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Maysa Polcri
Publicado em 11 de novembro de 2025 às 15:44
A plataforma de hospedagens Booking iniciou uma investigação interna para apurar o aluguel de imóveis em terras indígenas na Bahia. A empresa e o Airbnb estariam colocando à disposição de clientes acomodações na aldeia Xandó, que fica dentro da Terra Indígena Barra Velha, próxima ao distrito de Caraíva. >
Em nota enviada à reportagem, a empresa afirma que acompanha a situação de perto e que está à disposição das autoridades. A reportagem entrou em contato com o Airbnb e aguarda retorno. As informações de que as plataformas oferecem hospedagens ilegalmente em terras indígenas foram divulgadas inicialmente pelo jornal Folha de S.Paulo>
O CORREIO fez uma busca nas plataformas e encontrou anúncios, de preços variados, de casas e quartos localizadas na aldeia Xandó. A aldeia integra a Terra Indígena Barra Velha, homologada em 1991. A prática de arrendamento em terra indígena é proibida pelo Estatuto do Índio, de 1973, e pela lei 14.701. A legislação permite a cooperação com não indígenas para a realização de atividades econômicas, desde que os contratos sejam registrados na Funai.>
Caraíva, distrito de Porto Seguro, atrai turistas de todo o país
Esta última permite cooperação com não indígenas para a realização de atividades econômicas, desde que os frutos da atividade gerem benefícios para toda a comunidade e os contratos sejam registrados na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). >
À Folha de S.Paulo, o Ministério dos Povos Indígenas reconheu o problema e disse que busca mediação com a comunidade. Lideranças locais sugerem um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para formalizar as parcerias.>
A plataforma Booking afirma que tomará as medidas necessárias após a investigação. "Nas raras ocasiões em que somos alertados sobre uma preocupação a respeito de uma propriedade específica, avaliamos a situação imediatamente. Tomaremos as medidas apropriadas dependendo do resultado dessa investigação, o que inclui a remoção da propriedade de nossa plataforma, se for o caso", diz. >
O território indígena Xandó também sofre com o domínio da facção criminosa Comando Vermelho, que foi criada no Rio de Janeiro e se espalha em diferentes regiões da Bahia. O local é alvo de disputa entre facções por se constituir em uma área de alta movimentação turística, como mostrou o CORREIO. Dentro do contexto de guerra, o CV tem ameaçado empresários por conta da chegada de traficantes rivais.>
As ameaças circulam, inclusive, nas redes sociais em publicações como a que o CORREIO teve acesso. “Viemos informar a todos donos de pousada, de casas de aluguel e kitnet que, se aceitar alugar casa para qualquer cara envolvido com o crime nós vamos descobrir e [vocês] vão sofrer as consequências e ser colocados para sair da nossa área”, escreve um traficante que integra o CV.
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Na mesma mensagem, o criminoso avisa que a facção já observa empresários. “Já sabemos que tem gente alugando. Então, uma alerta: já sabemos de alguns lugares logo iremos fazer umas visitas desagradáveis. Quem pensa que estamos de olhos fechados está enganado e o castigo será o pior possível. Não adianta falar que o CV oprime morador”, completa o traficante. >
“A Booking desenvolve suas atividades tendo como princípios o desenvolvimento econômico e social dos países onde atua, o respeito à legislação e a presunção de legitimidade e veracidade das relações. Todos os provedores de acomodação que anunciam na Booking.com devem concordar com nossos termos e condições, confirmando que têm permissão legal para alugar suas acomodações e que estão em total conformidade com todas as leis locais aplicáveis, incluindo a posse das licenças de operação necessárias. Nossos contratos exigem que os parceiros de acomodação anunciem apenas propriedades que estejam livres de quaisquer impedimentos legais. >
Nas raras ocasiões em que somos alertados sobre uma preocupação a respeito de uma propriedade específica, avaliamos a situação imediatamente. Tomaremos as medidas apropriadas dependendo do resultado dessa investigação, o que inclui a remoção da propriedade de nossa plataforma, se for o caso.>
Levamos este assunto a sério e estamos atualmente investigando as acomodações em questão. Estamos acompanhando a situação de perto e estamos à disposição para trabalhar com as autoridades competentes, conforme a necessidade”.>