Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Alan Pinheiro
Publicado em 15 de maio de 2025 às 06:00
Jogadores de futebol se destacam todos os anos vestindo as camisas dos maiores clubes do mundo, mas poucos são aqueles que usam de sua influência para tirar o debate da esfera esportiva e discutir outros temas. Esse é o caso do atacante brasileiro Vinícius Júnior, cuja carreira é mostrada de forma apressada no documentário Baila, Vini, que estreia nesta quinta-feira (15) na Netflix.>
Com direção de Andrucha Waddington (Eu, Tu, Eles/2000 e Vitória/2025), o filme prioriza os eventos do ano de 2024, quando foram realizadas as gravações, mas também passa por momentos-chave da carreira do atleta carioca, indo desde o início no Flamengo à eleição como melhor jogador do mundo pela Fifa. Além do desempenho dentro de campo, o público também pode acompanhar bastidores de lesões, conquistas e a luta antirracista.>
Ao longo de um ano e meio, a equipe do documentário teve acesso ao centro de treinamento do Real Madrid, materiais de arquivo e 58 entrevistados. Além de conhecer a família do jogador e os amigos que o acompanharam na Espanha, grandes nomes do esporte, como o atual técnico da Seleção Brasileira Carlo Ancelotti, contribuem para a narrativa com depoimentos sobre o brasileiro.>
Paradoxalmente, revisitar os lances estrelados pelo jogador dentro de campo não compõem os melhores momentos da obra. A força do filme aparece quando o entorno de Vini Jr. é explorado. O que ele faz entre os jogos, quem são as pessoas que o acompanham, qual a importância de cada uma delas na vida do brasileiro e até coisas pequenas, como a alimentação e a construção da relação entre a fama e o cárcere.>
Outro destaque está na abordagem mais humana de Vinícius. Mesmo com o objetivo de construir um exemplo a ser seguido, as falhas da pessoa e do jogador não deixam de aparecer ao longo das quase duas horas. Aspectos da personalidade do brasileiro dentro e fora de campo são debatidos por companheiros de clube e jornalistas convidados.>
A força de Baila, Vini está na força de sua história e na tentativa de construir a imagem do jogador como um símbolo. O próprio jogador definiu o filme como uma oportunidade de compartilhar a sua história com a intenção de se tornar um exemplo para outros que possuem o sonho de chegar ao futebol profissional ou aqueles que se identificam com o movimento antirracista.>
Apesar dessa tentativa de posicionamento, o filme perde intensidade ao abordar os diferentes momentos da carreira do carioca de forma superficial. Na tentativa de falar sobre tudo, o excesso prejudica a experiência ao optar somente por uma alta exposição das coisas, sem se preocupar em abrir debates sobre temas importantes, principalmente em relação à luta fora de campo.>
O título do documentário surgiu de um movimento nas redes sociais em apoio ao jogador após ele receber um insulto racista no programa esportivo espanhol El Chiringuito. O episódio rendeu o primeiro posicionamento público de Vinícius, que passou a ser cada vez mais ativo na luta contra o racismo. >
A militância não é ignorada pelo filme. Inclusive, relatos de parentes e de companheiros adicionam peso, mas a direção opta por “driblar” o estabelecimento dessa característica como o principal diferencial do atacante em meio a um universo político que se cala diante do ativismo, principalmente na Espanha. >
Episódios importantes relacionados às torcidas de Atlético de Madrid e Valencia são abordados, além de mostrar o impacto causado pela atitude combativa do brasileiro, como a preocupação com o racismo constante no país europeu e a primeira condenação na Espanha por um caso de racismo no futebol. Mas, tudo de forma muito rasa.>
O que seria um ato de protagonismo se torna somente mais um aspecto de composição da história, o que pareceria viável se o representado não fosse um nome forte mundialmente no combate a posturas racistas dentro do esporte. Ao final, a jornada de Vini Jr. é autossuficiente para criar uma experiência envolvente. No entanto, o potencial desperdiçado em explorar temas fora das quatro linhas impede o filme de ir além.>