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Maria Raquel Brito
Alan Pinheiro
Publicado em 10 de outubro de 2025 às 05:00
De segunda a sexta, Mateus Dias acorda, toma café da manhã, se arruma e sai de casa andando para o emprego. Com cerca de dez minutos de caminhada, o projetista industrial já está no escritório da empresa onde exerce a sua profissão. Assim como o homem de 26 anos, três em cada 10 baianos também seguem a mesma rotina de sair de casa a pé para o trabalho. >
Esse número vem da pesquisa do Censo Demográfico 2022, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento revelou que a Bahia é o estado com a maior proporção de pessoas que vão para o trabalho a pé, entre a população com 10 anos ou mais, ocupada e que trabalhava fora do domicílio onde residia.>
No total, 1.197.115 pessoas no estado declararam que andar a pé era o “meio de transporte” utilizado ou em que passavam a maior parte do tempo no caminho de casa para o trabalho, o que representava 27,6% da população empregada na Bahia. >
Pesquisa do IBGE revela preferência de meio de transporte e tempo de deslocamento na Bahia
Ainda segundo os dados presentes na pesquisa, 89,2% das pessoas que vão a pé para o trabalho, na Bahia, demoram até meia hora nesse deslocamento, sendo que 55,7% demoram até 15 minutos. De acordo com Mariana Viveiros, supervisora de Disseminação de Informações do IBGE, a proximidade é o principal fator para explicar a decisão de ir a pé, mas não é a única.>
“Tem o fator distância, mas a gente não pode deixar de considerar também outras questões importantes, e uma é não ter acesso ou condições de pagar por outro transporte. Às vezes existem outros, mas a pessoa não pode pagar, ou não existem outros transportes viáveis disponíveis para que ela acesse o seu trabalho”, explica.>
Antes morando próximo à Avenida Garibaldi, Mateus se mudou para o Costa Azul com o objetivo de melhorar a qualidade de vida ao diminuir o tempo de deslocamento. A rotina de passar até uma hora dentro do ônibus chegou ao fim ao mesmo tempo em que surgiu a independência dos transportes.>
“A saúde dá uma melhorada. Acabo me exercitando um pouco, apesar de ser uma distância curta, mas eu acho que o maior benefício mesmo é se desprender de outros transportes, porque você acaba tendo mais liberdade”, relata o projetista industrial sobre os benefícios da mudança.>
Desde que se mudou de Salvador para Ribeira do Pombal, a 300km da capital baiana, a acompanhante terapêutica Mariana Tarcília, de 50 anos, também viu sua rotina se transformar: antes, precisava enfrentar quatro horas diárias no transporte público para chegar ao trabalho. Hoje, basta uma caminhada de 15 minutos. >
“Eu consegui economizar não só financeiramente, mas também o meu tempo, e melhorar a qualidade de vida e a minha saúde mental. A minha maior parte do tempo em Salvador foi nos ônibus. Aqui, eu boto aqui o pé na estrada e chego rápido no lugar onde eu quero, e não vem o valor de transporte descontado no contracheque. Esse valor que descontaria eu já consigo direcionar para suprir outra necessidade ou até mesmo guardar”, diz.>
O tempo que Mariana Tarcília enfrentava até chegar no trabalho em Salvador é a realidade de muitos outros baianos, seja no transporte público ou em outros modais. De acordo com o IBGE, 10,4% dos trabalhadores baianos gastavam mais de uma hora no caminho do emprego em 2022.>
Entre as capitais, Salvador tinha a terceira maior proporção de pessoas que enfrentavam mais de uma hora de deslocamento para chegar ao trabalho: 22,6%. A capital ocupa também o segundo lugar entre as cidades baianas, atrás apenas de Taperoá, no Baixo Sul do estado.>
No município, que tem 18.044 habitantes, 26,9% dos trabalhadores levavam mais de uma hora para chegar ao trabalho quando a pesquisa foi feita. Lá, o deslocamento também é majoritariamente a pé. Entre as pessoas que utilizam meios como caminhonete, mototáxi e embarcações, porém, a proporção de mais de uma hora de trajeto também é alta: 61,5% para as caminhonetes, 78% para os mototáxis e 63,3% para embarcações de pequeno porte (aquelas com capacidade de até 20 pessoas). >
De acordo com Mariana Viveiros, o motivo do tempo de deslocamento demandaria uma investigação mais aprofundada, uma vez que a cidade é pequena e apenas 10% dos habitantes trabalham em outros municípios – o que poderia justificar os longos trajetos.>