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De Pojuca para o Barradão: conheça a história de joia do Vitória que surgiu de um projeto social

Aos 17 anos, o ponta já superou lesões, passou pela base do Bahia e carrega no peito a marca de um projeto social que mudou sua vida

  • Foto do(a) author(a) Pedro Carreiro
  • Pedro Carreiro

Publicado em 29 de junho de 2025 às 13:30

Ítalo Santana, ponta do sub-17 do Vitória
Ítalo Santana, ponta do sub-17 do Vitória Crédito: Divulgação/Fundação José Carvalho

Nas ruas de Pojuca, interior da Bahia, o pequeno Ítalo Santana já vivia o futebol com muita intensidade. Mal sabia amarrar as chuteiras, mas já sabia o que queria da vida. Aos quatro anos, deu os primeiros toques na bola em uma escolinha. Aos oito, já carregava sonhos grandes nos pequenos bolsos do short do uniforme. E, ainda sem saber, estava prestes a entrar em um caminho que mudaria tudo.

“Minha infância foi tranquila. A maior parte do tempo eu estava jogando bola, ou na rua, ou nos treinos fora do horário da escola”, relembrou Ítalo em entrevista ao CORREIO. Entre chutes e cadernos, ele foi crescendo e amadurecendo dentro de uma rotina marcada pela disciplina necessária para alcançar um sonho.

Um campeão na escola e na vida

Foi nesse momento que surgiu a oportunidade que redefiniu seu futuro: o projeto Um Campeão na Escola, da Fundação José Carvalho. Mais do que chuteiras e uniformes, o programa combinava treinos com reforço escolar, aulas de inglês, informática e, principalmente, formação cidadã.

“A educação foi o que mais ficou pra mim. Aprendi que não era só jogar. A gente precisava estudar também, porque o futebol muda rápido e é cheio de incertezas”, reflete Ítalo, hoje com 17 anos.

Durante cinco anos, ele se destacou tanto nos gramados quanto nas salas de aula da fundação. O foco era total: notas boas, treinos intensos e uma visão clara de onde queria chegar. Foi ali que ele ganhou não apenas fundamentos técnicos, mas uma base sólida para enfrentar o que vinha pela frente.

Ítalo com garotos da Fundação José Carvalho
Ítalo com garotos da Fundação José Carvalho Crédito: Divulgação/Fundação José Carvalho

Do Bahia ao Vitória: uma rivalidade vivida por dentro

Aos 13 anos, com apoio do pai e dos empresários do irmão Hugo, que também joga nas categorias de base do Vitória, Ítalo conseguiu uma chance no Bahia. Passou nos testes e vestiu azul, vermelho e branco por dois anos. Mas o futebol, como ele mesmo aprendeu cedo, não é uma linha reta. Aos 15, foi dispensado do Esquadrão, mas logo veio a chance de recomeçar na base do Leão da Barra.

“Não teve peso emocional por serem rivais. Sempre levei a sério onde estava jogando, e o mais importante era continuar evoluindo”, afirma. No rubro-negro, ele encontrou estrutura, acolhimento e espaço para mostrar seu talento. Consolidou-se no sub-17 e hoje vive seu melhor momento.

Ítalo e o irmão Hugo
Ítalo e o irmão Hugo Crédito: Arquivo pessoal

A velocidade de Mbappé e o sangue frio das decisões

Ponta veloz, forte e inteligente, Ítalo se descreve como um jogador que “traz muito volume de ataque” e que consegue atuar tanto aberto quanto por dentro. Características similares à do seu grande ídolo Mbappe, o qual tenta emular o estilo de jogo.

Mas mesmo com os holofotes se aproximando, ele mantém os pés no chão, ou melhor dizendo, firmes na grama do campo. Sabe que ainda há muito a evoluir. “Finalização, uso das duas pernas, leitura de jogo. Sempre tem o que melhorar”, diz, com a maturidade de quem aprendeu a ouvir o corpo e respeitar os próprios limites.

