso, há pelo menos um adulto obrigado a acompanhar a criança, a ser responsável por ela, em todas as situações. Crianças não viajam sozinhas e adultos responsáveis por crianças são obrigados a zelar pela segurança das crianças que estão sob sua responsabilidade. Para o exercício dessa proteção, adultos responsáveis por crianças mediam e monitoram as relações das crianças com outras pessoas, principalmente com estranhos. Educar, proteger, mediar. Tudo isso é obrigação de pais, mães e/ou responsáveis. Um menino, dentro de um avião, chamando uma passageira de “gorda” e comparando ela a uma porca, está negligenciado e isso também é abuso infantil. Repare, essa não é apenas a minha opinião.>
A incapacidade de orientar crianças é considerada uma forma de negligência infantil, que é um tipo de violência doméstica ou maus-tratos. Mais especificamente, isso é identificado como negligência educacional. A negligência educacional ocorre quando os pais ou responsáveis não proporcionam as condições necessárias ao desenvolvimento intelectual e moral da criança. Isso inclui, mas não se limita a, privá-los da educação básica, permitir ausências frequentes injustificadas, não matriculá-los na escola na idade adequada e à falta de monitoramento ou apoio ao seu desempenho escolar. Até aqui, tratamos da educação formal.>
Porém, o conceito de "incapacidade de orientar crianças" também abrange omissão de cuidado, supervisão e proteção essenciais para as necessidades básicas da criança. Negligenciar este aspecto FUNDAMENTAL da educação é prejudicial pode levar a consequências negativas importantes para o desenvolvimento psicossocial, resultando em risco aumentado de problemas comportamentais. Portanto, a falta de orientação das crianças é uma omissão prejudicial que viola direitos infantis e dificulta o desenvolvimento saudável de humanos. Abuso, né? Claro.>
(Nesse contexto, a palavra "abuso" se refere a comportamentos que violam a dignidade e a integridade física, emocional ou sexual de uma pessoa, especialmente em situações de poder desequilibrado.) >
Então, por óbvio, as pessoas responsáveis pelo garoto agredido também são culpadas pela violência que ele sofreu. Isso porque uma criança que é permanentemente orientada sobre como se comportar com outras pessoas dificilmente vai sair por aí fazendo observações sobre corpos alheios. “Ninguém gosta desse comportamento, se tiver alguma curiosidade, fale comigo bem baixinho”, meu filho cansou de ouvir, desde que ainda usava fraldas. Desse modo, lidamos com TODAS as observações sobre tipos físicos de terceiros, sem qualquer problema, até que ele se acostumou com a diversidade humana. >
Sim, acidentes podem acontecer e a presença do adulto responsável que pede desculpas pelo ocorrido e tira a criança da situação, apaga esse tipo de incêndio. Crianças negligenciadas estão mais expostas a muitos perigos, inclusive à ira de terceiros violentos e desequilibrados. Humanos precisam ser treinados para a convivência coletiva, essa é uma NECESSIDADE dos filhotes da nossa espécie e não apenas um favor que se faz à sociedade. Não é pelo conforto de estranhos (ainda que isso também deva ser considerado, por civilidade), mas pela segurança de quem está sob nossas asas. Nossas crias imploram por limites, orientação, bons exemplos e educação. Isso também faz com que se sintam amados. >
De modo que, inocente, nesse episódio, é só o menino duplamente abusado. A mulher criminosa foi formalmente acusada por abuso infantil, compareceu ao tribunal e teve a liberdade concedida mediante pagamento de fiança de US$ 10 mil (R$ 57 mil). A Justiça determinou que Crampton não pode ter contato com a criança. Até hoje (28), os familiares do menino se recusaram a prestar depoimento à polícia, talvez porque saibam que dividem essa responsabilidade.>