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Flavia Azevedo
Publicado em 25 de novembro de 2025 às 20:54
O burnout materno, também denominado burnout parental, é conceituado como um estado de exaustão crônica associado à vivência da parentalidade. Embora seja um tema que tem se tornado cada vez mais evidente, ele carece de uma interpretação aprofundada por parte dos profissionais da área da saúde. Os sintomas se manifestam como sobrecarga, cansaço extremo, exaustão física, ansiedade e vergonha, mas, diferentemente do burnout profissional, este esgotamento possui uma singularidade em relação à depressão ou outras variações normais da saúde mental. >
O desenvolvimento desse quadro de exaustão é impulsionado por fatores estruturais e socioculturais. A idealização da maternidade contribui para a pressão cultural para ser uma “boa mãe”, o que aumenta os sentimentos de culpa e o risco de burnout. Essa pressão leva a mulher a sentir que sua identidade se dissolve na função materna. Estruturalmente, o problema reside na desproporcionalidade do trabalho de cuidado: dados da PNAD Contínua (IBGE) de 2022 revelam que 93,2% das mulheres negras e 91,6% das mulheres brancas realizaram afazeres domésticos, comparado a 77,7% dos homens negros e 79,8% dos homens brancos. A sobrecarga de trabalho não remunerado é evidenciada pelo tempo médio semanal dedicado a afazeres domésticos e/ou tarefas de cuidado de pessoas, que é significativamente maior para as mulheres em diversas regiões do país.>
A ausência de políticas públicas efetivas e a invisibilidade do trabalho do cuidado agravam a vulnerabilidade emocional das mães. A sobrecarga é particularmente intensa para grupos mais vulneráveis. O burnout materno representa um impacto significativo na saúde mental de mulheres em situação de maternidade solo, destacando a carga emocional, física e social enfrentada por elas. A maternidade solo é um contexto que exige atenção específica, suporte social e políticas públicas eficazes para reduzir o estresse e a ansiedade. Para as mães atípicas, a sobrecarga é exacerbada pela busca constante por recursos e tratamentos. Em 2025, a pesquisadora Patrícia Salvatori relatou que 70% das mulheres que se tornam mães atípicas deixam o mercado de trabalho ou precisam fazer grandes mudanças profissionais, sendo que 86% dos cuidados com a pessoa com deficiência são assumidos pela mãe.>
Mães
O esgotamento não é apenas um problema individual, afetando também a dinâmica familiar e o desenvolvimento dos filhos. Pesquisas indicam que, em altos níveis, o burnout parental pode se relacionar com maus-tratos infantis. Um estudo sobre a relação entre exaustão e estilos parentais demonstrou que as mães que utilizam o estilo Autoritário (envolvendo práticas mais coercitivas e menor aceitação) apresentaram os maiores níveis de exaustão parental. Por outro lado, as menores médias de esgotamento foram encontradas em mães que adotam o estilo Autoritativo e o Permissivo Indulgente, pois o equilíbrio entre aceitação e coerção, aliado ao diálogo, proporciona um equilíbrio saudável para a mãe e resulta em menores níveis de frustração.>
A busca por soluções passa pelo fortalecimento da rede de apoio. O Portal Telemedicina enfatiza que a ajuda deve ser prática e empática, incluindo a divisão de tarefas domésticas e cuidados com as crianças, sem que a mãe precise pedir. É fundamental que essa rede seja de amparo, não de julgamento ou palpite. Para as mães com dificuldade de deslocamento, a telemedicina e o suporte psicológico online são aliados importantes no tratamento e acolhimento.>
Em relação às políticas de apoio, o Portal FGV indica que a provisão de creches e pré-escolas é um instrumento essencial para a conciliação entre maternidade e vida laboral, pois as mães com crianças pequenas na escola têm maiores chances de estar empregadas. No Congresso, há um projeto de lei que prevê a Política Nacional de Cuidados, cujo objetivo é promover o reconhecimento, a redução e a redistribuição do trabalho não remunerado do cuidado. Medidas nas empresas, como a oferta de auxílio-creche e auxílio-escola, e o incentivo à licença-paternidade, são estratégias essenciais. >
Por @flaviaazevedoalmeida>