Ítalo e o time do Vitória no torneio Canteras de América, na Argentina
Ítalo e o time do Vitória no torneio Canteras de América, na Argentina Crédito: Divulgação/Fundação José Carvalho

Lesões, superação e a luta para não parar

Entre os 14 e 16 anos, Ítalo teve que encarar o maior adversário da sua trajetória até aqui: as lesões. Passou por uma cirurgia no menisco do joelho direito e ainda enfrentou outras três lesões na mesma região — duas no joelho esquerdo e mais uma no direito. Foram meses longe dos gramados, entre sessões de fisioterapia e a angústia que acompanha quem depende do corpo para seguir em frente. Apesar de tudo, a ideia de desistir nunca passou pela sua cabeça.

“Os piores momentos que vivi foram minhas lesões. Lesões graves que tive muito novo, mas que consegui superar. Nunca pensei em desistir pelo que já tinha passado”, afirma.

Mas não só pelo que tinha passado, como também pelo que almeja alcançar, que desistir nunca foi uma opção.

“Meu primeiro sonho é me tornar jogador profissional, seja no Vitória ou em outro clube. Depois, quero poder ajudar minha família financeiramente e transformar a vida deles. Quero retribuir, de alguma forma, toda a luta que meu pai enfrentou para apoiar a mim e ao meu irmão, nos ajudando a chegar na base e a permanecer nela”, projeta.

Uma viagem, uma final, um título

Em 2025, Ítalo viveu sua primeira experiência internacional no torneio Canteras de América, na Argentina. Saiu campeão com o Vitória, batendo o Palmeiras na final. Mas mais do que o troféu, trouxe na bagagem uma nova visão de jogo.

“Foi uma experiência muito boa e importante para a nossa categoria. O que mais me marcou e levei como aprendizado foi o estilo de jogo dos times sul-americanos: um jogo mais físico, com muito contato e poucas faltas. Isso nos obriga a jogar de forma mais firme, mais 'cascuda', sem ficar caindo ou pedindo falta o tempo todo, porque os árbitros simplesmente não dão”, conta.

Ítalo com a taça do torneio Canteras de América
Ítalo com a taça do torneio Canteras de América Crédito: Divulgação/Fundação José Carvalho

Rotina, vida fora das quatro linhas e plano B

A vida de Ítalo não se resume a treinos e jogos. Todos os dias, ele acorda às 6h20 da manhã para encarar uma rotina puxada: treino no Vitória pela manhã, escola à tarde e descanso só à noite. A disciplina que aprendeu ainda criança segue firme, e é ela que mantém seu foco nos objetivos.

Mas, como qualquer jovem da sua idade, ele também reserva tempo para si. Nos momentos de folga, gosta de jogar no celular, assistir a filmes e séries ou sair para comer. É nessa leveza que ele encontra o equilíbrio entre o sonho e a realidade.

Ainda assim, Ítalo já aprendeu que o futebol é um caminho incerto. E, por isso, carrega um plano B no bolso: a fisioterapia. O interesse surgiu, em muito, por conta das lesões que enfrentou, e hoje ele vê na área uma alternativa que não o afastaria completamente do esporte. “É uma profissão que aprendi a admirar. Se não fosse jogador, talvez fosse isso que eu faria”, diz.

A base que forma pessoas antes de formar jogadores

A Fundação José Carvalho foi o ponto de virada na história de Ítalo. E segue sendo na de centenas de jovens baianos. Com quase 50 anos de atuação e mais de 100 mil vidas impactadas, a instituição aposta em um modelo onde educação e oportunidade caminham juntas.

Ítalo é apenas um dos frutos desse trabalho. Um entre muitos. Mas sua história é daquelas que inspiram, que mostram que talento é só parte da equação, o resto é foco, apoio e uma boa dose de sonho.

Ítalo e garotos da Fundação José Carvalho
Ítalo e garotos da Fundação José Carvalho Crédito: Divulgação/Fundação José Carvalho