‘Vivemos com medo’, relata moradora afetada por deslizamento em Fazenda Grande II

Com a entrada da casa bloqueada, moradores precisam de acesso pelo imóvel vizinho para sair

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  • Raquel Brito

Publicado em 25 de maio de 2024 às 05:25

Barranco foi coberto com lona
Barranco foi coberto com lona Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Moradores do Conjunto Jaguaripe, no bairro Fazenda Grande II, estão passando por dias de sufoco. No dia 24 de abril, após as fortes chuvas, um deslizamento no terreiro Ilê Axé Laiê Tomin destruiu uma casa e um quiosque e comprometeu os imóveis ao redor.

Onde antes ficavam áreas de confraternização para o axé, hoje está uma lona preta e muito entulho. No prédio ao lado, de quatro andares, escoras vermelhas colocadas pelos moradores tentam evitar que aconteça uma tragédia maior caso outro deslizamento ocorra.

Na casa religiosa, onde a ialorixá Cátia Gomes, ou Mãe Cátia, mora com mais oito pessoas, o medo tem feito com que eles vivam em alerta. A equede do terreiro, que viu sua casa desmoronar com todos os seus pertences, agora vive com a irmã.

Vizinhos colocaram escoras para tentar evitar mais desastres
Vizinhos colocaram escoras para tentar evitar mais desastres Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Devido ao risco, a entrada para o terreiro, onde moram as nove pessoas, foi bloqueada, e os moradores utilizam agora uma passagem pela casa de um vizinho, pela qual saem em outra rua. O prédio vizinho está condenado e os moradores receberam a orientação de sair, mas continuam no local.

Cátia relata que não tem conseguido dormir em paz desde o deslizamento, com medo de que aconteça novamente. “A gente tem medo que o chão caia. Até se cair uma panela, eu me assusto. A gente não sabe o que fazer, vivemos com medo”, diz. 

Medo tem impedido Cátia de dormir
Medo tem impedido Cátia de dormir Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Segundo ela, a possibilidade de mais ocorrências põe em perigo a sua casa, o barracão do terreiro e mais quatro casas de filhos de santos, todas no mesmo terreno, além do prédio vizinho.

Cátia conta que, desde dia 24de abril, a programação do centro está suspensa. “Nós não estamos recebendo clientes, estamos sem movimentação nenhuma. O calendário de festas e funções está parado, porque não temos condições de trazer ninguém para cá nesse estado”, lamenta.

A líder religiosa afirma que, logo após o deslizamento, foram os próprios moradores que colocaram uma lona para minimizar o perigo e, após duas semanas, outra foi colocada pela Limpurb. Desde então, ela diz cobrar respostas da Superintendência de Conservação e Obras Públicas do Salvador (Sucop) sobre a obra de contenção da encosta. 

“É um prejuízo enorme, nós não temos de onde tirar os recursos para arcar com outra lona ou com a recuperação do que perdemos, e nem temos condições de esperar. A lona é só um paliativo. A gente precisa que um profissional venha, avalie, busque como isso pode ser feito da melhor forma”.

Na quinta-feira (23), a Sucop foi até o endereço para tirar as medidas de contenção, mas, segundo ela, os técnicos não apresentaram prazos para o início da obra.

A Sucop e a Limpurb foram procuradas para responder aos relatos de Cátia. Em nota, a Limpurb afirmou que "a lona foi instalada em caráter emergencial para evitar novas possibilidades de deslizamentos". Uma equipe do órgão fará uma nova visita no sábado (25) para averiguar a situação do local. A Sucop não respondeu até a publicação da matéria.

A Defesa Civil (Codesal) também foi procurada e ainda não se manifestou. Por meio de assessoria, a Prefeitura de Salvador informou que o projeto de contenção da encosta está sendo elaborado para posterior captação de recursos e execução.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.