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Fernanda Varela
Publicado em 16 de maio de 2025 às 05:30
A mediunidade é uma das bases centrais do Espiritismo, e foi amplamente estudada por Allan Kardec no século 19 e por Chico Xavier ao longo do século 20. Na obra O Livro dos Médiuns, publicado em 1861, Kardec classificou os principais tipos de médiuns com base em centenas de observações e comunicações espirituais. Décadas depois, Chico Xavier se tornaria o exemplo vivo dessas manifestações, atuando de forma prática e constante por mais de 70 anos. >
Confira os tipos de mediunidade, segundo Allan Kardec, acompanhados de exemplos da atuação mediúnica de Chico Xavier, que ajudam a entender como essas manifestações ocorrem na prática e como devem ser conduzidas.>
Sentem a presença dos Espíritos de forma espontânea, física ou emocional. Essa sensibilidade é a base da maioria das outras formas de mediunidade. Chico Xavier relatava sentir intensamente as vibrações espirituais desde a infância, o que provocava perturbações e visões ainda sem compreensão na época.>
Ouvem vozes ou sons espirituais. Chico dizia ouvir nitidamente os Espíritos, especialmente Emmanuel, seu guia espiritual, que lhe orientava por meio de diálogos interiores constantes. Segundo ele, Emmanuel “falava como se estivesse ao lado”.>
Falam em nome dos Espíritos durante o transe. Embora Chico tenha usado mais frequentemente a escrita, há relatos de reuniões em que ele também psicofonava, especialmente em momentos de instruções ou consolo a familiares.>
Veem os Espíritos com clareza ou de forma simbólica. Chico relatava visões desde a infância, como quando viu sua mãe desencarnada no quintal de casa, e depois em inúmeras reuniões mediúnicas. Tinha a capacidade de enxergar entidades em prece, trabalhadores espirituais e até descrições de ambientes do plano espiritual.>
Entram em estado de desprendimento profundo, semelhante ao sonambulismo, permitindo observações no plano espiritual. Chico narrava vivências em que era levado, durante o sono ou reuniões mediúnicas, a hospitais e colônias espirituais, onde via cenas que depois descrevia em detalhes.>
Atuam com fluidos que aliviam ou curam doenças. Embora Chico não se apresentasse como médium curador, é comum o relato de pessoas que se sentiam aliviadas após o contato com ele, seja por uma palavra ou pela imposição espontânea das mãos, quase sempre acompanhada por preces.>
Recebem mensagens pela escrita, que pode ser mecânica, semi-mecânica ou intuitiva. Esse foi o principal tipo de mediunidade de Chico Xavier, que psicografou mais de 450 livros. Ele dizia que sua mão era “movida por outras mãos” e que, na maioria das vezes, não tinha consciência do que havia escrito.>
Recebem ideias, palavras ou imagens de forma sutil, sob influência espiritual. Muitos relatos indicam que, mesmo fora das sessões formais, Chico recebia intuições de Emmanuel para responder a cartas ou tomar decisões no cotidiano.>
Captam fatos antes que aconteçam. Há registros de que Chico previa situações difíceis e alertava pessoas próximas com serenidade e discrição. Também interpretava intuições como orientações dos benfeitores espirituais.>
Têm acesso a revelações sobre o futuro. Embora evitasse previsões diretas, Chico foi associado a profecias como a “Data-limite” (segundo a qual a Terra passaria por grandes mudanças a partir de 2019 caso não entrasse em guerra global). Ele tratava o tema com cautela e ênfase na responsabilidade coletiva.>
Provocam fenômenos materiais, como ruídos, movimentos de objetos e materializações. Em Pedro Leopoldo, nos primeiros anos de sua mediunidade, Chico participou de sessões em que objetos se moviam ou fenômenos luminosos eram observados. Ele se afastou desse tipo de manifestação, considerando que o foco deveria ser na transformação moral.>
Produzem batidas (tiptologia) usadas pelos Espíritos para se comunicar. Esse tipo foi mais comum no início do Espiritismo. Chico teve contato com relatos do fenômeno, mas sua prática foi centrada na escrita.>
Mensagens espirituais aparecem no papel sem uso da mão humana. Esse fenômeno é raro. Não há registros confirmados de que Chico tenha produzido escrita direta, embora ele tenha lido sobre o tema e considerado que os Espíritos podem atuar sobre a matéria de maneira mais ampla do que compreendemos.>
Produzem obras como músicas, poemas ou pinturas mediúnicas. Chico psicografou dezenas de poesias atribuídas a autores desencarnados como Castro Alves, Augusto dos Anjos e Alphonsus de Guimaraens, muitas vezes com estilo literário idêntico ao do autor espiritual.>
Manifestam a mediunidade de forma espontânea e sem controle consciente. Chico passou por isso na infância, vendo e ouvindo Espíritos sem saber como lidar. Ao estudar o Espiritismo, passou a compreender e a disciplinar essas manifestações.>
Acreditam que podem provocar manifestações à vontade. Chico enfatizava que a mediunidade pertence aos Espíritos, e que o médium deve apenas se colocar à disposição. Dizia: “O telefone toca de lá para cá.”>
Estão sob domínio de Espíritos enganadores que os iludem com elogios ou promessas de grandeza. Chico alertava contra esse risco e dizia que orava para não cair em fascinação. Atribuía todos os méritos ao plano espiritual, recusando elogios e projeções públicas.>
Fingem fenômenos ou são enganados por Espíritos zombeteiros. Chico era rigoroso com a autenticidade: dizia que preferia perder um livro a publicá-lo com dúvida sobre sua origem. Quando identificava que uma comunicação era fantasiosa ou de origem duvidosa, a descartava.>
Um trabalho constante de humildade>
A obra de Allan Kardec permanece como a referência teórica essencial para compreender a mediunidade. Já a vida de Chico Xavier mostra como essa teoria pode se tornar prática diária, vivida com simplicidade, disciplina e dedicação ao bem. Enquanto Kardec organizou e codificou, Chico exemplificou e aprofundou, sem nunca se afastar da base espírita.>
Em ambos os casos, a mensagem é clara: a mediunidade não é um dom para exibição, mas uma tarefa de serviço. E quanto mais ostensiva, mais exigente ela se torna. Vale lembrar que o Espiritismo é uma doutrina complexa e profunda, e esta reportagem é apenas um resumo para que leigos consigam entender um pouco mais sobre este universo.>