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Maria Raquel Brito
Publicado em 28 de novembro de 2025 às 06:30
Ivete Sangalo tem uma memória de infância que a acompanha até hoje: ela criança, aos três anos, cantando uma música inteira pela primeira vez. Trocava uma coisa ou outra por conta da idade, de um “maré cheia” vinha “marechera”, mas estava selada ali sua relação com o mundo da música. A canção era o samba Conto de Areia, de Clara Nunes, que Ivete descreve como sua primeira popstar. >
“Foi fundamental a importância dela como intérprete e como a força da natureza que era, aquela mulher linda e aquela voz especial. Eu escutava muito Clara dentro de casa, e foi uma cantora que sempre esteve presente. Minha mãe era apaixonada por ela, meu pai também. Clara Nunes faz parte da minha trilha sonora”, diz Ivete, que anunciou nesta quinta (27) a separação do marido Daniel Cady, depois de 17 anos juntos. Ele é pai dos três filhos da cantora.>
Ivete Clareou
É dessa paixão pela cantora mineira que surge Ivete Clareou, seu mais novo projeto. Tributo a Clara Nunes e ao samba, a iniciativa ganhou vida através de um álbum e da turnê homônima, que chega a Salvador neste domingo (30). O show acontece no Wet Eventos e conta com convidados como Xanddy Harmonia e É o Tchan!. Os ingressos vão de R$180 a R$410 e estão à venda no site Ingresse. >
Com o objetivo de conectar ainda mais a artista e o público, o espetáculo será apresentado em palco 360°. Os portões serão abertos às 14h e o público será recebido com apresentação da DJ Jude Paulla. Ivete sobe ao palco às 16h30 e deve permanecer até às 23h, horário de encerramento do evento. >
O projeto era um sonho antigo da cantora juazeirense. Segundo ela, a axé music é seu tipo de música, mas o samba é uma composição importante dentro do segmento que está. Clareou foi a forma que encontrou de verbalizar a cantora que tanto a inspira, porque está pedindo licença para entrar em seu gênero musical.>
“O samba é porta aberta, é afeto, é ‘venha que eu te recebo’. Tudo se adequa a ele, e é muito gostoso. A nossa força como povo está no samba. Ele tem uma responsabilidade grande na resiliência, na força e na vontade de seguir. Desde criança, eu ouço samba, ele tem uma maneira de cantar muito própria, muito brasileira e genuína. Toda a questão rítmica, as melodias e as letras, tudo colabora muito. A música que eu faço hoje só existe por causa do samba”, declara.>
No repertório extenso – afinal, são mais de três horas de show – estão releituras de clássicos do gênero musical nascido na Bahia, como Juízo Final, Retalhos de Cetim e Canto das Três Raças, e canções autorais, a exemplo de Marechera e Vai Tomando. “Eu e Bóris [Farias, produtor] construímos juntos um repertório e nossa ideia era, além de contemplar os convidados de cada cidade, trazer músicas que fizessem sentido para mim e para minha história”, explica Ivete. >
A riqueza do repertório acompanha as faixas do álbum, que, por sua vez, traz parcerias com grandes nomes da música brasileira: Jorge Aragão, Maria Rita, Belo, Péricles, Arlindinho e Dilsinho.>
Ao longo de mais de três décadas de carreira, Ivete se consolidou no axé e no pop e passeou por outros gêneros, como o forró. Desta vez, mergulha na conexão com o samba através de Ivete Clareou. “Aconteceu no momento que deveria”, pontua. O audiovisual do projeto foi gravado em agosto na Mansão Alvite, no Rio de Janeiro, com vista para o Pão de Açúcar.>
Mansão do projeto "Clareou" de Ivete Sangalo
Perguntada se sente que está hoje num ponto da carreira em que consegue experimentar mais e se dedicar com mais liberdade a projetos que vão além dos estilos que costuma cantar, ela responde que nunca se deixou ser colocada nesse lugar. “Sempre fiz o que meu coração guiava para aquele momento”, diz.>
E o coração agora guia para a Bahia. Depois de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, é a vez de Salvador sambar no ritmo de Ivete. “Não tinha como não trazer esse show para minha casa, para o meu povo. O Ivete Clareou é a Bahia, porque sou eu. Vai ser um dia especial e inesquecível”, promete.>