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Cientistas descobrem por que pessoas com esquizofrenia “ouvem vozes”

Cientistas usam eletroencefalograma para entender por que o cérebro de pacientes com esquizofrenia reage à fala interna como se fosse externa

  • Foto do(a) author(a) Agência Correio
  • Agência Correio

Publicado em 2 de novembro de 2025 às 17:00

Pesquisa da Austrália aponta falha cerebral em reconhecer a própria voz interna como a origem das alucinações verbais
Pesquisa da Austrália aponta falha cerebral em reconhecer a própria voz interna como a origem das alucinações verbais Crédito: Freepik

Um novo estudo conduzido por psicólogos da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW), em Sydney, Austrália, pode ter desvendado o mistério por trás das alucinações verbais em pacientes com esquizofrenia, o popular “ouvir vozes”. A chave pode estar na incapacidade do cérebro em reconhecer a própria voz interna como sua, interpretando-a erroneamente como se viesse de fora.

A pesquisa, publicada na revista científica Schizophrenia Bulletin, utilizou um eletroencefalograma para observar a atividade cerebral de pacientes enquanto eles imaginavam palavras. Os achados fornecem a confirmação mais robusta até agora para uma teoria de décadas sobre a origem das alucinações auditivas e abrem caminho para o desenvolvimento de novos diagnósticos e tratamentos.

Atividade cerebral por Shutterstock

A equipe de cientistas acredita que esta descoberta pode ser um passo importante para a identificação de marcadores biológicos que auxiliem no diagnóstico da esquizofrenia. Atualmente, a confirmação do quadro é apenas clínica, baseada em relatos e histórico do paciente, já que não existem exames, como o de sangue, capazes de identificá-lo.

Como o cérebro processa a fala interna

A fala interna é aquela voz silenciosa na sua cabeça que narra seus pensamentos, como o que você está fazendo ou planejando. Thomas Whitford, professor da Escola de Psicologia da UNSW e autor do estudo, explica que “a maioria das pessoas experimenta a fala interna regularmente, muitas vezes sem perceber, embora existam algumas que não a experimentam de forma alguma”.

Quando falamos, mesmo que seja apenas em nossa mente, o cérebro prevê o som da nossa própria voz e, com isso, a parte que processa sons externos se torna menos ativa, segundo Whitford. No entanto, em pessoas que ouvem vozes, essa previsão parece falhar. “O cérebro reage como se a voz interna viesse de outra pessoa”, complementa o especialista.

A dificuldade de estudar a voz da mente

A ideia de que as alucinações auditivas na esquizofrenia poderiam ser resultado da própria fala interna, erroneamente atribuída como externa, existe há cerca de 50 anos. Contudo, testar essa hipótese era um grande desafio porque “a fala interna é, por natureza, privada”, conforme explica Whitford.

Para superar essa barreira, os cientistas recorreram ao eletroencefalograma (EEG), um exame que registra a atividade elétrica do cérebro. O objetivo era observar como o cérebro reage à fala interna.

O que o eletroencefalograma revelou

No estudo, aproximadamente 140 participantes foram divididos em três grupos: pacientes com esquizofrenia que tiveram alucinações recentes; pacientes com esquizofrenia sem histórico de alucinações; e um grupo de comparação sem o transtorno.

Todos foram submetidos ao EEG enquanto ouviam áudios por fones e eram instruídos a imaginar falar determinadas palavras exatamente no mesmo momento em que ouviam as gravações. Os participantes não sabiam se o som que escutavam correspondia ao que imaginavam em suas mentes.

Nos participantes considerados saudáveis, quando o som no fone correspondia ao que imaginavam, o córtex auditivo — a parte do cérebro que processa som e fala — mostrava uma redução de atividade. Isso sugere que o cérebro já estava prevendo o som e suavizando sua resposta, de forma similar ao que acontece quando a pessoa fala em voz alta.

A inversão do efeito nos pacientes

Nos voluntários que haviam sofrido alucinações verbais recentemente, o resultado foi o oposto do esperado. Em vez da supressão da atividade cerebral, houve uma resposta aumentada quando a fala imaginada combinava com o som ouvido.

“Seus cérebros reagiram mais fortemente à fala interna que correspondia ao som externo, o que foi exatamente o oposto do que encontramos nos participantes saudáveis”, detalha Whitford. O pesquisador ainda esclarece que “essa inversão do efeito normal de supressão sugere que o mecanismo de previsão do cérebro pode estar interrompido em pessoas que estão experimentando alucinações auditivas, o que pode fazer com que sua própria voz interna seja interpretada erroneamente como fala externa”.

O grupo de pacientes com esquizofrenia que não ouvia vozes mostrou um padrão intermediário, o que reforça a conclusão. Para os cientistas, esta é a confirmação mais robusta até o momento sobre a causa das alucinações.

O futuro da pesquisa

Com essa confirmação, o próximo passo dos pesquisadores é avaliar se essa medida pode ser usada para identificar pessoas com alto risco de desenvolver psicose. Essa identificação precoce permitiria uma intervenção terapêutica antes que o quadro se agrave.

“Em última análise, acredito que entender as causas biológicas dos sintomas da esquizofrenia é um passo necessário se quisermos desenvolver tratamentos novos e eficazes”, conclui Whitford.