Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Juventude na mira: ao menos 55 adolescentes foram vítimas da violência armada em Salvador e RMS este ano

Número representa um aumento de 34% em relação ao mesmo período do ano passado, diz levantamento do Instituto Fogo Cruzado

  • Foto do(a) author(a) Maria Raquel Brito
  • Maria Raquel Brito

Publicado em 21 de outubro de 2025 às 05:00

Cápsulas de balas
Cápsulas de balas Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

No dia 28 de setembro, Caíque dos Santos Reis, de 16 anos, estava caminhando quando foi abordado por policiais. Os oficiais mandaram que colocasse as mãos para cima, deram um tiro em sua perna e depois atiraram ainda mais. Ele não resistiu. Estudante, prestes a começar um trabalho como atendente de confeito e, acima de tudo, um adolescente, Caíque entrou para a triste estatística de jovens baleados em Salvador e região metropolitana em 2025.

Além de Caíque, ao menos outros 54 adolescentes foram vítimas da violência armada entre 1º de janeiro e 18 de outubro na Grande Salvador – um aumento de 34% em relação ao mesmo período do ano passado. Desses, 36 morreram e 19 ficaram feridos. Os dados são de um mapeamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado, que mostrou também os principais motivos dos tiros: homicídio ou tentativa, ação ou operação policial, disputas, ataques a civis e disparos acidentais.

Caíque morreu durante operação da PM em São Marcos. por Reprodução

Dudu Ribeiro, integrante da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, cofundador e diretor-executivo da Iniciativa Negra, afirma que Salvador convive há muitos anos com uma mudança triste, perceptível nas idades inscritas nas lápides dos cemitérios da cidade.

“Uma geração que nasceu nos anos 2000 e não consegue ter uma trajetória protegida de vida. Parte importante dessa violência sistemática e estrutural é perpetrada pelo próprio Estado, a partir, em grande parte, das políticas de segurança pública, mas não apenas. Há também violação de direitos na saúde, na educação e em outras áreas que deveriam proteger a trajetória desse jovem, e a gente tem um processo conduzido pela extrema direita que busca a criminalização ainda maior de adolescentes”, diz.

Risco constante

O perigo da violência armada está próximo da juventude até em locais onde a única preocupação deveria ser o aprendizado. Um levantamento realizado pelo Instituto Fogo Cruzado e pela Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas apontou que, no período entre 4 de julho de 2022 e 30 de agosto de 2024, foram registrados 728 tiroteios em um raio de até 300 metros de escolas públicas de Salvador. O número equivale a 26% de todos os tiroteios mapeados na capital baiana pelo Fogo Cruzado nesse período. Destes tiroteios, 43% ocorreram durante operações e ações da polícia.

“A gente está falando de um contexto em que a escola, que deveria ser o lugar do cuidado da proteção e da formação, corre risco na violência armada. E parte fundamental da mudança política do Estado é proteger as escolas. Proteger as escolas como espaço inviolável, garantidor de direitos, cuidador das crianças e dos adolescentes”, afirma Dudu Ribeiro.

É para preservar os direitos de crianças e adolescentes e garantir que tenham um futuro que existe o Instituto Alana, criado em 1994. Ana Claudia Cifali, Coordenadora jurídica da organização, defende que, sob o pretexto de garantir segurança, o Estado atua com desdém com relação aos direitos fundamentais, “uma garantia formal que não se realiza na realidade fática”.

“Ainda é necessário que se estabeleça uma noção de cidadania e coletividade, onde o controle da criminalidade não seja definido pela lógica da guerra e marcado pela divisão entre cidadãos de bem e inimigos. A política de segurança pública assumida pelo Estado brasileiro, baseada na guerra contra o tráfico de drogas e nos crimes patrimoniais, notadamente não responde às inseguranças e anseios da população”, diz.

No que se refere à juventude, a especialista afirma que é necessário fortalecer projetos e políticas públicas para garantir o futuro dessas crianças e adolescentes, de forma que eles tenham alternativas além do crime organizado e que não precisem conviver com o medo da brutalidade.

“Precisamos qualificar oportunidades, projetos, políticas públicas, especialmente nessas comunidades mais vulneráveis, para que esses jovens consigam ter outras oportunidades e construir outros projetos de futuro, conseguir sonhar, conseguir vislumbrar outras possibilidades que não o ingresso no mundo do crime”, defende.

Menos armas, mais políticas públicas

No dia 5 de outubro, o adolescente Gilliarde de Jesus Santos Júnior, de 12 anos, de Camaçari, manuseava a arma do pai – que tem registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) – quando foi atingido por um disparo acidental. O caso mostra que o perigo da violência armada vai além das ruas.

De acordo com Cristina Neme, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz, é necessário que haja um conjunto de políticas públicas para prevenir que a violência atinja adolescentes e jovens. Políticas que promovam fatores de proteção e que envolvam também outras frentes, como educação, assistência social e saúde.

“É fundamental que o Estado promova uma política de segurança não letal, que evite confrontos que põem em risco a população e aumentam a letalidade nas comunidades, dos adolescentes e jovens que estão nas ruas. O papel do Estado é prevenir. E a política de segurança tem que controlar a letalidade das forças policiais. Nós temos esse problema, ele se agrava em alguns estados e o caso da Bahia é um deles, que tem um alto índice de mortes pela polícia. O Estado não pode agravar o problema, não pode contribuir para aumentar a taxa de homicídio em razão do descontrole das atuações e operações policiais. Ao contrário”, diz.