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Carol Neves
Publicado em 20 de dezembro de 2025 às 08:27
A divulgação de uma nova leva de documentos sobre o caso Jeffrey Epstein voltou a colocar o escândalo no centro do noticiário dos Estados Unidos. Os arquivos, tornados públicos nesta sexta-feira (18) pelo governo americano, reúnem mais de 300 mil páginas e incluem fotografias do bilionário ao lado de celebridades, referências ao Brasil e extensos trechos sob censura oficial. >
A liberação ocorre após o Congresso dos EUA aprovar, em novembro, uma lei que obriga o Executivo a divulgar materiais da investigação. O texto foi sancionado pelo presidente Donald Trump. Mesmo assim, o Departamento de Justiça deixou claro que não tornará públicos todos os documentos na íntegra.>
Entre os papéis divulgados agora há imagens de Epstein com nomes conhecidos mundialmente, como Michael Jackson, Mick Jagger e o ex-presidente Bill Clinton. Os registros não trazem informações detalhadas sobre quando ou em que circunstâncias as fotos foram feitas.>
Veja fotos dos arquivos de Jeffrey Epstein
Os arquivos também mencionam o Brasil em pelo menos duas ocasiões. Em um dos registros, há um recado de janeiro de 2005 solicitando que Epstein ligasse para o novo número de telefone de uma mulher, com o assunto “Brasil”. A identificação de quem deixou a mensagem aparece censurada.>
Em outro documento, uma anotação manuscrita relata que uma mulher - cujo nome foi ocultado - teria sido fotografada sem saber. Segundo o texto, ela teria viajado ao Brasil aos 18 anos e retornado aos Estados Unidos dois anos depois.>
O vice-procurador-geral Todd Blanche afirmou à Fox News que a divulgação será gradual. “Prevejo que divulgaremos mais documentos nas próximas semanas, então hoje algumas centenas de milhares e, nas próximas semanas, espero que mais algumas centenas de milhares”, disse.>
O Departamento de Justiça informou anteriormente que parte do material permanecerá sob sigilo por envolver investigações ainda em curso ou por conter informações sensíveis, incluindo dados pessoais de vítimas de tráfico sexual. A legislação autoriza a ocultação desses dados, mas impede cortes motivados por “constrangimento, dano à reputação ou sensibilidade política”.>
Epstein foi acusado de abusar sexualmente de mais de 250 meninas menores de idade e de comandar uma rede de exploração sexual com ramificações internacionais. O caso voltou a ganhar força em 2025 diante das idas e vindas de Trump sobre a liberação dos arquivos.>
Em novembro, o Congresso já havia divulgado mensagens que sugerem que o então presidente tinha conhecimento da conduta do bilionário. Em um e-mail de 2018, Epstein escreveu que Trump “passou horas” em sua casa com uma das vítimas. Epstein e Trump mantiveram amizade entre os anos 1990 e o início dos anos 2000. O bilionário foi preso em julho de 2019 e, segundo as autoridades, tirou a própria vida um mês depois, dentro da prisão.>
Pressão política e mudança de discurso>
Durante a campanha presidencial de 2024, Trump prometeu reiteradas vezes que tornaria públicos os arquivos secretos do caso caso voltasse à Casa Branca. Em entrevistas, chegou a dizer ser “muito estranho” que a suposta lista de clientes de Epstein nunca tivesse sido divulgada.>
Em fevereiro deste ano, o governo liberou parte dos documentos. À época, a procuradora-geral Pam Bondi afirmou que uma lista de clientes estava “em sua mesa para ser revisada”. Posteriormente, porém, o Departamento de Justiça declarou não ter encontrado provas da existência desse documento.>
A posição frustrou apoiadores do presidente, muitos deles adeptos de teorias da conspiração relacionadas ao caso — algumas reforçadas pelo próprio Trump. Desde então, o presidente passou a minimizar o tema e chegou a chamar de “idiota” quem ainda demonstrava interesse pelo assunto.>
A mudança de tom intensificou a pressão da oposição democrata e também de integrantes do Partido Republicano para que todos os arquivos fossem tornados públicos. Nos últimos meses, Trump passou a classificar o movimento como uma “farsa” criada para desviar o foco de debates como o orçamento federal.>
Apesar de tentativas da Casa Branca e da liderança republicana para barrar a proposta no Congresso, o projeto alcançou o número mínimo de assinaturas em 12 de novembro, inclusive com apoio de parlamentares do partido do presidente. Três dias depois, Trump mudou novamente de posição e passou a defender a aprovação do texto, afirmando que os republicanos “não tinham nada a esconder”.>
E-mails citam Trump>
Em 12 de novembro, o Congresso já havia divulgado mais de 20 mil páginas da investigação. Grande parte do material reúne e-mails trocados por Epstein com familiares e pessoas próximas.>
Em uma mensagem de janeiro de 2019, o bilionário escreveu que Trump “sabia sobre as garotas”. No mesmo e-mail, aparece o nome de uma vítima - censurado - e uma referência a Mar-a-Lago, o resort do presidente na Flórida.>
Outro e-mail, de 2011, enviado a Ghislaine Maxwell, parceira e confidente de Epstein, menciona Trump de forma indireta. “Quero que você perceba que o cachorro que não latiu é Trump”, escreveu. Em seguida, afirmou que uma das vítimas “passou horas na minha casa com ele… e ele nunca foi mencionado uma única vez”.>
Há ainda registros em que Epstein pondera como deveria responder à imprensa sobre sua relação com Trump, que à época começava a se projetar nacionalmente na política.>
O presidente classificou a controvérsia em torno das mensagens como uma “armadilha” da oposição. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que os documentos mostram que Trump “não fez nada de errado”.>