'Quem pode, está saindo': confrontos entre facções ampliam saída de moradores de Vila Verde

Casas abandonadas por famílias são ocupadas por integrantes de facção

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  • Wendel de Novais

Publicado em 22 de maio de 2024 às 05:30

Vila Verde vive esvaziamento por conta da violência Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O abandono de residências por parte de moradores que temem a violência armada na localidade de Vila Verde, em Salvador, se intensificou nas últimas semanas. Casas da região, que é palco de uma disputa entre facções, estão se tornando abrigo para integrantes do Comando Vermelho (CV) após a partida de famílias amedrontadas pelos tiroteios. O movimento de saída de quem vive lá teve início ainda no começo de maio, mas, de acordo com moradores, ganhou contornos ainda maiores nos últimos 15 dias por conta dos constantes registros de troca de tiros nas ruas do local.

Para um morador, que prefere não se identificar, a sensação é de que praticamente todos têm o desejo de deixar a Vila Verde. “Quem pode, está saindo. Toda hora tem notícia de alguém que foi embora para outro bairro ou até para o interior. Nas casas, você entra e vê que saíram corridos, abandonando até móveis. No desespero, o povo não tem nem como pensar em carreto para mudança”, relata em conversa rápida.

Sem prolongar a conversa, outra moradora, que também não diz o nome, confirma a continuidade das mudanças do local. “Quem mora perto de onde está acontecendo, está correndo pela vida. Quando a gente mora de cara para esses tiros, não importa quem é certo ou errado, todo mundo pode acabar morto por uma bala perdida”, diz ela, antes de se afastar da reportagem para não ser notada por vigias do tráfico.

Ruas de Vila Verde passam o dia esvaziadas Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O medo de quem fala de maneira sucinta com a reportagem se vê também na ausência de pessoas nas ruas da localidade. Mesmo em plena luz do dia, é comum notar que poucas pessoas circulam e muitos estabelecimentos estão de portas fechadas. Nas fachadas das casas, a presença do CV e do Bonde do Maluco (BDM), que promove ataques contra a facção carioca no local, é evidente em pichações em referência aos dois grupos nas ruas Jardim Botânico e Planalto Verde

As duas, inclusive, são o epicentro da permanência de traficantes do CV em casas abandonadas por moradores e, consequentemente, o foco dos ataques constantes do BDM. Até por isso, na manhã desta terça-feira (21), eram as ruas com maior presença de agentes policiais, com viaturas da 49º Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), da Rondesp e da Patamo, que ocupam o bairro desde a manhã da segunda-feira.

O ‘gatilho’ da ocupação, segundo uma fonte da polícia que prefere não se identificar, seria a execução de Thiago Tavares dos Santos, de 24 anos. O jovem foi encontrado esquartejado na Estrada Velha do Aeroporto na última quinta-feira (16) e estava desaparecido desde a quarta-feira (15). Após um surto psicótico, a vítima teria saído de casa sem destino e foi sequestrado por traficantes da localidade, que cortaram o corpo e depositaram em um saco.

“Já era uma área com um histórico recente alarmante e que tinha ações em análise. Depois de uma execução como essa, ficou ainda mais evidente a necessidade de uma medida de urgência”, conta o policial. Mesmo com seguimento da ocupação nesta terça, Vila Verde continuou sem a entrada ônibus e chegou ao terceiro dia sem o serviço, já que moradores afirmam que desde o domingo precisam ir até a Estrada Velha do Aeroporto para pegar uma condução.