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Por que as pessoas ficam cegas quando bebem metanol?

São Paulo enfrenta maior crise de intoxicação por metanol da história do Estado

  • Foto do(a) author(a) Agência Correio
  • Agência Correio

Publicado em 3 de outubro de 2025 às 10:01

Entenda como aparecem os sintomas típicos da intoxicação
Entenda como aparecem os sintomas típicos da intoxicação Crédito: Imagem gerada por inteligência artificial

São Paulo está enfrentando o maior surto de intoxicação por metanol de sua história, um evento que coloca em evidência os perigos dessa substância letal encontrada em bebidas alcoólicas adulteradas. O metanol é uma toxina potente, e sua ingestão pode desencadear uma série de sintomas graves que podem resultar em óbito ou em sequelas permanentes, como a cegueira.

O estado registra seis mortes confirmadas, sete casos de intoxicação e mantém outros 15 casos suspeitos sob investigação, todos relacionados à ingestão da substância tóxica em bebidas ilegais, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.

Em 1990, CORREIO noticiou mortes por ingestão de metanol na Bahia por Arquivo/CORREIO

Diante deste cenário de emergência, torna-se essencial que a população entenda como o metanol age no corpo para causar a cegueira e outros distúrbios de saúde. 

O metabolito que destrói a visão

A cegueira, que pode ser temporária ou permanente, é o sintoma mais temido da intoxicação por metanol. O designer digital Lucas Sales, por exemplo, relatou para o jornal Gazeta de São Paulo ter perdido a visão subitamente após consumir duas gin tônicas adulteradas em um bar da capital paulista em julho: “Eu comecei a ficar com uma tontura absurda e o quadro de cegueira, e eu fiquei sem entender nada."

De acordo com um estudo detalhado publicado na Annals of Medicine and Surgery, o metanol, quando metabolizado no fígado, transforma-se em ácido fórmico, um subproduto que é o real causador da acidose e da cegueira no corpo humano.

O acúmulo tanto do ácido fórmico quanto do outro subproduto, conhecido como formiato, é o que leva aos piores sintomas da intoxicação. O ácido fórmico é o responsável por levar o paciente a um quadro de acidose metabólica grave, que causa sérios problemas cardiorrespiratórios e intestinais, exigindo tratamento intensivo e imediato.

Já o formiato age como uma toxina que ataca diretamente as mitocôndrias, estruturas vitais que funcionam como as organelas responsáveis pela respiração e produção de energia das células do nosso corpo. Sem as mitocôndrias operando em sua capacidade total, as células do organismo sofrem um processo de sufocamento.

As células que compõem o nervo óptico, que transmite todas as informações que o nosso olho capta diretamente para o cérebro, são particularmente sensíveis e suscetíveis a essa falta de respiração celular causada pelo formiato. Isso é a chave para entender a cegueira e os distúrbios de visão causados, como visão turva, dilatação anormal da pupila ou a “visão de neve”.

Quantidade mínima é perigosa

Até mesmo uma quantidade muito pequena da substância pura pode causar danos permanentes. A ingestão de apenas 10 mililitros de metanol puro já tem o potencial de causar danos sérios e irreversíveis ao nervo óptico, levando, em muitos casos, à cegueira permanente do indivíduo intoxicado.

Um dos fatores que torna o metanol tão perigoso é a sua capacidade de mimetizar os sintomas de uma intoxicação comum por etanol, ou seja, de quem bebeu demais. Sintomas como confusão mental, forte tontura, sonolência e uma forte náusea podem começar a surgir já nos primeiros 30 minutos após a ingestão da bebida adulterada.

Lucas Sales relatou que, após ter ficado cego temporariamente, um amigo que o viu na rua comentou que ele havia saído “louquíssimo” do local. “Falei: ‘não saí louquíssimo, eu tinha ficado cego’”, ele conta. Ao retornar para casa, o designer foi recuperando gradativamente a visão, embora ela ainda permanecesse bastante turva e sem foco.

Sequelas após a internação

No dia seguinte à perda de visão, Lucas acordou com um quadro de fortes náuseas e diarreia, o que o levou à internação por três dias, recebendo medicações específicas. No entanto, mesmo após a alta e o tratamento inicial no hospital, o designer digital enfrentou uma persistência de alguns sintomas desagradáveis por um período de tempo maior.

“Eu fiquei quase duas semanas com a pressão arterial alterada e super desidratado, e olha que eu me hidrato bem”, disse Lucas. “Minha visão ficou turva por cerca de uma semana e eu sou designer, então olho não focava, eu não conseguia trabalhar".

Mesmo dois meses após a internação, Lucas Sales continua tratando com remédios as decorrências das náuseas intensas causadas pela intoxicação. Na época, dois meses antes do surto atual, os médicos não conseguiram determinar a causa do quadro e acabaram diagnosticando o paciente com intoxicação alimentar.

“Ninguém estava entendendo nada que estava acontecendo com o meu corpo. Agora tudo faz mais sentido, sabe?”, disse Lucas ao entender que seus sintomas se encaixam no quadro de envenenamento por metanol.

Em caso de emergência, ligue

Identificando os sintomas de intoxicação por metanol, a rapidez no atendimento é a chave para a sobrevivência e para evitar sequelas. A primeira atitude deve ser correr imediatamente para o hospital mais próximo e alertar urgentemente todas as pessoas que consumiram a mesma bebida adulterada que você.

O paciente ou seus acompanhantes devem ligar para os canais especializados de orientação enquanto se dirigem à unidade de saúde. O Disque-Intoxicação da Anvisa, pelo número 0800 722 6001, é o primeiro contato para obter orientações imediatas sobre como lidar com a situação de emergência.

Outra central importante é o Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI), que pode ser acionado de qualquer lugar do país pelos telefones (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733. É recomendado também entrar em contato com o CIATox da sua cidade para receber orientação especializada e informações sobre o tratamento mais adequado.

Lembre-se: o tempo é um fator determinante. Quanto mais rápido o atendimento for prestado e o tratamento for iniciado, menores serão as chances de um desfecho fatal ou de sequelas irreversíveis, como os danos permanentes à visão do paciente. A agilidade salva e reduz os riscos à saúde.