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'É um absurdo', baianas criticam lei que tornou acarajé patrimônio do Rio de Janeiro

A patrimonialização pode ajudar a proteger a tradição, diz especialista

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 31 de outubro de 2023 às 15:37

Baianas de acarajé de Salvador dizem que o quitute carioca é feito de forma diferente
Baianas de acarajé de Salvador dizem que o quitute carioca é feito de forma diferente Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Filha de Iansã e baiana de acarajé há 50 anos, Mairalda de Oliveira Soares, 73, não gostou quando soube que o Rio de Janeiro tornou a produção e a comercialização do quitute patrimônio cultural do estado. “Eu achei um grande absurdo porque o acarajé é do candomblé, é da nossa tradição”, defende. Assim como ela, outras baianas de acarajé criticam o que chamam de “apropriação cultural”.

Para Maria Raimunda, a “Tuquinha”, que vende acarajé desde os anos 90 na Ribeira, o ofício das baianas vai muito além do preparo do alimento e tem raízes nas religiões de matriz africana. “Aprendi que os filhos de Iansã tinham que vender acarajé, isso é muito antigo”, diz. Ela chegou a passar uma temporada no Rio de Janeiro, entre 2003 e 2004, e conta que o preparo realizado no estado não é o mesmo da Bahia.

“A maioria dos acarajés de lá são diferentes e muitas baianas fazem errado. Apesar de ter as que fazem certo, outras colocam um litro de azeite [de dendê] e um litro de óleo, sendo que tem que ser dois litros de azeite”, afirma Maria Raimunda. Na Bahia, o acarajé e todos os itens que compõem o ofício das baianas (indumentárias, tabuleiro e quitutes) se tornaram patrimônio imaterial em 2012, de acordo com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).

“O acarajé é baiano e quem vem do Rio de Janeiro fala que não é igual ao feito aqui”, afirma Sueli Conceição Tavares, que comanda um tabuleiro no Terreiro de Jesus, no Pelourinho. Apesar da polêmica, Rita Santos, coordenadora da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam), defende que o reconhecimento dado ao quitute no Rio de Janeiro é importante para resguardar a tradição.

“Aqui na Bahia, temos acarajé cor de rosa, com ketchup, pizza de acarajé, acarajé com doce de leite, além de baianas vendendo o acarajé de shorts e camiseta. No Rio de Janeiro, começaram a aparecer tabuleiros vendendo ‘bolinho de jesus’ e felizmente decidiram barrar isso como forma de salvaguardar o que é de todos nós”, explica Rita Santos.

A alcunha de “bolinho de jesus” para o acarajé é uma forma de tentar separar a tradição das religiões de matriz africana do quitute. A coordenadora da Abam defende ainda que o bolinho se torne, por si só, patrimônio material da Bahia. “Desde 2010, nós tentamos fazer algo que proteja o bolinho e nunca conseguimos”, diz Rita Santos.

O Ipac, por outro lado, garante que o acarajé já é protegido através do registro como patrimônio imaterial da Bahia, juntamente com o ofício das baianas. Ainda segundo o instituto, a revalidação do registro patrimonial será anunciada no dia 25 de novembro, quando é comemorado o Dia das Baianas do Acarajé. A Abam aguarda o anúncio desde 2017, já que a revalidação precisa ser feita a cada cinco anos pelo Ipac.

Para Vilson Caetano, antropólogo e autor do livro ‘Comida de Santo que se Come’, a iniciativa do Rio de Janeiro deve ser comemorada. “É um reconhecimento importante para garantir a chegada de políticas públicas para as pessoas que estão envolvidas no ofício”, explica. “O Rio de Janeiro tem uma população preta que vive nas mesmas condições de outras espalhadas pelo país e um elemento símbolo pode articular vivências a partir da ancestralidade”, completa.