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Agência Correio
Publicado em 8 de outubro de 2025 às 16:00
Se você possui um dos sobrenomes desta lista, é possível que seus antepassados tenham sido órfãos. Essa constatação, revelada por um levantamento histórico, mostra como certos sobrenomes espanhóis guardam marcas discretas de um passado de abandono e vulnerabilidade. >
Origem dos sobrenomes
Ao longo dos séculos, esses nomes foram incorporados aos registros civis, preservando fragmentos de histórias esquecidas e revelando aspectos pouco conhecidos da origem de muitas famílias. >
Nos próximos parágrafos, vamos entender como sobrenomes como Expósito, De la Iglesia, De la Misericordia e Trobat surgiram, se difundiram e se mantiveram até hoje. Também veremos como a legislação espanhola tentou apagar a lembrança de uma época em que um nome podia indicar que alguém fora deixado sem família reconhecida, mas em muitos casos, essa memória continuou viva através das gerações.>
Entre todos os nomes dessa lista, Expósito é o mais representativo. Derivado do latim expositus, o termo significa “exposto” ou “abandonado” e era utilizado para identificar bebês deixados nas portas de igrejas, hospitais e casas de caridade. Essa prática era comum em períodos em que a pobreza e o preconceito social dificultavam o cuidado de crianças nascidas fora do casamento.>
Esses recém-nascidos, acolhidos por instituições religiosas, recebiam o nome Expósito como forma de registro civil e identificação. Com o passar do tempo, o termo deixou de ser apenas uma designação administrativa e se consolidou como sobrenome, garantindo aos descendentes um reconhecimento legal, mesmo sem laços familiares definidos.>
Além de Expósito, há outros sobrenomes que tiveram origem semelhante. Denominações como De la Iglesia, De la Misericordia e Trobat eram muitas vezes atribuídas a crianças sem pais conhecidos. O objetivo era associar esses pequenos a instituições religiosas, locais de acolhimento ou símbolos de fé, evitando estigmas mais diretos e dolorosos.>
O sobrenome Trobat, por exemplo, era usado em registros como uma alternativa menos evidente. Ao invés de declarar explicitamente a condição de abandono, o termo procurava oferecer uma aparência neutra, evitando a discriminação social que muitos carregavam simplesmente por causa do nome.>
A criação da Lei do Registro Civil de 1870 marcou uma transformação significativa nas práticas de registro. A norma passou a proibir o uso de sobrenomes que pudessem indicar a origem de abandono, buscando proteger as crianças do estigma social que esses nomes carregavam.>
Mesmo com a proibição, muitos desses sobrenomes já estavam enraizados e continuaram a ser transmitidos de geração em geração. Assim, nomes como Expósito e De la Iglesia permanecem vivos nos registros até hoje, representando um elo entre o presente e uma parte dolorosa, mas importante, da história familiar espanhola.>
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) da Espanha, há mais de 34 mil pessoas com Expósito como primeiro sobrenome e outras 37 mil que o possuem como segundo. Esses números mostram como um nome que nasceu de uma condição de exclusão tornou-se, ao longo do tempo, parte legítima e reconhecida da identidade de milhares de famílias.>
Esses sobrenomes, que um dia foram símbolos de abandono, hoje funcionam como testemunhos de superação e resistência. Eles revelam que cada nome carrega uma história, um contexto e uma memória social e que, em muitos casos, a genealogia de um simples apelido pode esconder séculos de luta e de busca por pertencimento.>