Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Estadão
Publicado em 12 de julho de 2023 às 14:35
O Ministério Público de São Paulo pediu nesta quarta-feira (12) a liberdade de Leonardo Felipe Xavier Santiago, de 26 anos, torcedor flamenguista acusado de matar a palmeirense Gabriela Anelli. O MP alega "fragilidade de prova".>
Preso desde a segunda-feira (10), quando a jovem morreu, e indiciado por homicídio doloso, Leonardo Santiago terá seu caso encaminhado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e poderá responder em liberdade. >
Santiago foi acusado de atirar uma garrafa na direção da torcida palmeirense antes do jogo contra o Flamengo, no sábado. O objeto cortou pescoço da torcedora, que ficou internada por dois dias e morreu na segunda-feira. >
De acordo com o MP e o promotor Rogério Leão Zagallo, as provas da investigação não indicam que o torcedor teria sido o responsável por atirar o objeto que resultou na morte de Gabriela. Ao Estadão, o advogado Renan Drohus, responsável pela defesa de Santiago, cita que a manifestação ocorre após um entendimento do órgão sobre a falta de provas.>
O pedido será analisado ainda nesta quarta-feira pelo juiz do caso. O promotor fez críticas à atuação do delegado César Saad, que chegou a declarar que o torcedor do Flamengo assumiu ter atirado a garrafa que matou Gabriela. Em vídeos, obtidos pelo MP, um dos suspeitos pela morte da torcedora usava uma blusa de cor cinza; Santiago foi preso com uma camisa do Flamengo.>
Esse pedido do MP não faz com que Santiago deixe de ser investigado. Em depoimento, ele afirmou que atirou cubos de gelo em direção à torcida palmeirense. Para o promotor, a fala de Saad, em que afirma que o acusado admitiu que arremessou a garrafa, seria uma inverdade. "Além da inexistência da confissão anunciada pelo Delegado de Polícia César Saad, as imagens que aportaram nesta Promotoria de Justiça evidenciam a necessidade de que a investigação prossiga", afirma a decisão do promotor.>
"Ficou mais do que provado que tinham outras pessoas ‘tacando’ garrafa. Uma destas pessoas, inclusive, tinha barba. E o Leonardo Santiago não tem barba. Isso é possível ver no vídeos", explica o advogado à reportagem. "O MP entende que é possível identificar a identidade dessas pessoas (que arremessaram os objetos) para enfim pedir a prisão preventiva.">
Drohus ainda explica que a defesa desistiu do pedido de habeas corpus, feito pela defensoria pública, já que estava amparado na primariedade de Santiago. A ideia seria perpetrar esse pedido com base na fragilidade das provas, conforme explica o advogado. Caso o magistrado aceite a decisão do MP, esse pedido não será protocolado, já que o torcedor já responderá ao processo em liberdade.>
O que diz o parecer do MP?>
Além da fragilidade das provas, já descritas pela defesa de Santiago, o órgão criticou a atuação de Saad, da Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), que assumiu o caso na segunda-feira, dois dias após o incidente. O documento, obtido pelo Estadão, cita especificamente a não similaridade de Santiago com o torcedor, de blusa cinza, que teria acertado Gabriela com a garrafa.>
"Ainda cotejando essas imagens captadas por quem estava no chão com aquelas apreendidas por quem estava no apartamento, podemos concluir que Gabriela foi atingida exatamente no momento que o torcedor que ornava o rosto com barba e que vestia camisa cinza arremessou a garrafa que ele apanhara no chão", explicita o promotor. "Ele trajava a camisa do time para o qual torcia, a qual apresenta as tradicionais cores preta e vermelha. Essa camisa é notoriamente diferente daquela que o outro torcedor usava (cinza).">
Ao afirmar que Santiago teria admitido que atirou a garrafa na direção da torcida palmeirense, além de ser uma "inverdade", o MP destaca a "inexistência da confissão" no depoimento do torcedor. "Esse fato praticado por uma autoridade pública é assaz grave e censurável, pois, além de tipificar uma falácia, tem o poder de gerar falsas expectativas nos familiares de Gabriela, fazendo-os acreditar que a pessoa que assassinou o ente querido teria admitido o erro cometido e que sua justa e correta punição não tardará a materializar-se", ressalta.>
Ao passar o caso para o DHPP, a promotoria destaca a "postura estranha" de Saad perante a imprensa como justificativa para essa mudança. Anteriormente, o Drade era responsável pela condução da investigação.>
RELEMBRE O CASO>
O crime aconteceu por volta das 17h45 do último sábado, dia 8, isto é, mais de três horas antes do início do jogo entre Palmeiras e Flamengo, na rua Padre Antônio Tomás, entre os portões C e D - o D é o que dá acesso aos torcedores visitantes. Havia uma proteção de metal para separar os flamenguistas dos palmeirenses, mas ela não foi suficiente para evitar a morte da torcedora. Uma outra pessoa também foi ferida pelos estilhaços de vidro.>
Gabriela foi socorrida no posto de atendimento do Allianz. Ao ser constatada a gravidade dos ferimentos, ela foi encaminhada à Santa Casa, onde ficou internada e passou por cirurgia. A palmeirense teve duas paradas cardiorrespiratórias, ficou em coma induzido e morreu na madrugada de segunda-feira.>
O corpo de Gabriela Anelli Marchiano foi velado e enterrado nesta terça-feira, 11. O velório no cemitério Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo, começou às 6h e o corpo foi sepultado perto das 13h. A primeira parte da cerimônia foi reservada a amigos e familiares. Houve homenagens da Mancha Alvi Verde e o hino do Palmeiras foi entoado pelos presentes.>