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Carol Neves
Publicado em 25 de julho de 2025 às 13:19
Um grupo de 11 senadores democratas dos Estados Unidos endereçou uma carta ao presidente Donald Trump para criticar a aplicação de tarifas de 50% sobre importações vindas do Brasil. Na correspondência, os parlamentares qualificam a medida como “claro abuso de poder” e alegam que Trump estaria usando a economia americana para interferir em “favor de um amigo”, referindo-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro. >
Os democratas destacam que os EUA registraram superávit de US$ 7,4 bilhões em bens com o Brasil em 2024 e não enfrentam déficit comercial com o país desde 2007. No entanto, a ameaça de sanções foi motivada por uma tentativa de pressionar o Judiciário brasileiro a cessar processos envolvendo Bolsonaro. Na carta, os senadores afirmam que a medida representaria “interferir no sistema legal de uma nação soberana” e que estabelecerias precedentes perigosos.>
Eles alertam também que uma retaliação brasileira poderia aumentar o custo de produtos importados e impactar cerca de 130 mil empregos nos EUA, já que os americanos compram mais de US$ 40 bilhões por ano do Brasil, incluindo quase US$ 2 bilhões em café.>
Outro ponto levantado pelos parlamentares é o risco geopolítico da decisão: o Brasil pode se aproximar ainda mais da China, tornando-se vulnerável à influência chinesa na América Latina. Segundo eles, “usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em favor de um amigo enfraquece a influência dos EUA no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região”.>
Na sexta (25), uma comissão de senadores brasileiros viajou aos EUA para tentar abrir canal de diálogo sobre a “guerra tarifária”. Porém, conforme o jornalista Valdo Cruz, na Globo.com, Brasília recebeu informação de que a Casa Branca não autorizou negociações diretas com o Brasil.>
O tema ganhou pressão adicional nesta quinta (24), quando o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, manifestou interesse do governo americano sobre os “minerais críticos e estratégicos” brasileiros. Em resposta, o presidente Lula defendeu a soberania nacional sobre recursos como petróleo, ouro e minerais, afirmando: “Temos todo o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro.”>
Tarifaço de Trump: veja alguns pontos dessa disputa comercial
Leia a íntegra da carta:>
Escrevemos para expressar sérias preocupações sobre o claro abuso de poder presente em sua recente ameaça de iniciar uma guerra comercial com o Brasil. Os Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça de tarifas feita por sua administração claramente não se refere a isso. Tampouco se trata de um déficit comercial bilateral, já que os EUA tiveram um superávit de US$ 7,4 bilhões em bens com o Brasil em 2024 e não registram déficit comercial com o país desde 2007.>
Interferir no sistema legal de uma nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação. O Sr. Bolsonaro é um cidadão brasileiro sendo processado nos tribunais brasileiros por ações alegadamente cometidas sob jurisdição nacional. Ele é acusado de tentar minar os resultados de uma eleição democrática no Brasil e de planejar um golpe de Estado.>
Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em favor de um amigo é um grave abuso de poder, enfraquece a influência dos EUA no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região. O anúncio de sua administração em 18 de julho de 2025, de sanções de visto contra autoridades judiciais brasileiras envolvidas no caso do Sr. Bolsonaro, indica — mais uma vez — a disposição de sua administração em priorizar sua agenda pessoal em detrimento dos interesses do povo americano.>
Suas ações aumentariam os custos para famílias e empresas americanas. Os americanos importam mais de US$ 40 bilhões por ano do Brasil, incluindo quase US$ 2 bilhões em café. O comércio entre EUA e Brasil sustenta cerca de 130 mil empregos nos Estados Unidos, que estão em risco diante da ameaça de tarifas elevadas. O Brasil também prometeu retaliar, e o senhor prometeu retaliar em resposta — o que significa que os exportadores americanos sofrerão e os impostos sobre importações para os americanos aumentarão além do nível de 50% que o senhor ameaçou.>
Uma guerra comercial com o Brasil também aproximaria o país da República Popular da China (RPC) em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência chinesa na América Latina. Empresas estatais e ligadas ao Estado chinês estão investindo fortemente no Brasil, incluindo vários projetos portuários em andamento. Recentemente, o China State Railway Group assinou um Memorando de Entendimento para estudar um projeto ferroviário transcontinental.>
Essas considerações não são exclusivas do Brasil. Em toda a América Latina, a RPC está trabalhando para ampliar sua influência por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota. Estamos preocupados que suas ações para minar um sistema judicial independente apenas aumentem o ceticismo em relação à influência americana na região e deem mais credibilidade à agenda de autoridades e empresas estatais chinesas. A mesma tendência também está ocorrendo no Leste e Sudeste Asiático.>
Os objetivos principais dos EUA na América Latina devem ser o fortalecimento de relações econômicas mutuamente benéficas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o combate à influência da RPC. Instamos o senhor a reconsiderar suas ações e a priorizar os interesses econômicos dos americanos, que desejam previsibilidade — não outra guerra comercial".>
Atenciosamente,>
Tim Kaine, Senador dos Estados Unidos>
Jeanne Shaheen, Senadora dos Estados Unidos>
Adam B. Schiff, Senador dos Estados Unidos>
Richard J. Durbin, Senador dos Estados Unidos>
Peter Welch, Senador dos Estados Unidos>
Kirsten Gillibrand, Senadora dos Estados Unidos>
Mark R. Warner, Senador dos Estados Unidos>
Catherine Cortez Masto, Senadora dos Estados Unidos>
Michael F. Bennet, Senador dos Estados Unidos>
Jacky Rosen, Senadora dos Estados Unidos>
Raphael Warnock, Senador dos Estados Unidos>