Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Agência Correio
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 10:01
São Paulo está enfrentando o maior surto de intoxicação por metanol de sua história, um evento que coloca em evidência os perigos dessa substância letal encontrada em bebidas alcoólicas adulteradas. O metanol é uma toxina potente, e sua ingestão pode desencadear uma série de sintomas graves que podem resultar em óbito ou em sequelas permanentes, como a cegueira.>
O estado registra seis mortes confirmadas, sete casos de intoxicação e mantém outros 15 casos suspeitos sob investigação, todos relacionados à ingestão da substância tóxica em bebidas ilegais, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.
>Mortes por ingestão de metanol na Bahia
Diante deste cenário de emergência, torna-se essencial que a população entenda como o metanol age no corpo para causar a cegueira e outros distúrbios de saúde.
>
A cegueira, que pode ser temporária ou permanente, é o sintoma mais temido da intoxicação por metanol. O designer digital Lucas Sales, por exemplo, relatou para o jornal Gazeta de São Paulo ter perdido a visão subitamente após consumir duas gin tônicas adulteradas em um bar da capital paulista em julho: “Eu comecei a ficar com uma tontura absurda e o quadro de cegueira, e eu fiquei sem entender nada."
>
De acordo com um estudo detalhado publicado na Annals of Medicine and Surgery, o metanol, quando metabolizado no fígado, transforma-se em ácido fórmico, um subproduto que é o real causador da acidose e da cegueira no corpo humano.
>
O acúmulo tanto do ácido fórmico quanto do outro subproduto, conhecido como formiato, é o que leva aos piores sintomas da intoxicação. O ácido fórmico é o responsável por levar o paciente a um quadro de acidose metabólica grave, que causa sérios problemas cardiorrespiratórios e intestinais, exigindo tratamento intensivo e imediato.
>
Já o formiato age como uma toxina que ataca diretamente as mitocôndrias, estruturas vitais que funcionam como as organelas responsáveis pela respiração e produção de energia das células do nosso corpo. Sem as mitocôndrias operando em sua capacidade total, as células do organismo sofrem um processo de sufocamento.
>
As células que compõem o nervo óptico, que transmite todas as informações que o nosso olho capta diretamente para o cérebro, são particularmente sensíveis e suscetíveis a essa falta de respiração celular causada pelo formiato. Isso é a chave para entender a cegueira e os distúrbios de visão causados, como visão turva, dilatação anormal da pupila ou a “visão de neve”.
>
Até mesmo uma quantidade muito pequena da substância pura pode causar danos permanentes. A ingestão de apenas 10 mililitros de metanol puro já tem o potencial de causar danos sérios e irreversíveis ao nervo óptico, levando, em muitos casos, à cegueira permanente do indivíduo intoxicado.
>
Um dos fatores que torna o metanol tão perigoso é a sua capacidade de mimetizar os sintomas de uma intoxicação comum por etanol, ou seja, de quem bebeu demais. Sintomas como confusão mental, forte tontura, sonolência e uma forte náusea podem começar a surgir já nos primeiros 30 minutos após a ingestão da bebida adulterada.
>
Lucas Sales relatou que, após ter ficado cego temporariamente, um amigo que o viu na rua comentou que ele havia saído “louquíssimo” do local. “Falei: ‘não saí louquíssimo, eu tinha ficado cego’”, ele conta. Ao retornar para casa, o designer foi recuperando gradativamente a visão, embora ela ainda permanecesse bastante turva e sem foco.
>
No dia seguinte à perda de visão, Lucas acordou com um quadro de fortes náuseas e diarreia, o que o levou à internação por três dias, recebendo medicações específicas. No entanto, mesmo após a alta e o tratamento inicial no hospital, o designer digital enfrentou uma persistência de alguns sintomas desagradáveis por um período de tempo maior.
>
“Eu fiquei quase duas semanas com a pressão arterial alterada e super desidratado, e olha que eu me hidrato bem”, disse Lucas. “Minha visão ficou turva por cerca de uma semana e eu sou designer, então olho não focava, eu não conseguia trabalhar".
>
Mesmo dois meses após a internação, Lucas Sales continua tratando com remédios as decorrências das náuseas intensas causadas pela intoxicação. Na época, dois meses antes do surto atual, os médicos não conseguiram determinar a causa do quadro e acabaram diagnosticando o paciente com intoxicação alimentar.
>
“Ninguém estava entendendo nada que estava acontecendo com o meu corpo. Agora tudo faz mais sentido, sabe?”, disse Lucas ao entender que seus sintomas se encaixam no quadro de envenenamento por metanol.
>
Identificando os sintomas de intoxicação por metanol, a rapidez no atendimento é a chave para a sobrevivência e para evitar sequelas. A primeira atitude deve ser correr imediatamente para o hospital mais próximo e alertar urgentemente todas as pessoas que consumiram a mesma bebida adulterada que você.
>
O paciente ou seus acompanhantes devem ligar para os canais especializados de orientação enquanto se dirigem à unidade de saúde. O Disque-Intoxicação da Anvisa, pelo número 0800 722 6001, é o primeiro contato para obter orientações imediatas sobre como lidar com a situação de emergência.
>
Outra central importante é o Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI), que pode ser acionado de qualquer lugar do país pelos telefones (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733. É recomendado também entrar em contato com o CIATox da sua cidade para receber orientação especializada e informações sobre o tratamento mais adequado.
>
Lembre-se: o tempo é um fator determinante. Quanto mais rápido o atendimento for prestado e o tratamento for iniciado, menores serão as chances de um desfecho fatal ou de sequelas irreversíveis, como os danos permanentes à visão do paciente. A agilidade salva e reduz os riscos à saúde.
>