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Millena Marques
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 14:27
Sociedades médicas passaram a enquadrar a pressão arterial entre os valores 12 por 8 e 13,9 por 8,9 como pré-hipertensão. A medida, divulgada em um documento na última quarta-feira (17), visa dar mais atenção médica para os casos em que a pressão está alta. Mas, afinal, o que muda na prática? O médico cardiologista Emerson Porto, diretor cientifico da Sociedade Norte-Nordeste de Cardiologia, responde às dúvidas abaixo. Confira:>
O que significa essa mudança na prática?>
Na prática, o que aconteceu foi que à medida que a ciência foi evoluída, novos estudos foram sendo publicados, começou a se observar que pacientes que têm pressão entre 120 e 139, que antes eram considerados como indivíduos normais, esses indivíduos têm risco aumentado de doença cardiovascular de um modo geral, principalmente quando comparados com indivíduos que têm pressão abaixo de 120 milímetros de mercúrio. Portanto, esses pacientes não poderiam deixar de ser classificados como portador de alguma alteração na pressão arterial. Na realidade, eles não são considerados indivíduos portadores de hipertensão, mas ser indivíduos considerados como indivíduos pré-hipertensos ou em algumas diretrizes com pressão elevada. Então, na realidade, na prática, isso veio da observação de novos estudos que mostram que indivíduos com pressão acima de 120 milímetros de mercúrio têm um risco cardiovascular aumentado.>
Pessoas com pressão 12x8 terão que tomar remédio? >
Quanto aos pacientes que têm pressão entre 120 e 130 milímetros de mercúrio e diastólico entre 80 e 89, que é praticamente indivíduos que têm pressão entre 12 por 8 e abaixo de 140 por 80, entre 120 por 80 e 140 por 80, nem todos os pacientes que têm esses valores de pressão arterial precisarão tomar remédios. Mas quais são os pacientes que precisarão tomar medicação que estejam nesse subgrupo? Pacientes que têm um risco cardiovascular elevado. E como é que o cardiologista sabe disso? Utilizando determinadas ferramentas científicas para estimar o risco do paciente de ter AVC, infarto ou qualquer evento cardiovascular nos próximos 10 anos.>
Esses indivíduos são considerados e são classificados em pacientes de baixo risco, moderado risco, elevado e muito elevado. Aqueles pacientes que têm um risco elevado ou muito elevado, automaticamente já precisam iniciar um tratamento para hipertensão. Risco moderado, esses pacientes ainda precisarão ser restratificados, ou seja, se esses indivíduos forem diabéticos, esses indivíduos já tiveram infarto, esses indivíduos tem alguma outra doença estabelecida, doença renal, esses pacientes também precisarão utilizar medicação, mas os demais pacientes que não estejam nessa classificação de risco, eles não precisarão utilizar medicamento para hipertensão, precisarão ser acompanhados com a certa periodicidade apenas.>
Qual a ideia por trás da mudança?>
A ideia por trás dessa mudança é porque, apesar de todos os esforços que estão sendo feitos, as doenças cardiovasculares ainda são a principal causa de morte no país inteiro. Na realidade, no país inteiro não, no mundo inteiro. Então, de alguma sorte, mesmo com os avanços da terapia, surgimento de novos medicamentos, as doenças cardiovasculares continuam no topo e também, uma vez que se observou, que esses pacientes com pressão nessa categoria também podem ter um risco cardiovascular mais alto e precisam de tratamento, e já tem alguns estudos demonstrando que tratar esses pacientes reduz desfechos clínicos, então reduz o risco de infarto, reduz o risco de AVC, e a gente não poderia deixar esses pacientes sem serem tratados. Então o que tem por trás dessa mudança é basicamente isso.>
Quando é hora de começar a tomar remédio para pressão?>
A hora de tomar medicamento de pressão é quando você tem uma pressão arterial acima de 140 por 90 milímetros de mercúrio. Abaixo disso, entre 120 e 139, eu já expliquei na pergunta 1. Mais um detalhe interessante é importante frisar e ressaltar bastante que não são medidas isoladas de pressão a isso que as diretrizes estão se referindo. Esses valores de pressão arterial é a pressão arterial que é vista na Mapa, ou através do MRPA, porque as medidas feitas em casa ou as medidas feitas em consultório têm uma chance de erro que é uma chance relativamente alta, que é o que a gente chama de hipertensão do jaleco branco. A chance de erro pode chegar a 33% pelo que os estudos mais recentes evidenciam. Então, isso a que a diretriz se refere é baseado na Mapa ou no MRPA e não nas medidas casuais que são feitas em casa ou em consultório.>
Quais são as novas metas de tratamento da hipertensão?>
As metas são exatamente também parecidas com os valores que a gente começa a considerar o indivíduo como doente. Então, nos pacientes que são hipertensos, a meta pressórica hoje é reduzir a pressão arterial desses pacientes para valores abaixo de 130 por 80, exceto em pacientes muito idosos que você ainda pode ter um limiar um pouco mais elevado, mantendo esses pacientes com pressão abaixo de 140 por 90 milímetros de mercúrio, se o paciente idoso não tolerar valores de pressão arterial abaixo de 130 por 80. Mas, universalmente, o objetivo é trazer os valores de pressão arterial para valores abaixo de 130 por 80 milímetros de mercúrio, mas mais uma vez frisando: tudo isso é avaliado através da MAPA e não através de medidas isoladas de pressão feita em casa ou em consultório.>
Quais mudanças no estilo de vida são recomendadas para controlar a pressão? O que deve comer quem tem pré-hipertensão e hipertensão?>
A mais importante de todas é a perda de peso. De todas as medidas não farmacológicas, ou seja, a mudança de estilo de vida que tem o maior impacto na redução da pressão arterial é a perda de peso. Portanto, os pacientes hipertensos ou aqueles pré-hipertensos são recomendados que percam peso. A segunda medida mais importante no paciente hipertenso é reduzir o consumo de sal. Então, o consumo de sódio, não só de sal de cozinha, mas em alimentos que são ricos em sódio, como alguns alimentos embutidos. Essa é a segunda medida que tem o maior impacto na redução da pressão arterial. A terceira medida é a realização de atividade física, principalmente atividade física aeróbica, que também tem um impacto na redução da pressão arterial. Além disso, é recomendado também mudanças de hábitos alimentares, não só restrição de sódio, como ter uma dieta saudável.>