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Agência Correio
Publicado em 15 de agosto de 2025 às 15:00
Um pedaço da história voltou a aparecer nas águas profundas de Salvador, na Bahia. Trata-se do Belmonte, embarcação de 36,9 metros construída na Alemanha em 1914, que naufragou na Baía de Todos-os-Santos em 1941. >
Porto da Barra
Segundo o médico e mergulhador László Mocsári, responsável por comunicar a descoberta ao projeto Naufrágios do Brasil, o Belmonte operava no transporte de mercadorias entre portos nacionais, prática conhecida como navegação de cabotagem, desde pelo menos a década de 1920.>
O especialista relata que o navio era bastante usado para levar café e cacau até grandes navios com rotas internacionais, que não conseguiam atracar em portos menores, como os de Belmonte e Ilhéus, no sul da Bahia.>
O naufrágio ocorreu há mais de 80 anos, na madrugada de 18 de dezembro de 1941, quando o Belmonte navegava rumo a portos menores, carregando remédios e bebidas.>
Ao sair da Baía de Todos-os-Santos, na altura da Ilha de Itaparica, a embarcação de 90 toneladas se chocou contra o cargueiro Norma, de 400 toneladas.>
O navio maior não sofreu danos, mas o Belmonte teve um grande buraco aberto no casco e não resistiu ao impacto. Na ocasião, os dez tripulantes e nove passageiros foram resgatados pelo próprio Norma e levados até Salvador.>
A confirmação da localização do Belmonte, feita neste ano pelos mergulhadores László Mocsári, Peter Tofte, Marcelo Rosário, José Manoel Lusquinhos, Roberto Costa Pinto e Fagner Rodrigues, teve início em 2018.>
Naquele ano, junto de outros três mergulhadores, Mocsári soube do possível ponto do naufrágio por pescadores que haviam encontrado o local por acaso em 2010, durante a perseguição a um peixe cioba.>
Na primeira visita à área, um dos pescadores mostrou objetos retirados dali.>
Entre eles, estavam uma garrafa da marca Fratelli Vita, tradicional fábrica de refrigerantes de Salvador criada em 1902, e um telégrafo com a inscrição “Belmonte Bahia”, primeira pista concreta de que poderia ser o navio desaparecido.>
Com o telégrafo como evidência inicial, o grupo começou a pesquisar sobre a embarcação. Um dos materiais usados foi o livro Naufrágios e Afundamentos na Costa Brasileira, de José Góes de Araújo, que relatava um acidente com esse mesmo nome em 1941.>
A presença da garrafa da Fratelli Vita reforçava a hipótese de que o Belmonte tivesse feito escala em Salvador antes de zarpar.>
A confirmação definitiva veio quando Mocsári buscou ajuda de Maurício Carvalho, biólogo e estudioso de naufrágios. Ao consultar jornais antigos, Carvalho encontrou informações que garantiram: os destroços pertenciam ao Belmonte.>
Segundo Mocsári, a parte mais imponente preservada no local é o motor a diesel de três cilindros.>
Os mergulhadores também identificaram quatro âncoras: uma na popa, outra perto do motor e duas na proa, sugerindo que nenhuma delas foi lançada durante o acidente.>
O registro inclui ainda dois guinchos situados na proa, várias garrafas espalhadas pelo centro da embarcação e um segundo telégrafo.>