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Faustão está no 4º transplante: especialista explica os riscos

Ao CORREIO, o cirurgião-hepatopancreatobiliar Leonardo Fernandes Canedo explica os riscos dos múltiplos transplantes

  • Foto do(a) author(a) Millena Marques
  • Millena Marques

Publicado em 8 de agosto de 2025 às 13:50

Faustão
Faustão Crédito: Reprodução SBT

Ícone da TV brasileira, o apresentador Fausto Silva foi submetido a dois novos transplantes de órgãos na quinta-feira (7), totalizando quatro em menos de um ano. De acordo com o Hospital Albert Einstein, onde o comunicador está internado, os dois últimos procedimentos foram de fígado e de rim. Mas, afinal, existe perigo em realizar transplantes sequenciais? Ao CORREIO, o cirurgião-hepatopancreatobiliar Leonardo Fernandes Canedo explica os riscos dos múltiplos transplantes.

Quais são os riscos ao realizar múltiplos transplantes sequenciais?

Os riscos de realizar múltiplos transplantes sequenciais sempre serão elevados. O transplante, independentemente de qual for o órgão, é um procedimento de alta complexidade e, inevitavelmente, é um paciente que possui algumas questões específicas do transplante como a imunossupressão, que já o torna susceptível com a quantidade de complicações maior do que muitos outros procedimentos habituais.

Quantos transplantes podem ser feitos sem comprometer a saúde?

Na verdade, quando se indica um transplante, significa que existe uma falência irreversível de algum órgão. Então, o indivíduo já tá com a saúde comprometida e o objetivo do transplante é justamente recompor a saúde através da troca ou do acréscimo de um órgão.  É uma forma a reestabelecer uma fisiologia normal.

Em que situações um transplante pode sobrecarregar ou comprometer outro órgão?

Bom, o transplante, qualquer que seja ele, é um procedimento de grande porte, alta complexidade, e, não só pelo procedimento cirúrgico em si, que acaba levando a uma série de modificações clínicas hemodinâmicas, podem interferir em outros órgãos, como também as diversas medicações necessárias, como, por exemplo, os imunossupressores, que são indispensáveis a qualquer transplante que pode interferir, por exemplo, na função renal. Então, existe uma inter-relação dos diversos órgãos e, por vezes, para que se tenha sucesso em restabelecer a saúde do paciente, se faz necessário o transplante de mais de um órgão, ou transplantes.

Faustão por Reprodução

Como uma complicação como a sepse pós-operatória interfere no sucesso da cirurgia de transplante? Como é a recuperação e quanto tempo leva?

Sepse é uma infecção que já ganhou a corrente sanguínea, uma infecção que extrapolou o local onde ela foi iniciada, é uma das principais complicações do pós-operatório de um transplante, até porque, além do paciente já está normalmente debilitado, é um paciente que já passou várias vezes no hospital, eventualmente faz diálise, como os pacientes portadores de doença renal crônica ou no paciente hepatopata crônico, é um paciente imunodeprimido porque o fígado é o maior órgão imunológico do corpo, então é um paciente desnutrido normalmente, imunodeprimido, então é um paciente mais susceptível a infecção.

Então, sepse é uma complicação grave. Para isso, temos que ter uma série de cuidados não só técnicos e cirúrgicos, mas também pré-operatórios. A participação de uma equipe de infectologia dedicada ao transplante que entende essa discussão das possíveis complicações infecciosas e as interferências com as diversas medicações necessárias ao transplante, é fundamental para o sucesso e para que o paciente possa se restabelecer de uma eventual infecção.

Quanto à recuperação e quanto tempo leva, isso é muito variável. Tem infecções mais simples e tem infecções muito importantes e vale dizer que as infecções não são só por bactérias, essas infecções podem ser infecções virais, né? Podem ser, muitas vezes, causada por bactérias multirresistentes. Então, o mais importante é poder controlar o foco da infecção, qualquer que seja ele, usar o antibiótico específico para o tratamento e ajustar as medicações, como a medicação de imunossupressão, de forma a não impedir que o corpo reaja à infecção e ao mesmo tempo não permitir que o corpo rejeite aquele órgão. Então, é uma balança, e esse é apenas um dos cenários que demonstra a complexidade do que é o transplante.

Quais os mecanismos fisiológicos que podem levar à falência de um órgão após o transplante de outro?

Bom, os mecanismos fisiológicos são aqueles que eu já comentei, que diz respeito à lesão de isquemia e reperfusão, algumas alterações, algumas complicações, principalmente complicações vasculares no pós-operatório ou eventualmente o uso de medicações que comprometam e que interfiram no funcionamento adequado do órgão, que eventualmente muitas vezes por mecanismos multifatoriais acabam levando ao desenvolvimento da falência do órgão.

Leonardo Fernandes Canedo é professor Associado da Universidade Federal da Bahia (Ufba), doutor em cirurgia pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em cirurgia Hepatibiliar pela Universidade de Paris e coordenador do serviço de Transplante hepático do Hospital São Rafael.