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Flavia Azevedo
Publicado em 18 de junho de 2025 às 20:02
Todo mundo viu quando um homem adulto, no meio de uma festa junina escolar, atravessou o pátio e agrediu uma criança de quatro anos. A cena aconteceu no Colégio Liceu, em Vicente Pires (DF), e correu as redes como uma caricatura do descontrole. A justificativa foi a de sempre: defesa do filho. Porém, o que se viu foi a exposição de um adulto em colapso, sem qualquer traço de noção e proporcionalidade. O que aquele gesto entregou, no lugar da "lição" pretendida, foi o recibo de uma falência da maturidade, da civilidade e da figura adulta como mediadora de conflitos. Mas a pergunta é: quem se espantou? >
Eu sim, outras pessoas também. Mas sabemos que o que aparece ali é o retrato de um homem "quase" comum, como tantos outros, incapaz de exercer a função de adulto. Há uma geração inteira com esse defeito de ter envelhecido sem amadurecer. São homens e mulheres que vivem com a autoestima em carne viva, com o orgulho inflamado por qualquer coisa, prontos para explodir diante do menor atrito. Em vez de cuidar, confrontam. Em vez de ensinar, punem. Em vez de escutar, reagem. >
O caso está na polícia. A escola emitiu nota e rompeu o vínculo com o agressor. A criança teve ferimentos leves. Mas a pergunta que sobra é: por que isso aconteceu? Porque o adulto, hoje, não é mais o fiador do cuidado. Pelo contrário, ele é, com frequência, o promotor do descontrole. A infância, que sempre foi o terreno da vulnerabilidade, agora convive com o risco concreto de estar cercada por adultos instáveis, ressentidos e perigosos nos mais diversos espaços de poder. Gente que reage como se estivesse num ringue. Gente que não tolera ser contrariada por quem tem, por natureza, contrariar. Em todas as espécies, filhotes testam limites. Cabe aos adultos saber administrar. >
Não é só nas festas escolares, você sabe. A falência da idade adulta também está nas arquibancadas de campeonatos infantis, nas salas de espera de consultórios e nos grupos de pais no WhatsApp. A falência do estágio chamado "maturidade" está lá toda vez que confundimos poder com grito, autoridade com medo e proteção com vingança. Na vida das crianças, somos autoridades máximas, últimas instâncias, inspiração, referências ocupando os lugares de pais, mães, avós e educadores. Mas se entramos em colapso, quem protege a infância de nós?>
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