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Gilberto Barbosa
Publicado em 26 de setembro de 2025 às 06:00
Celebrar a ancestralidade que une as comunidades afro diaspóricas do Brasil e dos Estados Unidos. Com essa proposta, a exposição Ancestral: Afro-Américas abre as portas para o público nesta sexta-feira (26), no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), no Centro Histórico. São mais de 130 obras de artistas negros dos dois países, que ficarão expostas no espaço até o dia 1º de fevereiro. >
A apresentação das obras foi dividida em três núcleos temáticos: Corpo, Sonho e Espaço, que exploram limites da representação da pessoa negra e tratam de temas como identidade, herança, imigração, história e comunidade, além de uma seção dedicada à Arte Africana Tradicional, que visa unir a herança africana com a arte desenvolvida no Brasil e nos Estados Unidos. Entre os artistas expostos no museu estão figuras como Jayme Figura, Carrie Mae Weems, Sebastião Januário, Simone Leigh e Mestre Didi. >
“Pensamos naquilo que essas comunidades têm em comum e nesses lugares que elas habitam junto. Nunca houve a narrativa de encontro entre esses artistas, mas todos eles estavam pensando nesses laços que os unem”, afirmou a curadora da mostra Ana Beatriz Almeida. >
Através de fotografias, pinturas e esculturas, o espectador é imerso na história das culturas afrobrasileira e afro-americana, com referência a histórias como a da Festa da Boa Morte, realizada nos meses de agosto em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, e a do navio Clotilda, o último a transportar africanos escravizados para os Estados Unidos, em 1860, chegando ao Alabama.>
Exposição “Ancestral: Afro-Américas” no Muncab
De acordo com o diretor artístico Marcello Dantas, a montagem foi pensada a partir da história de dois primos exilados da sua comunidade de origem, na costa oeste da África, e separados entre Salvador, Bahia, e a cidade de Charleston, no estado americano da Carolina do Sul. >
“Podíamos fazer isso de várias formas, mas esses países possuem algo em comum que é maravilhoso, que é essa história das duas maiores diásporas [pretas] da humanidade. A ideia de juntar essas poéticas era muito provocante e esse projeto busca estabelecer esses pontos visuais entre os dois povos que, mesmo próximos, foram separados há 200 anos no mesmo continente”, disse. >
Ana Beatriz lembra que a disposição das obras no museu representa um diálogo entre as culturas dos dois países. Uma dessas colaborações é entre o brasileiro Abdias Nascimento (1914-2011) e o americano LeRoi Johnson. Natural de Buffalo, no estado de Nova Iorque, ele exalta a força da herança africana na capital baiana e no Brasil até os dias atuais. >
“Salvador é uma das cidades mais importantes para as pessoas negras (de todo o mundo) por ter sido um dos locais que mais receberam africanos escravizados e por ter mantido uma conexão mais próxima com o continente do que os Estados Unidos. Não temos essa cultura que nos conecta com a terra-mãe como no Brasil, que é tão africano quanto o próprio continente”, pondera LeRoi. >
“Essa é uma oportunidade para que as pessoas possam ter contato com essas obras, que questionam, provocam e trazem um repertório visual muito importante para as populações afrobrasileiras. É uma mostra que afirma a nossa identidade, a nossa memória e que questiona como o racismo aprisiona os nossos corpos e como podemos ensaiar caminhos de liberdade a partir dos sonhos”, afirma Cintia Maria, diretora do Muncab.>
SERVIÇO - Exposição Ancestral: Afro-Américas | a partir de sexta (26), no Muncab (Rua das Vassouras, 25, Centro Histórico) | Visitação: de terça a domingo até 1º de fevereiro, das 10h às 17h | Ingressos: R$ 20 e R$ 10; gratuito às quartas e domingos.>