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Agência Correio
Publicado em 7 de julho de 2025 às 13:00
A infância deveria ser um tempo de brincadeira, descoberta e conexão. Mas, para muitas crianças, virou uma maratona de compromissos e telas. Quem faz o alerta é a psicóloga e professora de Harvard, Rebecca Rolland, autora do livro A arte de conversar com crianças. Para ela, o excesso de atividades e a falta de escuta estão roubando a essência do que é ser criança. >
“Enchemos os dias de tarefas e não deixamos espaço para reflexão. Assim criamos pequenos robôs ansiosos”, afirma Rolland, em entrevista ao El País. A especialista também é terapeuta de linguagem no Hospital Infantil de Boston e há anos estuda como a comunicação afeta o desenvolvimento emocional e cognitivo dos pequenos.>
Rolland defende que o diálogo diário, sem distrações ou julgamentos, tem um impacto enorme na criatividade, autoestima e segurança emocional das crianças. “Geralmente falamos só de horários e tarefas, mas dedicamos pouco tempo a ouvir de verdade”, pontua.>
Ela faz um paralelo com o livro infantil Momo, de Michael Ende, onde “homens cinzentos” roubam o tempo das pessoas. Na vida real, os vilões seriam as notificações constantes, a correria da rotina e a agenda lotada de compromissos.>
O resultado, segundo ela, é uma infância cada vez mais ansiosa e acelerada. “Quando forçamos habilidades para as quais a criança não está pronta, ela sente o nosso estresse e o replica”, diz.>
Confira o ensaio fotográfico junino dos bebês do Hospital Estadual da Criança
A proposta de Rolland é simples e pode ser adotada em qualquer casa: reservar de cinco a dez minutos por dia, duas vezes ao dia, para conversar com atenção total. Não precisa de brinquedos novos ou grandes planos. “Basta estar presente, perguntar, ouvir e valorizar a resposta”, resume.>
Um dos exercícios sugeridos é a “escuta curiosa”: sentar ao lado da criança enquanto ela brinca ou joga, observar com interesse genuíno e perguntar o que mais a fascina naquele momento. “Assim ela percebe que suas ideias importam”, explica.>
Também é importante ensinar as crianças a escutarem de verdade. “Muitas vezes achamos que estamos prestando atenção, mas a cabeça está longe”, diz. Para ela, crianças que aprendem a escutar desenvolvem uma comunicação mais empática e conectada com o outro.>
Quando a criança parece dispersa ou sem vontade de conversar, Rolland sugere o uso do humor como ferramenta de reconexão. Uma tática leve é mudar de assunto de forma absurda e depois pedir que o outro repita o que ouviu. “É um jeito divertido de mostrar a importância da atenção”, afirma.>
Mais do que uma técnica de comunicação, Rolland vê essas conversas como uma forma de devolver às crianças o que lhes é de direito: tempo de qualidade, escuta verdadeira e liberdade para expressar quem são. “Quando nos permitimos ver o mundo pelos olhos deles, recuperamos a capacidade de nos surpreender”, conclui.>