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Monique Lobo
Publicado em 22 de setembro de 2025 às 23:30
O anúncio do presidente dos Estados Unidos para que grávidas não tomem o medicamento Tylenol, conhecido também como paracetamol, nesta segunda-feira (22), foi acompanhado de frases polêmicas tanto de Donald Trump, quanto do secretário do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr. >
Entre as afirmações, o presidente americano disse que não existe autismo nas comunidades Amish - um grupo cristão ultraconservador que busca viver isolado da sociedade moderna -, que a vacina tríplice viral (MMR) deve ser aplicada separadamente para não causar problemas e que ele se baseia no que acha. >
Donald Trump
Ao lado do Robert F. Kennedy Jr., Trump respondeu algumas perguntas da imprensa. Uma delas foi sobre a nova orientação para a suspensão do uso do paracetamol e a alternativa a esse medicamento. Segundo o presidente, no entanto, não há outra alternativa. "Com Tylenol, não tome. Não tome. E se sua febre é muito ruim, você vai ter que tomar um, porque não tem alternativa pra isso, infelizmente. Primeira pergunta: 'o que tomar no lugar?' Não há uma alternativa para isso", falou. >
Quando outro repórter destacou que, em um podcast, um integrante da comunidade Amish não sabia o que era Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou autismo, Traump garantiu que não há casos neste grupo porque eles não tomam este tipo de medicamento. "Não existe na comunidade Amish e eles não tomam toda essa porcaria. Não existe. É como em alguns países em que não existe e eles não tomam", disparou.>
Sobre as outras nações, o presidente dos Estados Unidos revelou que espera que atendam também a sua orientação. "Eu espero que eles sigam. Outros países vendem Tylenol. Alguns não. Eu ouvi que Cuba não tem [Tylenol] porque é muito caro e eles não tem o dinheiro para ter ou eles não querem gastar o dinheiro para ter. Eles não tem Tylenol e eu ouvi que eles não tem, essencialmente, autismo. Vocês precisam checar", preveniu.>
Donald Trump também mirou as vacinas. Ao ser lembrado que já tinha sugerido o espaçamento entre doses de vacinas para evitar o autismo, ele disse que o mesmo deve ser feito com a vacina tríplice viral, que tem a sigla em inglês MMR. "Eu diria que sim [para o espaçamento das doses MMR]. Mas , para mim, é muito senso comum envolvido nisso, é um processo. Mas estamos olhando. Deveriam apenas ser dadas separadas. É possível que você possa reduzir [risco do autismo], dando em doses menores. Mas é possível que, nesse caso particular, a MMR não funcione em doses menores. Mas, você certamente pode dar em doses separadas", garantiu. >
E foi ainda mais enfático ao condenar as vacinas em crianças: "É um inconveniente, você tem que voltar mais um ano, você tem que voltar todo ano por quatro anos, cinco anos, três anos... Apenas interrompa. Porque são muitos líquidos, muitas coisas diferentes indo nesse bebê. É um número muito grande, o tamanho disso quando você olha: são 80 diferentes vacinas e além de vacinas, e você dá isso para uma criança pequena". >
O que o presidente não escondeu é que sua orientação é baseada na sua opinião. "A MMR eu acho que deve ser tomada separadamente, isso é baseado no que eu acho. [...] As três devem ser tomadas separadamente. Parece que quando você mistura, elas podem ser um problema. Não tem nenhuma desvantagem em tomá-las separadamente, na verdade, eles acham que é melhor. Então, vamos dar separadamente", falou. >
Ele também acrescentou que pretende zerar os casos de autismo até o fim do seu mandato. "Não tome Tylenol se você estiver grávida e não dê Tylenol para o seu filho quando ele nascer. Não dê, apenas não dê. [...] Se você fizer essas coisas, eu estou te dizendo: quando eu deixar a presidência, eu não vou ter os números que estamos ouvindo de 1 em 32 [pessoas], 1 em 10 [pessoas], porque eu já ouvi 1 em 10 também. Vamos voltar para 1 em 10 mil [pessoas], ou 1 em 20 mil [pessoas] ou talvez nenhum em 20 mil. Porque isso é artificialmente induzido, isso é induzido por algo. Porque você não vai de 1 em 20 mil, para 1 em 10 mil e para 1 em 10. Isso significa que você está tomando algo e algo ruim", concluiu. >
Quem também não fugiu de polêmica foi o secretário do Departamento de Saúde. Robert F. Kennedy Jr. afirmou que o autismo é uma epidemia porque ele nunca viu uma pessoa com mais 70 anos com o transtorno. "É senso comum. Porque você só vê isso em pessoas abaixo de 50 anos de idade. Se fosse por melhores diagnósticos, você veria em alguém de 70 anos. Eu nunca vi isso acontecer em pessoas da minha idade. Eu nunca vi um caso de profundo autismo - batendo cabeça, movimentos repetitivos, andando nas pontas dos pés, não verbal, sem usar o banheiro -, eu nunca vi em minha vida um homem de 70 anos que pareça assim. Você só vê em crianças. É uma epidemia", atestou categoricamente. >
Durante o anúncio, Donald Trump citou uma revisão de 46 estudos sobre o uso de Tylenol em gestantes publicada na revista científica "Environmental Health", em agosto deste ano. A revisão fala de possíveis efeitos no desenvolvimento neurológico das crianças. >
Parte das pesquisas, que foram conduzidas por pesquisadores de Harvard, encontrou indícios de risco de TDSH e autismo na associação com a medicação. No entanto, outra parte dos estudos não confirmou essa relação. >
Para Didier Prada, um dos autores da pesquisa, mesmo variações pequenas no risco podem gerar grande impacto em saúde pública, dada a utilização generalizada do medicamento. Ele e outros cientistas, no entanto, ressaltam que os dados apontam associação, mas não estabelecem uma relação direta de causa e efeito.>
Especialistas também pedem moderação nas conclusões. Andrew Whitehouse, professor do Kids Research Institute, na Austrália, afirmou que “autismo é uma condição complexa, influenciada por múltiplos fatores genéticos e ambientais. As pequenas associações encontradas até hoje não provam que o paracetamol cause a condição”. Ele lembra ainda que a febre não tratada durante a gravidez também pode trazer riscos tanto para a mãe quanto para o bebê.>