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Outras mil pessoas ingressaram na fila no primeiro semestre de 2024
Maysa Polcri
Publicado em 25 de setembro de 2024 às 05:15
O aposentado Albênio Lima Honório, 70, já tinha percorrido o trajeto entre Salvador e Ituaçu, no centro-sul baiano, incontáveis vezes. Mas, em um dia de 2015, os 500 quilômetros que separam as cidades foram cruzados com um gosto amargo na boca e uma tensão diferente. Ele recebeu a notícia de que precisaria de um transplante de fígado e teve certeza de que não sobreviveria. Decidiu, então, ir à sua terra natal comprar uma sepultura para ser enterrado ao lado dos pais. O medo é uma constante para pacientes que aguardam na fila dos transplantes. Só neste ano, 34 desses morreram na Bahia.
A cirrose hepática evoluiu sem que Albênio se desse conta da gravidade do problema. Em dois anos, o quadro se tornou tão grave que ele foi levado de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea para Fortaleza, onde ainda aguardou quase um mês para a cirurgia.
“Eu sabia que tinha algum problema, mas o agravamento foi repentino. Eu achei que fosse morrer e mandei logo fazer uma sepultura. O transplante foi uma benção na minha vida porque eu fui curado”, diz Albênio. O hepatologista Paulo Bittencourt explica que a cirrose costuma ser silenciosa e a perspectiva é que os pacientes com quadros graves tenham a estimativa de, em média, dois anos de vida.
Entre janeiro e junho deste ano, sete pessoas morreram enquanto aguardavam transplante de fígado na Bahia. No mesmo período, 24 faleceram enquanto esperavam rins e, outros três, durante a espera por córneas.
Os dados fazem parte do levantamento do Registro Brasileiro de Transplantes da Associação Brasileira de Transplantes de Órgão (ABTO). Enquanto isso, no mesmo período, 1.040 pessoas entraram na fila de espera. Na sexta-feira (27), será celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos.
As 34 mortes no primeiro semestre do ano representam uma redução de 46% em relação ao ano passado, quando foram 63 nos seis primeiros meses de 2023. Em 2022, foram 27 óbitos. “A maior parte das doenças do fígado são silenciosas até desenvolver graves complicações. Quando isso acontece, o risco de vida é mais alto e o transplante é indicado para pacientes com cirrose”, explica o médico Paulo Bittencourt.
Apesar de comumente relacionada a ingestão de bebida alcoólica em excesso, a cirrose pode ser resultado de hepatites virais. No caso do aposentado Albênio Honório, a doença não teve causa definida pelos médicos. Oito anos após o transplante de fígado, o baiano passou por mais um drama. Dessa vez, soube que precisaria de um novo rim, que foi doado pela irmã.
“Eu não tive tanto medo dessa vez porque a hemodiálise poderia me manter vivo por muito tempo, mas consegui o transplante há um ano e quatro meses”, comemora. Para Albênio, que vai lançar quatro livros em outubro na cidade de Ituaçu, a vida mudou depois dos dois procedimentos. “A compreensão sobre a vida muda muito. Passei a compreender mais as pessoas e a aturar tudo com muito mais paciência”, conta.
Hoje, 3.555 pessoas aguardam por transplantes de órgãos na Bahia, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). Os dados do final de agosto são os mais atualizados sobre o tema. A maior parte dos pacientes (1.908) aguarda por um transplante de rim, seguido de córneas (1.606), fígado (40) e coração (1). O tempo médio de espera para a realização da cirurgia é de seis meses a um ano.
Facilidade
Desde abril deste ano, doar órgãos está mais fácil em todo o Brasil. Isso acontece devido a Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (Aêdo), parceria entre o Colégio Notarial do Brasil e o Ministério da Saúde.
O documento digital pode ser preenchido de forma gratuita neste site. Nele, a pessoa escolhe qual órgão deseja doar, faz uma videoconferência para que sua vontade seja registrada e assina a autorização digitalmente. Com isso, o desejo de doar passa a ser oficial em caso de morte.
Conscientização
A Associação Bahiana de Medicina (ABM) escolheu como tema do XIX Congresso da ABM o Transplante de Órgãos. O evento, que será realizado em parceria com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), vai contar com a participação do Colégio Notarial do Brasil – Seção Bahia (CNB/BA). O evento vai acontecer de forma presencial nos dias 4 e 5 de outubro, em Ondina, sede da ABM.