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Gilberto Barbosa
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 06:00
Independente da região onde acontece, a violência armada é um problema que se tornou parte do dia a dia dos soteropolitanos. Seja nas regiões centrais, nobres ou mais periféricas, essa é uma questão que afeta todos que circulam pela capital baiana. De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, 146 bairros registraram trocas de tiro entre os meses de janeiro e agosto de 2025, representando 85,38% do total de logradouros da cidade. >
Os bairros Tancredo Neves, Lobato e Mussurunga registraram em média, cada, mais de 25 confrontos de janeiro até a última quarta (17), ocupando o pódio dos três mais violentos. Tancredo Neves é o líder nesse quesito em Salvador, com cerca de 29 tiroteios registrados até esse período do ano. Federação e Fazenda Coutos completam o top 5. Ao todo, a capital registrou 856 tiroteios até o momento, o que resultou em 647 mortes e 188 pessoas feridas.>
Na contramão, 25 bairros não registraram confrontos nesse ano, sendo que alguns deles estiveram entre os que mais registros com armas. São eles: Alto das Pombas, Amaralina, Boa Viagem, Boa Vista de São Caetano, Cabula VI, Cajazeiras II, Cajazeiras VII, Calabar, Chame-Chame, Colinas de Periperi, Dois de Julho, Doron, Granjas Rurais Presidente Vargas, Ilha de Bom Jesus dos Passos, Ilha de Maré, Ilha dos Frades/Ilha de Santo Antônio, Lapinha, Nova Esperança, Pituaçu, Roma, Santo Agostinho, Saramandaia, Saúde, Stiep e Vitória. >
Integrante da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, Dudu Ribeiro expressa preocupação com os números apresentados pelo Instituto Fogo Cruzado. Ele aponta as disputas em relação ao mercado de drogas e armas, a presença ostensiva da polícia nas comunidades e as tomadas de decisão dos gestores quanto ao investimento para esses locais como principais fatores para o incremento desses dados. >
“Estamos diante de um quadro em que há uma mudança no topo da lista de bairros com mais trocas de tiro ao longo dos meses e isso demonstra que a violência armada está espalhada de forma crônica, sobretudo nos bairros mais negros, nos bairros periféricos e que sofrem com outro conjunto muito grande de violências institucionais”, pondera. >
Dinâmica do Crime>
Para o especialista em segurança pública e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Horácio Hastenreiter, a distribuição dos casos de violência armada pela cidade está associada à dinâmica do crime organizado no estado. Segundo ele, a presença de diferentes facções criminosas e a disputa por território entre esses grupos contribui para a ocorrência de trocas de tiros. >
“Quando há um poder consolidado em um grupo apenas, a população do entorno é menos impactada. São Paulo, por exemplo, registrou uma queda significativa no número de homicídios depois que uma facção se tornou dominante no estado. Isso ocorre devido à redução dos conflitos quando um desses grupos se torna hegemônico no local e consegue coibir as disputas internas”, afirma. >
Dudu Ribeiro também reforça a importância do fortalecimento de ações de inteligência e de políticas de cidadania nos bairros mais violentos visando a construção de uma cultura de paz e uma política de combate ostensivo ao crime pautada pela proteção da vida. >
“É necessário que a segurança pública seja pensada a partir da proteção desses territórios e da promoção de direitos no combate à violência. Também temos o desafio de atender as pessoas que estão no sistema prisional e que devem ser reconhecidas como cidadãos de direitos, sendo acolhidas pelo serviço de assistência social, saúde e educação para construímos percursos de vida mais protetivos para essas pessoas”, finaliza Dudu. >
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que o combate ao crime organizado foi intensificado pelas forças estaduais e federais nesse ano. Segundo o órgão, a ação das unidades de segurança resultou no aumento de 20% do número de armas apreendidas e da redução de 6% dos registros de homicídio, latrocínio e lesão dolosa seguida de morte no estado em 2025.>