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Larissa Almeida
Publicado em 3 de abril de 2024 às 16:32
A despedida do mergulhador Erivan José Pedroso Brandão Filho, 61 anos, que foi encontrado morto na terça-feira (2) na Praia do Farol da Barra, foi marcada pelo silêncio. Desde o momento em que o corpo saiu da sala de velório e seguiu até o local onde seria sepultado, no Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação, os familiares e amigos do falecido fizeram uma caminhada sem cantos ou orações. Tudo que se podia ouvir era a dor traduzida em choro, além de sussurros sobre quão querido Erivan era. Um deles veio de Zelina Brandão, 60 anos, que rompeu a quietude para expressar seu sofrimento e revolta pela morte do irmão. >
“Foi muito triste receber a notícia de que meu irmão saiu para trabalhar e, na volta, foi atropelado. A lancha passou por cima dele e o matou. Ainda não sei qual foi essa lancha, [mas] temos que achar esse criminoso. Não pode ficar impune, ele não merecia essa morte, não. Temos que correr atrás de quem matou meu irmão”, disse. >
De acordo com Zelina, Erivan era mergulhador profissional há 40 anos e tinha costuma de ir até 30 metros debaixo da superfície sem necessidade de cilindro de oxigênio. Diariamente, ele saía às 5h e voltava para sua casa, no bairro da Saúde, pouco antes do meio-dia. Foi quando o homem não retornou no horário habitual que a família começou a estranhar a demora. >
A bombeira civil Isabela Brandão, sobrinha de Erivan, foi a primeira parente a saber do acidente. Acompanhada de um primo e o tio, ela foi até a Praia do Farol da Barra para fazer o reconhecimento do corpo ainda na terça-feira. Ao chegar lá, a perícia já estava no local e uma delegada que trabalha no caso orientou os familiares a registrarem uma ocorrência na delegacia nesta quarta-feira (3). >
Para Isabela, a denúncia será uma etapa fundamental para obter respostas sobre a morte do tio, uma vez que ela conta com as investigações para ter acesso câmera 360º que podem ter flagrado o momento da tragédia. “Quando teve o acidente, cortou o rosto e o pescoço dele, parte do pé de pato foi rasgado. Ele estava com boia de sinalização, então, quando essa embarcação passou por cima dele, cortou essa boia, que ficou à deriva”, contou. >
“Não deram socorro ao meu tio em nenhum momento e eu acho que eles sentiram o impacto porque [atropelar com uma lancha] é a mesma coisa de pegar em um animal com um carro. A pessoa não queria responder por isso, porque deviam estar bebendo. Eu espero que as câmeras peguem essa embarcação para outras famílias não perderem seus parentes e mergulhadores, e para que não passem pela mesma dor que estamos passando”, desabafou. >
Planos interrompidos >
Além de mergulhar profissionalmente, Erivan costumava pescar para complementar a renda e tinha como região predileta o trecho entre o Morro do Cristo e a Praia do Porto da Barra. Apesar de gostar do que fazia, ele já tinha pretensão de desacelerar. “Ele pegava lagosta, peixe e polvo para poder vender, mas já tinha dado entrada também no INSS para se aposentar pela pescaria”, afirmou Isabela. >
No último final de semana, o mergulhador também tinha planejado uma saída com o amigo Carlos Cristiano Souto, de 68 anos, como sempre faziam há pelo menos duas décadas. “Nós andávamos sempre juntos e tomávamos uma cerveja quando nos encontrávamos. Ele era uma pessoa maravilhosa. Na época em que trabalhávamos na Salvamar, eu comprei um polvo bem grande na mão dele e eu sempre cobrava a ele um igual. Nunca imaginei que ele ia morrer tão cedo, não esperava por isso. Marcamos de tomar uma cerveja neste final de semana e não deu tempo. É muito duro”, lamentou, com a voz embargada.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>