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Agência Correio
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 13:52
Você não percebe a olho nu, mas eles estão na sua refeição: fragmentos microscópicos de plástico podem estar até em um simples pedaço de carne. No calor da panela, derretem e se misturam à comida, endurecendo novamente quando esfriam no prato. >
Essas partículas quase imperceptíveis são chamadas de microplásticos e nanoplásticos, com menos de 5 mm ou dimensões entre 1 e 1 mil nanômetros. Eles se espalham por todo lugar, da água à comida, e já chegam ao corpo humano.>
Ameaça do microplástico
Estudos recentes confirmaram a presença desses fragmentos em órgãos como o cérebro, a placenta e até as artérias.>
“Plásticos baseados em materiais fósseis, nas suas formas micro e nanoparticuladas, foram encontrados em virtualmente todos os órgãos do corpo que foram estudados”, afirmou o professor Paul Anastas à BBC.>
Hortaliças, frutas, ovos, carnes e até o sal podem conter microplásticos. Isso ocorre tanto pelo cultivo em áreas já contaminadas quanto pelo contato com materiais plásticos durante a produção industrial de alimentos.>
De acordo com a pesquisadora Sheela Sathyanarayana, da Universidade de Washington, “as fábricas usam uma enorme quantidade de plástico para aumentar a eficiência e o rendimento dos produtos”.>
Há medidas simples que ajudam a diminuir a exposição. Lavar bem o arroz antes do cozimento pode reduzir até 40% da quantidade de partículas. Em carnes e peixes, a limpeza também ajuda, mas não elimina por completo.>
O sal marinho está entre os alimentos mais contaminados, reflexo direto da poluição oceânica. Já os ultraprocessados tendem a acumular ainda mais microplásticos durante sua fabricação.>
A água potável, seja da torneira ou engarrafada, é outra via importante de contaminação. Pesquisas mostraram que apenas abrir e fechar a tampa de garrafas plásticas pode liberar centenas de fragmentos a cada vez.>
“Estão surgindo estudos que demonstram que existem muito mais micro e nanoplásticos na água engarrafada do que se pensava anteriormente”, disse Annelise Adrian, da ONG World Wide Found for Nature (WWF), à BBC.>
O uso de filtros de carvão pode reter até 90% das partículas, fazendo da água tratada da torneira uma opção mais segura. Ainda assim, até saquinhos de chá feitos de plástico liberam bilhões de microfragmentos quando colocados em água quente.>
As embalagens são outra fonte frequente. Rasgar sacos, abrir pacotes ou usar potes plásticos antigos pode liberar milhares de partículas.>
Em recipientes de plástico aquecidos no micro-ondas, estudos mostram que bilhões de micro e nanoplásticos podem se soltar em poucos minutos.>
Tábuas de corte de polietileno, colheres plásticas e panelas antiaderentes também representam risco. Testes apontam que apenas cortar vegetais ou carne em tábuas de plástico pode liberar centenas de fragmentos por uso.>
Para a bióloga Vilde Snekkevik, pesquisadora do Instituto Norueguês de Água, “o problema é que, simplesmente, nós o usamos demais. Ele está em toda parte”.>
Entre as alternativas estão o vidro, o inox e alguns bioplásticos. O silicone, por exemplo, solta menos partículas, mas ainda se degrada quando exposto a altas temperaturas.>
Mesmo assim, especialistas reforçam orientações práticas: trocar utensílios que apresentem arranhões ou desgaste e optar, sempre que possível, por materiais mais duradouros e estáveis.>
Ainda não se conhece totalmente o impacto do acúmulo de microplásticos no corpo humano. Parte deles pode ser eliminada naturalmente, mas os efeitos de longo prazo seguem sob investigação.>
Para Sathyanarayana, mudanças simples já têm impacto positivo. “Existem muitas soluções simples em casa, realmente fáceis de adotar”, afirmou à BBC.>