Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Donaldson Gomes
Publicado em 28 de julho de 2025 às 15:05
Apesar de reconhecer que o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente norte-americano Donald Trump para o Brasil preocupa o setor agrícola baiano como um todo, o produtor Humberto Miranda, presidente da Federação da Agricultura do Estado da Bahia (Faeb), ressalta que há algumas áreas que sentirão mais o impacto que outras. Ele destaca a fruticultura, com especial preocupação para a manga in natura, que tem 60% da sua produção escoada para os Estados Unidos. As produções de uvas e de tilápias, em menores proporções, também devem ser alvos de atenção, recomendou o dirigente setorial em um encontro com a imprensa nesta segunda-feira (dia 28) pela manhã, na sede da Faeb. >
“Esta questão não é fácil de ser resolvida, esperamos que os governantes pensem no povo brasileiro, porque este problema vai parar no colo das pessoas. O anúncio das tarifas já criou insegurança, o que não é bom em nenhum aspecto, já tivemos outros produtos em que houve quedas, mas a situação da manga in natura é uma que merece atenção especial”, ponderou. “Hoje, 60% da produção baiana vai para os Estados Unidos e a colheita começa em setembro. Estamos falando de um produto altamente perecível e não há tempo hábil para encontrar mercados alternativos”, calcula. >
Para Humberto Miranda, houve uma politização na questão comercial, o que dificulta a busca por uma solução. >
Ele acredita que os produtores de café e celulose, outras culturas que têm bastante mercados nos EUA deverão buscar novos mercados, mas esta não é uma alternativa viável no caso das frutas. “Se essa loucura continuar, outros mercados serão abertos, mas a fruticultura é emblemática e urgente para evitar desemprego e insegurança na atividade”, apela.>
O presidente da Faeb acredita que o melhor caminho para a negociação é o de setorizar a discussão. “Se for possível estabelecer uma pauta em que se resolva o mais urgente, ganharemos tempo. Sabemos que este é um problema que afeta a todos, mas não a todos da mesma maneira. Se eu tivesse a oportunidade de influenciar o rumo das discussões, apostaria tudo numa setorização das conversas”, recomenda. >
Humberto Miranda ainda lamentou o enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC) como uma instância para a mediação de conflitos como estes. “Se a OMC tivesse força para estabelecer uma solução diplomática, seria melhor para todos, mas infelizmente a entidade perdeu a capacidade de gerenciar estes conflitos internacionais”, disse. >
Homenagem ao Produtor>
O presidente da Faeb, Humberto Miranda, destacou a importância social e econômica dos agricultores para o Brasil. No dia em que se comemora o Dia do Produtor Rural, o dirigente destacou o papel do trabalho no campo para o barateamento da cesta básica brasileira. Em 1994, o pacote com os alimentos básicos representava R$ 58,99% de um salário mínimo. Hoje, o custo é inferior a 40%, segundo dados apresentados pela Faeb. >
“É muito importante mostrarmos a transformação que está acontecendo na nossa Bahia. Hoje, nós oferecemos assistência técnica a 30 mil produtores rurais e mais de 90% deles são de micro ou pequeno portes”, destacou. A participação da atividade no Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia varia entre 23% e 25%. “Quando falamos sobre o PIB baiano, estamos tratando de um universo de R$ 100 bilhões e nós somos responsáveis por um quarto disso”, destacou. >
Em relação à geração de empregos, Miranda acrescentou que a responsabilidade da agropecuária é de quase 30% do total. “Estamos falando de empregos tradicionalmente ligados ao campo, mas também de outras profissões vistas como urbanas, como é o caso dos programadores de sistemas”, disse. >
“Em dez anos, nós vamos ter o início de um êxodo em sentido contrário, com as pessoas das cidades indo para o campo em busca de oportunidades. Um dos fatores para isso é a tecnologia, que nos permite estar em todos os lugares. Em cidades do interior se vive com mais qualidade”, ponderou.>
Humberto Miranda ainda falou sobre gargalos que as atividades rurais enfrentam na Bahia. Os problemas passam tanto por questões de infraestrutura de transporte, conectividade e educação, enumerou. >