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Millena Marques
Publicado em 13 de agosto de 2025 às 05:00
Ele promete reduzir o tempo de deslocamento em mais de 1h e é uma das principais apostas da Prefeitura de Salvador para avançar em melhorias no transporte público da cidade. O teleférico do Subúrbio é um modal complementar que ligará os bairros de Praia Grande e Campinas de Pirajá em um trajeto de 4,3 quilômetros, com quatro estações. As obras devem ser iniciadas no primeiro semestre de 2026 e finalizadas em três anos. Ao CORREIO, a presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield, deu detalhes sobre a implementação. >
A FMLF, órgão municipal responsável pela coordenação e elaboração de planos urbanísticos e projetos urbanístico e arquitetônicos dos principais espaços e equipamentos públicos da capital baiana, é responsável por elaborar o projeto do teleférico O material deve ser entregue à Superintendência de Obras Públicas (Sucop) no final deste mês. >
Teleférico do Subúrbio
As quatro estações serão instaladas em Campinas de Pirajá (ao lado da estação do metrô), no centro de Pirajá, no Rio Sena (dentro do Projeto Mané Dendê) e em Praia Grande. No total, serão 27 torres. Em alguns pontos, a altura do equipamento chegará a 45 metros. Ele deve funcionar de domingo a domingo, com a tarifa incluída no modelo de integração atual e cabines panorâmicas com vista para a Baía de Todos-os-Santos.>
A obra é complexa e exige um planejamento para além da construção civil. "Nós temos que fazer um trabalho grande na área social, entendendo que a população de Salvador que vai ser beneficiada com o teleférico não conhece o equipamento. A gente precisa fazer essa comunicação, fazer reuniões com as comunidades que serão diretamente beneficiadas", diz Tânia. De acordo com a presidente da fundação, os estudos complementares devem ser finalizados em dois meses. >
Algumas famílias serão realocadas para que o projeto seja implementado. No entanto, poderão às residências após a finalização das obras. "Eu posso construir uma torre onde fica uma casa, mas posso reconstruí-la depois porque toda manutenção do teleférico é aérea. Então, depois da implantação da torre, tudo pode ser reconstruído" explica Tânia. Os impactados receberão orientações e apoio da prefeitura. >
As cabines serão projetadas para uma média de 10 passageiros. Ainda não há informações sobre quantas unidades farão parte do projeto. As informações mais precisas só serão divulgadas a partir da licitação. No entanto, há uma estimativa de que o teleférico transporte cerca de quatro mil pessoas por hora nos dois sentidos.>
A gestão do modal deve ser feita por uma empresa privada, aos moldes da concessão feita entre o Governo do Estado e o Grupo CCR, que administra o Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas. "É muito difícil para a prefeitura e para o estado fazer a gestão desses modais", diz Tânia.>
Hoje, quem mora nos bairros mais altos do Subúrbio, a exemplo do Alto da Terezinha e de Plataforma, gasta entre 1h e 1h30 para chegar à estação de metrô de Águas Claras. Com o teleférico, esse tempo será reduzido para 18 minutos. "É uma economia de tempo que o passageiro vai ter. Quem mora no Subúrbio e quer vir ao Centro da cidade. Hoje, o morador faz um retorno grande pela BA-528, que é uma via de tráfego intenso", diz Tânia. >
Além de reduzir o tempo de deslocamento dos moradores do Subúrbio, estima-se que muitos empregos serão gerados com o projeto. "São muitas vagas de emprego. São 27 torres a serem construídas. Eu digo que tem dois períodos de geração de empregos: o período de obra e depois o funcionamento do equipamento", pontua. >
O valor do projeto ainda será alçado pela Sucop, que depende da finalização do projeto para ter dados exatos dos custos. A previsão é de o orçamento seja definido em até três meses. O projeto será feito em parceria entre a Prefeitura de Salvador e o banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF). Em abril deste ano, um contrato no valor de US$ 125 milhões (cerca de R$ 900 milhões) foi assinado. >
O prefeito de Salvador, Bruno Reis, destacou a importância desta parceria com o CAF. “Agora, vamos poder construir o primeiro teleférico de Salvador, uma obra importantíssima em mobilidade para regiões carentes da cidade. Também iremos implantar, no subúrbio, o Hub de Inovação e o Centro de Controle e Operações da Prefeitura, que irão funcionar no mesmo prédio e, com isso, será possível fazermos políticas públicas mais eficientes e acompanharmos o dia a dia da cidade de forma imediata, tendo o controle maior das ações e da gestão pública”, afirma o prefeito.>
Além do teleférico, o acordo firmado com o CAF inclui a ampliação de projetos de qualificação profissional, como Treinar Para Empregar, Salvador Tech, Salvador Criativa e Geração SSA, que já capacitou mais de 60 mil pessoas em sua primeira fase. A meta é formar 100 mil profissionais para o mercado de trabalho. Também estão previstas ações de inovação urbana, como a implantação do Observatório Salvador (Centro de Controle Operacional) e do Hub de Inovação e Tecnologia, ambos no Subúrbio.>
A ideia de um modal complementar surgiu há alguns anos. Os teleféricos de Medelín, na Colômbia, e da Cidade do México, no México, serviram como inspirações para o projeto que será implementado em Salvador. "Nós não tínhamos conhecimento de projeto de teleférico. Fomos para Colômbia e para Cidade do México buscar esse conhecimento", diz. As viagens foram feitas em 2019 e 2022.>
Nas duas cidades, os projetos são considerados de sucesso. Para se ter uma ideia, o MetroCable, como é chamado o teleférico de Medellín, ganhou destaque em conferências sobre cidades sustentáveis nos últimos anos. Construído em 2005, o equipamento colombiano conecta o centro da cidade às extensas favelas no topo dos bairros. >
“Medellín percebeu que o transporte público era forma de inclusão social. Encontrávamos longas distâncias entre as populações do norte (parte mais pobre) e do sul da cidade. Elas levavam muito tempo nas viagens e, como o serviço era muito ruim, percebemos que afetava a qualidade de vida”, disse Pablo Guzmán, ex-subdiretor de Relações Locais e Internacionais Agência de Cooperação e Investimento de Medellín e Região Metropolitana em conferência no Brasil, em 2015.>