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Além de medalhas, baiana Raíssa Machado carrega história de inclusão e superação

A recordista mundial no lançamento de dardo foi de quase desistência a uma trajetória de conquistas

  • Foto do(a) author(a) Alan Pinheiro
  • Alan Pinheiro

Publicado em 5 de julho de 2025 às 06:00

Baiana Raissa Machado conquistou a medalha de prata no lançamento de dardo
Baiana Raissa Machado conquistou a medalha de prata no lançamento de dardo em Paris 2024 Crédito: Ana Patrícia Almeida/CPB.

Sabe quando você recebe um chamado e precisa seguir um caminho que muda drasticamente a vida? Uns podem atribuir ao divino, outros consideram que as mudanças acontecem por circunstâncias da vida. Fato é, o esporte chamou e a baiana Raíssa Machado redefiniu todos os seus sonhos para se transformar em medalhista paralímpica. Entre altos e baixos, a atleta é símbolo de luta e inclusão.

Natural de Ibipeba, Raíssa nasceu no interior da Bahia, mas precisou se mudar para Uberaba, em Minas Gerais, para realizar sua primeira cirurgia. Filha de uma baiana e um mineiro, que nunca conheceu, ela se considera 50% de cada estado. “Uma baiana retada e uma mineira que come quieto”, define. Ela nasceu com má formação congênita nas pernas, mas nunca deixou a deficiência a impedir de sonhar. Queria se formar no curso de direito e seguir a carreira de delegada. No entanto, o esporte sempre esteve em sua trajetória.

Iniciando na ginástica, um professor percebeu a aptidão para o esporte e insistiu nessa ideia, que foi seguida pela baiana. Em Uberaba, entrou na Associação dos Deficientes Físicos (Adefu) e se surpreendeu. “Foi a primeira vez que eu me deparei com pessoas com deficiência, porque no meu mundo era só eu até então. E foi onde descobri que existia esporte para pessoas com deficiência. Fiz o teste, comecei com peso, depois o disco e por último foi o dardo”, contou.

Hoje ela tem duas medalhas de prata pelas duas últimas paralimpíadas e ainda possui muitas outras conquistas, mas não foi de imediato que Raíssa Machado acatou a ideia de ser atleta. Na verdade, foi só após as Paralimpíadas do Rio, em 2016, que quis realmente ser profissional.

“Eu neguei muito. Comecei como uma pedra, fui lapidada e hoje me tornei a pessoa que sou. Mas não foi tão fácil. Tive muita resistência com o esporte paralímpico e principalmente com os dardos. Não queria ser atleta. Hoje não, hoje eu sou atleta, sou uma das melhores do mundo, graças a Deus estou representando bem o nosso Brasil”, afirmou. Apesar de não querer mais o direto, ela pretende fazer concurso para ser policial.

Neste sábado (5), a recordista mundial no lançamento de dardo é presença confirmada na etapa de Salvador da Liga Esportiva Nescau. Na visão da atleta, o campeonato poliesportivo estudantil nacional, que une modalidades adaptadas e não adaptadas, é uma oportunidade de oferecer o que ela não teve no início de sua caminhada.

“Não tive um evento que pudesse ir e ver um atleta paralímpico de perto e ver que que é possível chegar lá. É pessoa, você consegue tocar, trocar energia e incentivar com as palavras ou com algum gesto. Um dos meus objetivos é incentivar pessoas e colocar, principalmente, os deficientes para acreditarem em si”.

Dor e Glória

Se definindo como uma pessoa real e cheia de determinação, a história de superação da atleta também tem momentos de aperto. Para ela, a frustração é fácil de lidar. Mesmo com isso e com a conquista da prata, Paris é um tópico sensível para a atleta. Todos os anos de competição e preparação para o grande evento esportivo ficaram” por um fio” com uma lesão sofrida três semanas antes de embarcar para a França.

É muito louco falar isso, mas estava muito triste em Paris, porque sabia que podia [conseguir o ouro]. Em uma paralimpíada estava passando por uma depressão profunda, não estava sentindo, mas por centímetros não peguei o ouro, que nem imaginava que poderia estar nas minhas mãos

Raíssa Machado

Medalhista paralímpica

As dores foram se intensificando e impedindo Raíssa de lançar o dardo. Foi então que ela resolveu ultrapassar mais uma barreira. “Eu falei: ‘Tá na chuva é para se molhar’. Tomei um remédio para acalmar a dor. No momento da prova, pedi para Deus me surpreender mais uma vez e não deixar eu voltar sem uma medalha”, complementou.

Ela, que gosta de comer churrasco e acarajé, sabe que o gosto das comidas favoritas não chega perto do sentimento de alcançar o pódio, ainda mais com chances de estar no topo. Agora em busca da quarta paralimpíada, em Los Angeles-2028, tornou o ouro em um objetivo ainda mais pessoal. Porém, mesmo provando para si e para o mundo que é uma potência no esporte, Raíssa acredita que sua maior conquista aconteceu fora do esporte. “Foi não ter desistido de mim. Lá atrás eu desisti, mas Deus não desistiu de mim. Todos os dias a gente faz uma escolha de não desistir e continuar”.

Com quase 160 mil seguidores nas redes sociais, a baiana busca mostrar toda a sua história e personalidade para as pessoas que a seguem, sempre com o objetivo de incentivar os outros a não desistir. Taurina, gosta de comer, dormir e assistir a documentários criminalistas. Apaixonada pela arquitetura romântica de Paris, apenas quer continuar vencendo e espalhando a sua verdade.

E qual verdade é? Responder a todos sobre quem é Raíssa Machado. Além de multicampeã, Raíssa é resiliência, força, muita coragem, determinação e, acima de tudo, “uma palavra que me representa é guerreira”.