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Monique Lobo
Publicado em 14 de abril de 2025 às 17:37
A truculência das abordagens policiais na Engomadeira foi um assunto constante durante a despedida da Luiza Silva dos Santos, que aconteceu na tarde desta segunda-feira (14), Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco, na Quinta dos Lázaros. >
A jovem de 19 anos foi morta por uma bala perdida durante uma ação policial no bairro, no dia anterior. Moradora do bairro, Jane Santos, disse que está revoltada. Segundo ela, a ação violenta da polícia na Engomadeira é comum. "Todo dia, essa 23 [23ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM)] entra lá dando tiro, acabando com o tudo. Quinta-feira, fizeram isso, na entrada da Rua Santiago [Avenida Santiago, na Engomadeira], deram tiro, xingaram mãe de família. E não resolve nada. Resolve o que? Mais uma adolescente morta, o pai chorando, a mãe chorando", falou.>
A moradora também falou sobre o medo que compartilha com os vizinhos quando tem uma ação policial na região. "Os policiais só chegam dando tiro no bairro, oprimindo os moradores, xingando mãe de família. Nós pagamos a farda dele, o salário deles, nós queremos nos sentir protegidos por eles e não coagidos", disparou. >
E acrescentou: "Será que a Secretaria de Segurança Pública não tá vendo que tem erro nisso, nos homens que eles botam na rua? Mal treinados, não tem preparo nenhum para entrar na favela, pra entrar na comunidade. Eles ganham pra tratar a gente bem, não é pra xingar a gente. A gente fica até com medo de sair na rua, ninguém senta mais na beira da porta para conversar, porque não pode, porque é coagido".>
Sobre as autoridades do estado, a moradora foi enfática sobre o que considerou "erros" da gestão do estado e da Secretaria de Segurança Pública. "Mais um morto, vai resolver o que agora? O pai vai chorar e o governador, o secretário de segurança pública vão tá em suas casas, nos seus ar condicionados. E a gente pagando pelos erros deles todos os dias", disse. >
Muito consternada, ela lembrou da justificativa recorrente dos órgãos de segurança do estado para este tipo de episódio: "Foi troca de tiro. Porque chegou e foi recebido a tiro. Essa menina trocou tiro com quem? Uma menina que faz faculdade. Como é que trocou tiro? Porque eles disseram que foram recebidos com troca de tiros e só tinha a menina na rua e dois rapazes entregando mercadoria. Como é que trocou tiros? Será que ninguém ta vendo isso aí?", indagou.>
A Polícia Militar da Bahia foi procurada para se posicionar sobre a denúncia de truculência dos policiais e sobre as ações da 23ª CIPM no bairro, mas ainda não respondeu. A Secretaria de Segurança Pública também foi questionada sobre as abordagens violentas dos agentes e sobre as soluções cobradas pela moradora, mas também não retornou. O espaço segue aberto. >