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Alan Pinheiro
Publicado em 20 de novembro de 2025 às 06:00
Tempo, memória e ancestralidade. Essas três palavras servem como guia para o espetáculo “Dembwa – Mapear o Movimento” relembrar o passado e transformar a vivência em arte no Teatro Gregório de Mattos. A temporada gratuita começa nesta sexta-feira (21) e vai até o dia 30 de novembro. Nas sextas, as apresentações ocorrem às 19h, enquanto o horário passa para as 16h aos sábados e domingos. >
Criada e interpretada pelos artistas e coreógrafos Marcos Ferreira e Ruan Wills, “Dembwa” nasce do encontro entre as trajetórias do casal nas danças das religiões de matriz africana, no pagode baiano, no funk e nas manifestações populares. De acordo com Marcos, a ideia surgiu da vontade em criar algo juntos. Os dois então perceberam que as histórias de ambos — homens pretos, periféricos, afeminados e filhos de terreiro — eram parecidas, mesmo vivendo em locais muito diferentes.>
Espetáculo Dembwa, com Ruan Wills e Marcos Ferreira
Enquanto Marcos é soteropolitano, Ruan é carioca. A coreografia de “Dembwa” parte das memórias dos artistas e busca usar o corpo como documento, território e encruzilhada. De acordo com a dupla, a obra propõe uma investigação sobre o movimento enquanto gesto de cura, resistência e afirmação, atravessando tempo e ancestralidade com força poética e política.>
“Embora a gente tenha um histórico cultural de apagamento das nossas memórias enquanto pessoas pretas, entendemos que essas histórias estão vivas dentro da gente. O processo de criação do espetáculo aconteceu a partir dessa possibilidade de reacessar as histórias dos mais velhos e entender que os nossos ancestrais construíram mecanismos tecnológicos de sobrevivência que nos servem até os dias de hoje”, explica o baiano.>
“Dembwa” também se define como um espetáculo sankofa, um dos 80 símbolos adinkras que representa a ideia de olhar para trás para aprender e buscar sabedoria nos ensinamentos do passado, enquanto avança para o futuro. Em cena, a dupla mistura elementos da dança contemporânea com gestos oriundos das ruas periféricas de Salvador e do Rio de Janeiro, mapeando rotas de memória que se corporificam em ritmo, em canto e em transe. O figurino, feito em patchwork de tecidos e restos de roupas, também é construído como mais uma metáfora em alusão ao retorno e à recomposição.>
O espetáculo aborda o passado com temas como ancestralidade e memória, mas também incorpora elementos contemporâneos. Os autores acreditam que essa mistura de tempos e de vivências potencializa a mensagem da obra ao conseguir se comunicar com pessoas de diferentes idades. “Ele vai dialogar com a criança, com o jovem, com o adulto, com o avô. Vai trazer memórias das nossas infâncias, da nossa adolescência, das nossas avós, e com isso os tempos estão interligados” conta Ruan Wills.>
“Dançamos nossos quintais, nossas dores e nossas alegrias como forma de resistência. Cada passo é um gesto de reconhecimento e de saudação aos nossos. É corpo que lembra, que resiste, que transforma. Corpo que, ao dançar, se torna memória viva”, completa. Para as pessoas que forem acompanhar o espetáculo, o recado dado pelos autores é para que o público reflita: qual a pessoa mais antiga da sua família que você conhece?>
SERVIÇO - Espetáculo “Dembwa”, com Marcos Ferreira e Ruan Wills | De 21 a 30 de novembro – sextas, às 19h; sábados e domingos, às 16h, no Teatro Gregório de Mattos | Gratuito >