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É seguro beber no final de semana? Veja os riscos de intoxicação por metanol

Brasil tem 59 notificações de intoxicação por metanol, sendo cinco no Nordeste

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 3 de outubro de 2025 às 05:30

Bebidas destiladas correm mais risco de adulteração
Bebidas destiladas correm mais risco de adulteração Crédito: Pablo Jacob/Governo de São Paulo

Em julho de 1990, o CORREIO noticiou o esvaziamento de bares e restaurantes na Bahia por um motivo bem específico: o medo dos baianos de serem intoxicados por metanol. Os jornais da época divulgavam as mortes no interior do estado por bebidas alcoólicas adulteradas, e o clima era de tensão. Em 2025, as dúvidas sobre a segurança das bebidas consumidas por brasileiros vêm à tona com novos casos de intoxicação. 

Em coletiva de imprensa realizada na quinta-feira (2), o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que sete mortes suspeitas de terem sido provocadas por intoxicação com metanol são investigadas. Ao menos 11 casos de envenenamento foram confirmados. Ele reforçou a recomendação de que deve-se evitar o consumo de destilados. Os casos estão distribuídos nos estados de São Paulo, Pernambuco e Distrito Federal. Por enquanto, não há registros de casos suspeitos na Bahia. 

As secretarias de Saúde do Estado e de Salvador estão orientando profissionais para que estejam atentos aos casos suspeitos. Jucelino Nery, diretor do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia (CIATox-BA), explica que uma nota técnica foi divulgada para alertar sobre o aumento de casos no país. As pessoas devem procurar atendimento médico se apresentarem sintomas de intoxicação. 

Se houve ingestão de bebida alcoólica, e depois de 12 horas, a sensação de bebedeira continua, com dor abdominal, náusea e vômito, é importante buscar o serviço de saúde

Jucelino Nery

Diretor do CIATox-BA

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) instrui para que as unidades estejam atentas a situações clínicas compatíveis com o quadro e que quaisquer notificações sejam imediatamente comunicadas à pasta. "A Sesab reforça que mantém diálogo permanente com o Ministério da Saúde [MS] e com as autoridades sanitárias nacionais para monitorar a situação em outros estados, onde foram notificados casos suspeitos e confirmados", informa. 

Em Salvador, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), intensificou as ações de fiscalização em bares, restaurantes, distribuidoras, supermercados e demais pontos de venda. "O objetivo é proteger a população e evitar que episódios semelhantes ocorram na capital baiana", diz a pasta. Ao menos seis bares foram fechados em São Paulo por suspeita de venda de bebidas contaminadas com metanol.

Bebidas destiladas têm mais risco de adulteração por Sumaia Villela/Agência Brasil

Crime 

Ao menos 60 mortes em diferentes cidades baianas foram registradas ao longo da década de 1990 pela intoxicação. Na época, as grandes vilãs eram as cachaças artesanais que tinham, na maioria dos casos, erros de produção. O comerciante Edvaldo Sales foi indiciado pela venda de bebidas contaminadas em Santo Amaro. A empresa Sasil, dona de grande parte dos galões onde as bebidas eram armazenadas, também foi acusada. O medo era geral. 

"A população divide-se entre o medo de novas mortes e a repulsa à cachaça, o que pode ser constatado nos bares vazios e mesas fechadas da maioria dos botecos da região", descreveu o CORREIO na edição do dia 25 de julho de 1990. A reportagem mostrava imagens de estabelecimentos sem clientes e do corpo coberto de uma das vítimas da cachaça: a lavradora Raimunda de Jesus. 

Nove anos depois, a comoção foi ainda maior. Ao menos 35 pessoas morreram e outras 400 apresentaram sintomas de envenenamento após a ingestão de uma cachaça artesanal. As intoxicações foram registradas em dez cidades da região sudoeste do estado. Entre elas estavam Nova Canaã, Dário Meira, Ibicuí, Poções e Itiruçu.

O ministro Alexandre Padilha, da Saúde, explicou que os casos recentes de intoxicação por metanol são tratados como adulteração intencional de bebidas alcoólicas e não como falhas de produção - como ocorria no passado.

"É diferente do processo de adulteração que está se identificando [atualmente], que provavelmente foi feito depois da produção dessas bebidas. Alguém adulterou essas garrafas. Então, quero reforçar essa orientação sobretudo para os destilados", completou.

Em 1990, CORREIO noticiou mortes por ingestão de metanol na Bahia por Arquivo/CORREIO

O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos. Ele é altamente perigoso quando ingerido e ataca inicialmente o fígado, podendo causar cegueira, coma e até morte. O ministro disse que foi estabelecido um estoque de etanol farmacêutico nos hospitais universitários federais e a compra de 4,3 mil ampolas. Ele age como antídoto ao impedir que o metanol seja convertido em ácido fórmico, uma substância ainda mais perigosa.

É seguro beber? 

Com os casos suspeitos sendo notificados em diferentes estados brasileiros, Alexandre Padilha recomendou que os brasileiros evitem o consumo de destilados. Ele explicou ainda que a adulteração é mais improvável em vinhos e cervejas. 

"Estamos diante de um crime de produtos destilados, incolores, onde se tem técnicas de adulteração desse produto que você não tem no caso de cerveja, que é uma bebida que tem a tampa, tem gás, é muito mais difícil de adulterar", detalhou. Após a divulgação dos casos, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) montou uma estratégia para atuar no combate de bebidas adulteradas. 

Leandro Menezes, presidente da entidade na Bahia, explica que treinamentos estão em curso para cerca de 10 mil empresas brasileiras. Os funcionários são orientados, através de encontros online, a identificar bebidas possivelmente adulteradas. "Treinamentos online estão sendo realizados duas vezes ao dia para orientar os funcionários. É preciso checar os lacres, rótulos e impressões dos produtos", afirma. 

Ele explica ainda que o cuidado com o descarte das embalagens é essencial. "Os casos identificados possivelmente têm relação com a adulteração de bebidas. É importante que os estabelecimentos descartem corretamente as embalagens para que elas não sejam reutilizadas para a venda de bebidas falsas", detalha. 

Prevenção 

Jucelino Nery, diretor do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia, indica que os consumidores continuem frequentando os estabelecimentos que já conhecem e confiam. "A população deve estar atenta quanto à origem das bebidas. Comprar as bebidas em locais confiáveis, verificar o lacre e a procedência. O metanol não é identificado visualmente e nem pelo cheiro, o que dificulta muito", afirma. 

"É importante ir à locais confiáveis, que já são frequentados, e que não tragam insegurança quanto à origem dos produtos", completa Jucelino Nery. Para os donos de bares e restaurantes, o momento é de atenção. "Há sim o receio da diminuição de clientes, mas estamos lutando contra isso com informação e treinamentos para que o segmento esteja preparado", diz Leandro Menezes, da Abrasel.