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Alan Pinheiro
Publicado em 30 de outubro de 2025 às 05:00
A Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, ou Penitenciária II de Tremembé, vira cenário de ficção em uma história que reúne alguns dos criminosos mais conhecidos do Brasil. Nesta sexta-feira (31), a série Tremembé estreia no Prime Video e promete mostrar o cotidiano dos detentos que cumprem pena no “presídio dos famosos”, ao mesmo tempo em que debate sobre o sistema carcerário brasileiro e a responsabilidade com a representação dessas pessoas no audiovisual. >
Tremembé se baseia nos livros-reportagem do jornalista Ullisses Campbell para contar uma história que reúne criminosos de casos com repercussão nacional, como Suzane von Richthofen (Marina Ruy Barbosa) e Elize Matsunaga (Carol Garcia). A trama também explora o cotidiano de Alexandre Nardoni (Lucas Oradovschi), Anna Jatobá (Bianca Comparato), Roger Abdelmassih (Anselmo Vasconcelos) e dos irmãos Cravinhos, além de outros detentos. >
Tremembé é a nova série de true crime brasileiro
Quando uma produção decide retratar criminosos reais em uma obra de ficção, a primeira preocupação ética é como será a abordagem dessas pessoas. Para Lucas Oradovschi, que vive Alexandre Nardoni no seriado, o grande desafio do projeto foi encontrar o equilíbrio entre ficcionalizar os personagens, mas sem romantizar as personas ou os delitos cometidos.>
“Essa linha tênue, no sentido ético do trabalho, foi o maior desafio. O Brasil já enxerga esses personagens de uma maneira muito forte, mas a gente não fica apenas nesse lugar e traz outras camadas. Sempre na balança de fazer isso sem romantizar ou heroicizar o personagem. O audiovisual tem esse poder, é muito sedutor. Acho que conseguimos manter a contradição, a dúvida”, explica.>
Apesar de reforçar o cuidado na representação dos criminosos, Marina Ruy Barbosa destaca que o preconceito com o mercado audiovisual brasileiro pode atrapalhar o julgamento da produção: “A gente se propôs a tomar muito cuidado e não ser desrespeitoso, mas isso também vai depender muito da pré-disposição de cada um na hora de assistir. Se fosse um projeto de fora, talvez falassem que tá perfeito, enquanto o brasileiro não sabe fazer”.>
Veja os atores que vão viver os presos famosos da Penitenciária de Tremembé
O primeiro episódio da série já estabelece os núcleos a serem desenvolvidos em cada uma das alas de Tremembé. No lado feminino, o triângulo amoroso entre Suzane, Elize e Sandrão (Letícia Rodrigues) é desenvolvido ao mesmo tempo em que Anna Jatobá precisa aprender a viver sob a rejeição num ambiente de “rejeitados”. A ala masculina, com menos intrigas, tem seu foco ajustado para as relações humanas entre os presos e o peso da culpa (ou falta dela).>
Para viver Alexandre Nardoni, Lucas conta que não podia deixar de tentar mimetizar os gestos e a aparência do interpretado. No entanto, a tarefa não contou com uma abundância de materiais visuais, o que abriu margem para os atores deixarem suas marcas artísticas em cada um. Intérprete de Elize Matsunaga, Carol Garcia reforça a dificuldade no processo de construção dos personagens.>
'Tremembé': série da Prime Video revive crimes de Suzane Richthofen e Elize Matsunaga
“Foram muitas camadas. Caracterização do figurino, preparação de elenco, direção, roteiro, os livros e o trabalho individual de cada um. Pode parecer clichê, mas é muito profundo porque são pessoas reais, mas são ficções também. A partir do momento que colocamos a voz, já é uma criação. O que a gente vê na tela é um compilado disso”, pondera Carol.>
Dentro da série, a própria penitenciária tem função na narrativa. Além do design de produção auxiliar na interpretação dos criminosos, os atores pontuam que o ambiente de opressão das prisões brasileiras compõe mais um dos aspectos de debate da obra. “Raramente falamos dessas vidas depois da condenação. Tremembé não é um retrato do sistema carcerário brasileiro porque é um presídio de elite, mas vemos essas pessoas nesses contextos mais normais. São seres humanos que cometeram atos monstruosos, mas que são pessoas normais na maior parte do tempo. Isso é o que choca mais e talvez o que traga mais curiosidade”, conta Bianca Comparato.>
A atriz carioca diz que Tremembé é uma série para lidar com esse lado obscuro da sociedade. “De Psicose, do Hitchcock, até hoje, temos essa necessidade de ver para poder expurgar coisas da nossa vida com o crime. O maior ensinamento que eu tive com a série foi de realmente olhar lados que, às vezes, a gente não quer ver, mas que são importantes de se debruçar”, finaliza.>