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Elaine Sanoli
Publicado em 13 de outubro de 2025 às 21:05
Com a primavera à todo vapor em Salvador, a Caminhada Patrimonial em Defesa do Abaité já tem nova data e os caminhos iluminados para acontecer. Com o objetivo de promover aprendizado e reflexão sobre a importância de preservar o território ancestral do Abaité, a caminhada patrimonial terá uma edição especial no próximo domingo (19), realizada pelo Espaço Cultural Rumo do Vento. >
Pelo parque natural localizado entre dunas, mar e regiões de Mata Atlântica, a experiência imersiva propõe uma conscientização ao público. Desta vez, a caminhada terminará com muita irreverência, em uma roda de samba tradicional.>
O projeto terá o Rumo do Vento, local tradicional de samba no Alto da Bela Vista de Itapuã, como ponto de encontro para a caminhada, com concentração às 8h . A jornada partirá às 8h30 horas da Praça do Coreto, após um momento de reflexão. No Abaité, o público poderá conhecer de perto situações emergenciais e histórias do último remanescente de restinga da cidade de Salvador através da mediação da educadora mestra em Antropologia Clara Domingas. >
Idealizadora da Caminhada Patrimonial em Defesa do Abaité, Clara integra o Fórum Permanente de Itapuã e o Conselho Gestor da APA Lagoas e Dunas do Abaité, atuando como ativista ambiental do parque há mais de 10 anos. Nativa de Itapuã, ela convida o público a pensar em processos de construção coletiva em rede na cidade de Salvador e região metropolitana.>
Local com forte ancestralidade indígena e presença negra, o Abaeté vive conflitos de especulação imobiliária e construções indevidas que serão tema de debate ao longo do passeio. Durante a caminhada, as pessoas são convidadas a observar o comportamento de árvores, dunas e águas, da fauna e flora da restinga urbana, em um movimento de reflexão crítica. >
“As caminhadas patrimoniais são um importante instrumento educativo porque ativam o corpo em movimento, a atenção diferenciada e a capacidade de envolvimento com o território. É tão bom conhecer o nosso chão!”, ressalta a pesquisadora Clara Domingas.>
Se juntam ainda à realização do evento os seguintes parceiros: Fórum Permanente de Itapuã, Instituto de Permacultura da Bahia e Fundo Casa Socioambiental.>
Clara Domingas esclarece: “Afirmamos Abaité, com ‘i’, para reforçar a retomada ancestral em curso, evocando o Tupi antigo, língua nativa dominante neste território, antes da invasão europeia e durante os primeiros anos de colonização”. O caso foi analisado pelo tupinólogo Frederico Edelweiss (1969) que concluiu ser inadequado o termo Abaeté, com ‘e’. A palavra ‘eté’ remete a homem (Abá) abalizado, de valor, verdadeiro, já ‘ité’ tem sentido de sinistro, terrível, traduzindo de maneira mais precisa a realidade geográfica do lugar, que desafia, inspira medo, respeito e mistério, próprios às lendas e causos em torno da lagoa escura do Abaité.>
O projeto "Rumo do Vento de Itapuã - Território de Resistência e Preservação" foi contemplado pelo edital Territórios Criativos – Ano II com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador e da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), Ministério da Cultura, Governo Federal.>