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Yan Inácio
Wendel de Novais
Publicado em 10 de junho de 2025 às 20:21
A morte do guia turístico Victor Cerqueira, de 28 anos, completa um mês nesta terça-feira (10). Amigos e familiares fizeram um protesto para pedir respostas sobre a morte do jovem durante uma operação policial em Caraíva, destino turístico de Porto Seguro, no extremo sul da Bahia. Eles apontam que Victor foi morto por engano após ser confundido com um dos alvos da ação. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) investiga o caso. >
Em vídeo enviado ao CORREIO, a mãe de Victor, Luiza Cerqueira, de 57 anos, cobrou respostas sobre a ação que vitimou seu filho. “Nesses 30 dias, nós não tivemos nenhuma resposta do Estado. Nós temos inúmeras perguntas que não foram respondidas. Por que Victor não foi liberado junto como tantos outros que foram abordados pela polícia? Por que ele foi algemado? Alegam que ele foi morto em confronto. E se estava algemado, como entrar em confronto?”, disse.>
O MP-BA instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias da morte do guia de turismo e o corpo dele foi exumado no último dia 24. Segundo o órgão, a perícia poderá fornecer dados cruciais para o andamento das investigações. Os restos mortais foram encaminhados para o Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Eunápolis, para a realização da análise técnico-científica.>
“Marcas de algemas, hematomas na face, o osso da face quebrado. Uma arma na jugular, dada de cima para baixo, que indica que ele estava de joelhos, marcas nos joelhos. Qual é a resposta que o Estado vai dar pra gente sobre isso? Ele não é um criminoso, ele é um trabalhador”, descreveu Luiza, sobre os apontamentos gerados pela perícia sobre o corpo do filho.>
“A cor de Victor condenou ele à morte naquele momento. A gente precisa de respostas. O secretário de segurança estadual e o governador precisam dar uma resposta à família. Porque no Rio de Janeiro, após 48 horas, o estado se pronunciou. Por que aqui na Bahia a gente está 30 dias sem nenhum pronunciamento, sem nenhuma resposta?, questionou a mulher.>
O caso foi debatido em uma audiência da Defensoria Pública (DPE), no dia 30 de maio. Presente na audiência, Luzia afirmou que Vitinho foi espancado e morto por policiais ao ser confundido com um dos alvos da ação. “Meu filho foi abordado com um grupo de homens que estava trabalhando. Os policiais questionaram todos e prenderam ele por ter o mesmo apelido de quem eles procuravam, apesar de ser diferente da pessoa, que tem pele clara. Recebi meu filho no caixão no Dia das Mães. Com marcas de espancamento no rosto e sinais de tortura”, lembra ela.>
De acordo com fontes policiais consultadas pela reportagem, havia dois alvos da operação em Caraíva. Nenhum deles era Vitinho. O alvo prioritário era Ramon Oliveira Cruz, 33 anos, traficante conhecido como Alongado e líder da facção Anjos da Morte (ADM). O segundo alvo era João Vitor Barbosa Porto, traficante que cumpria a função de segurança de Alongado e que também atendia pelo apelido de Vitinho.>
“O rapaz que era alvo de mandado tinha a pele branca e meu filho é uma pessoa negra. Como é possível terem confundido os dois? Três dias Vitinho foi prestar queixa por Injúria Racial. Que bandido faz isso? Que criminoso tem essa atitude e ficha limpa como a dele? Quero que o Estado admita a inocência do meu filho e que o que houve foi uma ação errada, e não de sucesso como disseram”, completa Luzia.>
Não é só Luzia que protesta contra a morte de Vitinho e defende a inocência dele. Um abaixo-assinado que pede Justiça pela morte já recebeu mais de 33 mil assinaturas desde a operação. Por conta da repercussão e da comoção social, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP) instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias da morte do guia de turismo e o corpo dele foi exumado.>
Não há informações sobre a prisão do traficante João Vitor Barbosa Porto, o verdadeiro alvo da operação. Ele, inclusive, estaria envolvido na morte de um homem e na agressão de uma mulher em Caraíva em fevereiro do ano passado. A audiência pública que debate a morte do guia de turismo também discute a letalidade policial na Bahia como um todo.>