Francisco Cuoco morre aos 91 anos sem lembrar de papel que parou o Brasil na TV

O ator Francisco Cuoco, um dos maiores ícones da teledramaturgia brasileira, morreu nesta quinta-feira (19), aos 91 anos. O artista enfrentava problemas de saúde e limitações físicas nos últimos anos de vida, período em que foi homenageado no programa Tributo da TV Globo. Em uma de suas últimas entrevistas, ele surpreendeu o público ao afirmar que já não se lembrava de um dos personagens mais marcantes de sua carreira: o ilusionista Herculano Quintanilha, da novela O Astro, exibida originalmente em 1977.

A revelação foi feita em entrevista à Folha de S.Paulo. Cuoco admitiu que sua memória já não o deixava recordar o papel que o consagrou como galã da televisão. Herculano era um vidente enigmático, personagem central da trama escrita por Janete Clair e dirigida por Daniel Filho. A novela fez tanto sucesso que interferiu na rotina dos brasileiros e virou fenômeno cultural.

Na época, donos de restaurantes relataram queda no movimento durante o horário da exibição da novela. A cantora Maria Bethânia, por exemplo, chegou a pedir uma televisão no camarim do Canecão, no Rio de Janeiro, para acompanhar os capítulos antes de subir ao palco.

O impacto de O Astro também reverberou na literatura. Em sua coluna no Jornal do Brasil, o poeta Carlos Drummond de Andrade chamou Janete Clair de “usineira de sonhos” e escreveu, após o fim da novela: “Agora que O Astro acabou vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando”.

De acordo com o Observatório da TV, Cuoco sempre foi a primeira escolha da TV Globo para o papel. Houve, no entanto, uma tentativa inicial de escalar outro ator, já que o artista havia saído recentemente de outro projeto e se discutia dar um “descanso de imagem”. A emissora manteve a escolha, e Cuoco foi amplamente elogiado pela crítica e pelo público.

Em 2011, a Globo produziu um remake da novela, com Rodrigo Lombardi interpretando Herculano. Francisco Cuoco fez uma participação especial no projeto como Ferragus, mentor do protagonista, uma homenagem simbólica à sua trajetória e importância na história da emissora.