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'Safári Humano': turistas pagavam R$ 610 mil em viagem de luxo para ter direito a atirar em pessoas

Investigação italiana apura relatos de turistas ricos que embarcavam de Trieste às sextas para passar o fim de semana atirando em pessoas nas colinas de Sarajevo

  • Foto do(a) author(a) Fernanda Varela
  • Fernanda Varela

Publicado em 15 de novembro de 2025 às 09:07

Bósnia e Herzegovina
Bósnia e Herzegovina Crédito: Reprodução

Uma denúncia analisada pelo Ministério Público de Milão reacende um dos relatos mais perturbadores da Guerra da Bósnia, misturando violência, dinheiro e turismo clandestino. Segundo documentos entregues pelo jornalista e escritor italiano Ezio Gavazzeni, homens ricos da Itália, Rússia, Canadá e Estados Unidos teriam desembolsado até R$ 610 mil, em valores atuais, para participar de expedições secretas que os levavam diretamente ao cerco de Sarajevo. Lá, armados e posicionados em pontos estratégicos das colinas, eles passavam o fim de semana atirando em civis, em uma prática descrita como um verdadeiro “safári humano”.

Bósnia e Herzegovina por Reprodução

As viagens partiam de Trieste, no nordeste da Itália, e eram operadas por voos charter da companhia iugoslava Aviogenex. O roteiro, segundo o dossiê, incluía deslocamento de avião até a Sérvia, traslado em helicópteros e transporte em veículos militares até áreas controladas por milícias sérvio-bósnias. Relatos apontam que as excursões aconteciam sempre às sextas-feiras, com retorno no domingo, permitindo que os participantes retomassem suas vidas normalmente na segunda-feira, como se nada tivesse acontecido.

O pacote incluía armas, guias e o acesso a posições de franco-atiradores que já haviam se tornado símbolo do terror em Sarajevo. Uma das áreas mais citadas pelos relatos é a “Alameda dos Snipers”, corredor onde moradores corriam para buscar comida, remédios e água enquanto eram alvejados por atiradores instalados nas encostas. Segundo o dossiê, os turistas eram posicionados exatamente nesses pontos para atirar contra pessoas indefesas, incluindo crianças.

As investigações italianas apuram a possível participação de ao menos três cidadãos da Itália, entre eles um empresário de Milão dono de uma clínica de medicina estética. A imprensa local também menciona o envolvimento do ex-chefe da inteligência iugoslava Jovica Stanišić, que teria facilitado parte da operação. Condenado por crimes contra a humanidade, Stanišić já aparece em diversos documentos ligados às milícias sérvio-bósnias durante a guerra.

Relatos sobre viagens clandestinas para atirar em civis circulam há décadas, mas só agora um dossiê reúne nomes, valores e datas que podem sustentar uma investigação formal. Procuradores esperam que alguns dos suspeitos ainda estejam vivos e possam responder criminalmente por homicídio doloso, agravado por crueldade.

O cerco de Sarajevo, que durou de abril de 1992 a fevereiro de 1996, deixou mais de 5 mil civis mortos e marcou uma das páginas mais violentas da história recente europeia. Com tropas sérvio-bósnias dominando as montanhas em volta da cidade, a população ficou exposta a tiros constantes, falta de água, luz e alimentos por mais de mil dias. Entre as vítimas, estavam cerca de 1.500 crianças.