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Entre a técnica e a poesia: José Ignácio transforma ferro em arte na exposição ‘Desperta, Ferro!’

Gratuita, mostra tem início nesta quinta (23) e segue até o dia 21 de novembro no Museu de Arte da Bahia (MAB)

  • Foto do(a) author(a) Maria Raquel Brito
  • Maria Raquel Brito

Publicado em 23 de outubro de 2025 às 06:00

Obras são feitas a partir de peças de demolição e descarte
Obras são feitas a partir de peças de demolição e descarte Crédito: Leonardo Mendonça/Divulgação

Vai parar num ferro-velho aquilo que ninguém quer mais. Descartado, sem utilidade. Para o artista José Ignácio, não é bem assim. Por dois anos, ele caminhou por mais de 20 ferros-velhos de Salvador, selecionando peças de demolição e descarte para a próxima exposição. Sentia que elas que o escolhiam, cada uma cheia de histórias dos usos passados e de possibilidades para novas existências.

O resultado dessa pesquisa chega hoje (23) ao Museu de Arte da Bahia (MAB), através da exposição “Desperta, Ferro!”. A entrada é gratuita e a mostra poderá ser visitada até 21 de dezembro.

Com curadoria de Alana Silveira e pesquisa de Ticiana Lamego, a exposição reúne 20 esculturas em ferro, madeira e pedra, muitas delas de grande escala – chegando a aproximadamente três metros de altura. Juntas, as obras pesam cerca de seis toneladas.

"Desperta, Ferro!" fica no MAB até 21 de dezembro por Guilherme Campos

A vontade de trabalhar predominantemente com o ferro existe em José Ignácio desde 2023, quando montou a exposição “Orí Tupinambá” (CAIXA Cultural Salvador, 2023), em que se debruça sobre relatos de viajantes do século XVI e explora materiais como pedra, madeira e metal a partir de um imaginário ancestral de divindades sagradas. Agora, continua o percurso através da materialidade do ferro.

“Num ferro-velho os pedaços vêm de todos os lugares, tem uma peça que vem de um trator de Tegucigalpa, outra de um motor elétrico de Kuala Lumpur, outra é um arado do Colorado. Eles vêm com essa história pregressa, e fazer com que se encontrarem, dialoguem e encaixem, com que façam sentido, suscitava a minha imaginação. E eu, como arquiteto, ia explorando o que eles poderiam vir a ser. E comecei a fazer coisas que estavam entre a técnica e a poesia”, diz o artista.

A disposição para trabalhar e ressignificar o ferro, potencializada pela formação em arquitetura e longa trajetória como construtor, também vem de um lugar crítico: suscitar uma reflexão sobre consumo, descarte e permanência.

“Ferro-velho é o lugar de descarte da sociedade moderna. Então, essa vontade de reconstruir algo que foi jogado fora para sinalizar que existe vida depois da morte. Nossa sociedade joga fora porque ela está nesse círculo: constrói, constrói, utiliza, se arrepende e joga fora”, diz.

Além das obras finalizadas, o projeto expográfico convida o público a acompanhar o percurso criativo, revelando esboços, estudos e a prática artesanal que sustenta sua produção. José Ignácio conta que o próprio método de construção da mostra indicou a ele possibilidades artísticas. De repente, já não era ele que puxava o processo – estava atrás, tentando acompanhá-lo. “Eu trabalhava buscando o momento em que aquele negócio ia abrir o olho. As peças falavam comigo.”

Chileno de nascença e baiano de toda a vida, José Ignácio chegou ao Brasil ainda criança e se fixou na Bahia em 1974. É arquiteto formado pela Universidade do Oregon (EUA), já passou por Nova York, Copenhague e Helsinque, e hoje responde sem hesitar que a arte que faz aqui é diferente.

“A arte, para mim, está influenciada pelo lugar que você habita. Porque é nesse lugar que você está de corpo e espírito presentes. E só de corpo e espírito presentes se consegue escutar, ouvir, enxergar. Isso que impele as forças que estão em volta de nós”, afirma.

Na vídeo chamada realizada na tarde desta quarta-feira (22) para a entrevista, a montagem estava a todo vapor. Martela dali, serra de cá, desmonta as peças no ateliê para montá-las novamente no museu. Dois dias de trabalho para que tudo fique perfeito na abertura. E para o encontro do público com as obras, a expectativa é uma só: “deixar todo mundo espantado, porque espanto é o sentimento que eu mais gosto. O espanto é irmão do mesmo e primo do terror. O medo te faz correr, o terror te paralisa, o espanto te move e te faz abrir os olhos”, define.

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Exposição